terça-feira, 31 de julho de 2007

Os nomes do Pan


Senhores esportistas e amantes do esporte

Quero dizer que esses 16 dias foram para mim muito especiais. Mesmo que muitos de vocês insistam em ressaltar a minha pequenez diante da nave-mãe Olímpia. Não faz mal. O importante é que emoções eu vivi.

No entanto, esse nome que vocês me deram - Pan - é curto demais para a minha importância. A bem da verdade, sou um só, mas tenho várias identidades ao mesmo tempo.

Me chamo Saretta, a fênix que ressurgiu de tantos match points. Venci a mim mesmo e garimpei o ouro. Sob as bênçãos da raça de Fininho. Sou, ao mesmo tempo, Franck, a caldeira fervente. Todos esperavam Vanderlei, mas disparei e levei a maratona. Como Poliana, acreditei que tudo daria certo. Por um braço, quase deu.

Sou o Thiago de tantos Thiagos. Monteiro, fui esteio da glória do velho mestre Hoyama. Pereira, fiz todo o mundo comer poeira. Camilo, transformei o caminho suave em música. Todos os oponentes dançaram bonito. E o canto que se ouviu daquele bravo Flávio foi o de guerra. Se é pra sucumbir, que seja com luta. Mas assumi outras identidades vencedoras, como Derly, Edinanci e Danielle. Em outro tatame, chorei como Natália, que viu o ouro tão de perto... e ele escorreu pelas mãos. Das piscinas, dou a Cesar o que é de César: el cielo, que pertence também a Rebeca.

No atletismo, pai do espírito olímpico, ganhei nomes pouco usuais. Maurren, incansável, não arrefeci ante tantas provas e experimentei a redenção. Keila, em meu brilho prateado, glorifiquei uma trajetória de futuro. Na pele de Hudson, me tornei a fera traiçoeira dos mil e quinhentos. Mansa no início, implacável no final. Em Jadel, do primeiro salto, vi os oponentes de binóculo. Ve vesti também de Sabine que, como Maurren em Winnipeg, saltou as barreiras como se vencesse a vida. Marílson, o senhor das ruas de Nova York, não venci. Mas convenci.

Mas sou também Fábio e Fabiana, esses voadores maravilhosos. Me chamei, ao mesmo tempo, Vicente, Rafael, Basílio e Sandro, um misto de orquestra e velocidade. Como fui Juliana Gomes. Com Hudson, ela fez os mil e quinhentos ser território nacional.

Meu nome é Yane. Para dar o fruto de um trabalho de quatro anos, me dividi em cinco. Fui amazona e espadachim. Corri, nadei e atirei. Já sob a égide de Marcel Sturmer, deslizei.

Já da alcunha Janeth, devo me despedir. Aos 38 anos, é uma pena que o último vestígio da Era Hortência/ Paula tenha saído de cena com derrota.

E sou Chana. Ei! Não é nada disso que você está pensando. Este é o nome da goleira do handebol bi-dourado. Como também sou Bruno, Souza e Santana, e Maik. Mais uma vez, botamos a Argentina de joelhos. Todos verdadeiros gigantes. Como Falcão e companhia. Conosco, mais ninguém viu a cor da bola. E, no heróico pólo aquático, me senti Pará.

De outros nomes, sequer cheguei a usufruir. Ricardinho, o maestro do vôlei, foi barrado no último instante. Jacqueline levou gancho por doping. Luis Marcelo, o Lulinha, bem que tentou brilhar. Mas a maior idade dos equatorianos não permitiu. Como não pude me apropriar de nenhum nome do vôlei feminino. A grandeza do time de Paula Pequeno depende de anteparo psicológico. E, de novo, ele as abandonou. Como também não pude ser Daiane, que se machucou.

Sou Diogo e Diego. Pantera negra, abri com os pés o caminho dourado. Como desenhei o próprio corpo no ar para vencer. Assim como o guerreiro Mosiah.

Mas nada me orgulhou tanto quanto encarnar uma pequena pedra preciosa. Prata da casa, qual pérola me vi ferida. Chorei! Mas não me entreguei. Qual diamante, me lapidei. Sorri. De um salto, virei ouro. Como Diego, decolei para fazer arte no céu. Como Diogo, logo cedo me vi privada de um ente querido. Como Maurren, dei a volta por cima. Do alto de meus 16 anos, Jade é a síntese de tudo.

São tantos eus e vocês que fizeram a minha memória. Peço milhões de desculpas por não citar todos os meus 659 nomes. Mas agradeço por ter sido, aos vossos olhos, um pouco de consolo e alegria. Como um certo presidente de vocês, saio da vida e abro as portas da história. A gente se vê lá.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Saretta volta a encarnar a fênix


O último dia do Pan foi de Flávio Saretta.


A final contra o chileno Adrian Garcia era para ser no sábado. Mas a chuva temporã castigou Marapendi.


No final das contas, a partida aconteceu no Centro de Treinamento Amil, no Recreio dos Bandeirantes.


E o paulista de Americana acabou com a minha adrenalina. Alternava grandes momentos com erros bastante incompreensíveis.


Venceu o primeiro set por 6/3. No segundo, vencia por 3 a 2 e tinha o saque. Mas perdeu. 6/4 para Garcia.


Aí, veio o terceiro set.


Garcia chegou a ter o jogo nas mãos: 5 a 3 e dois match points. Mas Saretta decidiu, mais uma vez, encarnar a fênix da semifinal, quando esteve à beira de ser eliminado pelo argentino Eduardo Schwank, e levar a partida para o tie break.


E aí, ele se centrou, assumiu o domínio mental do game decisivo... e levou o ouro.


Mas depois de quase matar os torcedores do coração.


A medalha é merecida. Saretta é um tenista promissor. Um jeito explosivo que se quer vencedor. Muitas vezes, injustiçado.


Num jogo contra Gustavo Kuerten na Costa do Sauípe, Saretta foi tratado como estrangeiro. Houve até quem o chamasse de "argentino". Ele perdeu a paciência e pediu respeito. Numa situação assim, eu agiria do mesmo jeito.


Volto no tempo e me recordo de ter acompanhado de perto o primeiro Aberto de São Paulo, challenger que acontece sempre ao raiar do ano. Saretta havia vencido André Sá nas semifinais. Aproveitei a carona do Sportv e pedi uma entrevista. Ele foi muito receptivo.


Repeti a dose no dia seguinte, quando venceu Guillermo Coria (esse sim, argentino) na decisão.


Como ninguém é perfeito, Flávio Saretta é palmeirense.


Tudo bem. Depois do ouro de ontem, tá perdoado.
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- Achei bastante infeliz o Uol destacar como "papelão" a derrota do futebol masculino. Tratava-se de um time de adolescentes encarando adultos. E, de 17 para 20 anos, a diferença é grande. E o Equador, algoz do Brasil, ainda se valeu dos três jogadores acima de 23 anos a que tinha direito. Pra mim, a derrota foi algo absolutamente normal.
- Entre as dez beldades do Pan... nenhum negro. Será que devo me acostumar com a eterna europeização da beleza? Sinto muito, mas não consigo.

domingo, 29 de julho de 2007

O Pan chega ao fim

Terminou a 15ª edição dos jogos Pan-Americanos. Com um saldo amplamente favorável ao país. Primeiro, pela organização, muito elogiada por jornalistas e atletas estrangeiros. A única bola fora aconteceu na cidade do rock, com os campos de softbol e beisebol. Um campo lamacento, estruturas frágeis e falta de proteção à torcida das boladas.

Alguns setores da torcida também vacilaram. No judô, o tempo fechou bonito. Uma decisão discutível da arbitragem deu o ouro à cubana Sheila Espinoza sobre a brasileira Érika Miranda. O treinador cubano resolveu provocar a torcida. E a briga se instalou. Sem contar que, na ginástica artística, há quem diga que o ouro de Mosiah Rodrigues se viu manchado pelas vaias da torcida aos seus concorrentes, que acabaram por cometer erros.

É preciso não perder de vista que o gaúcho é um lutador. Antes da ascensão de Diego Hipolyto, viajava sozinho para as competições. E merecia um prêmio pela perseverança.

Mas a torcida fez bonito, também. Na ginástica rítmica, a canadense Alexandra Orlando deu o azar de ver a sua fita se desfazer. Improvisou, e arrancou aplausos da torcida... que pediu que a moça tivesse uma nova chance.

DESEMPENHO

Ainda não deu pra tirar o segundo lugar de Cuba. Mesmo assim, a figura feita pelos anfitriões foi melhor do que se esperava. Queria ficar na frente do Canadá, eterno adversário na disputa pelo terceiro lugar. E conseguiu com folga: quinze medalhas de ouro de diferença.

EUFORIA

Que não podemos nos iludir com as vitórias, eu já estava careca de saber. Mas a grande função do Pan é revelar potenciais ídolos do esporte - que deverão provar o seu valor em competições maiores. E foi o que aconteceu.

- No taekwondo, queríamos ver Natália Falavigna. Ela bem que foi pra final, mas perdeu nos segundos finais. Acabamos por reverenciar Diogo Silva, o primeiro ouro do Pan.
- Na natação, os olhos estavam voltados para Thiago Pereira, Kaio Marcio e Rebeca Gusmão. Eles confirmaram todas as expectativas. Mas quem roubou a cena foi Cesar Cielo, que, nos 50 metros livre, ficou a apenas 2 décimos do recorde mundial.
- Na ginástica, a linha de frente era formada por Diego e Daniele Hipólyto... e pela expectativa acerca da participação de Daiane dos Santos. Mas o coração dos brasileiros foi arrebatado por uma prata da casa: Jade Barbosa. Que, em menos de 24 horas, chorou, sorriu e conquistou.

É por essas e tantas outras que o Pan do Rio não passará incólume na memória esportiva brasileira.

sábado, 28 de julho de 2007

Uma questão de experiência

Já falei aqui, numa outra ocasião, sobre as vaias no Pan. O assunto já virou rotineiro em tudo quanto é roda de discussão. Ocorre que os tais apupos têm faces diferentes em cada esporte. Em alguns, ela é válida e até faz parte do show. Em outros, não é bem-vinda.

Entretanto, me rendo a André Petry. Em, coluna escrita na semana passada, ele criticou Oscar Schmidt, que "secava" os ginastas estrangeiros. É compreensível quando o torcedor, tão desacostumados a eventos desse porte por aqui, seja o autor da deselegância. Mas, quanto quem exagera é o atleta, não é legal.

Oscar alega que já foi muito vaiado quando na ativa. Mas ele jogava basquete, um daqueles esportes em que o atleta tem de saber lidar com a torcida adversa. E a ginástica faz parte do grupo em que este tipo de torcida é antidesportiva.

No final das contas, creio que esse tipo de manifestação decorre mais de uma inexperiência, já que o último Pan que o Brasil sediou aconteceu há 44 anos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

A redenção de Maurren


Já se vão nove anos que esta irreverente, que pintava nas unhas a bandeira do Brasil, se pintava de dourado. Nome esquisito. O pai gostava de uma canção dos Beatles chamada "Maureen". Mas, na hora do registro, o escrivão cometeu um erro: ficou Maurren Higa Maggi.


Favorita no salto em distância, cumpriu à risca o script. E ainda assim não deixou de surpreender. Conquistou uma inesperada e emocionante prata nos 100 com barreira. Sagrou-se a esportista daquele ano.


Mas depois disso, os ventos começaram a soprar contra. No mês seguinte ao Pan, foi à final do mundial de Sevilha. Mas não passou de um oitavo lugar. A espanhola Niurka Montalvo, Fiona May, da Itália, e a norte-americana Marion Jones ficaram com as medalhas.


No ano seguinte, acabou sendo varrida pela bruxa que assolou os atletas brasileiros, que não conseguiram nenhum ouro. Que bruxaria cruel! Uma grave lesão a impediu de competir com plenitude.


O pior ainda estaria por vir: durante a disputa do troféu Brasil em 2003, foi encontrada a substância proibida Clostebol Metabolite, existente em um creme cicatrizante que passara após uma depilação. O mundo caiu. Dois anos de suspensão e a ausência em Santo Domingo.


Madura e, ao mesmo tempo, magoada, ela voltou. Um novo amuleto juntou-se ao inseparável Leão: a filha Sofia. E no Pan do Rio, venceu de novo: 6,84. Como se felicidade não bastasse, Keila Costa ficou com a prata.


Uma aplaudida volta olímpica é um merecido troféu para essa grande atleta. E o microcosmo de sua volta por cima.


Obrigado, Maurren, por não se entregar.

Jesus Cristo é universal

Quem me conhece sabe que sou assíduo sacerdote de uma comunidade espiritualista. Lá, um dos fundamentos básicos é o respeito a todas as religiões, pois acreditamos que todas elas têm uma missão.

Infelizmente, isso não é regra geral. Muitos seguidores de outros credos consideram o espiritismo "coisa do demônio". Já os católicos - pelo menos os mais conservadores - se consideram os únicos representantes de Cristo. Estes, ao reivindicar Jesus só pra si, não tentam contra as demais religiões. Mas diminuem o próprio Messias, grande demais para permitir que sua palavra seja propagada por um único grupo de pessoas.

É certo que sei, também, que esta é uma idiossincrasia típica dos homens. Não tem nada a ver com as crenças em si.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A saga dos veteranos



O Jovem Pan do Rio viveu ontem a epopéia de dois veteranos. Uma viveu o seu ápice. A outra, um fim que não fez jus ao seu desenrolar.


A derrota para os Estados Unidos no basquete feminino entristeceu. Não pela perda do ouro. Mas porque Janeth merecia terminar sua trajetória com um triunfo. Ela era o último grão de uma areia que já se perdeu no passado: a era de ouro das magas Paula e Hortência. Um apogeu que rendeu um título pan-americano, um mundial, uma prata e um bronze olímpicos.


Infelizmente, elas ainda não encontraram sucessoras à altura.


Mas um brasileiro chamado Hoyama desencantou. Na primeira partida da disputa do tênis de mesa por equipes - uma versão menor da Copa Davis - ele perdeu para um argentino de nome... Song Liu???? Pois é...


Mas o time deu a virada. Thiago Monteiro sofreu, mas derrotou Gaston Alto (agora, sim). E, nas duplas, ele e Gustavo Tsuboi passaram por Alto e Pablo Tabachnik (hã???).


Hoyama, o Hugo, foi presenteado pela chave de ouro. Mais dourada do que nunca, o nosso bravo bateu Tabachnik.


Com a vitória, ele supera outro gigante, Gustavo Borges, e se torna o maior medalhista brasileiro da história do Pan.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Vaia ou não vaia?

O Pan do Rio tem se mostrado pródigo em algo que nós já estamos carecas de ouvir por aqui: vaias. De Lula aos atletas estrangeiros - e até alguns brasileiros - muitos foram agraciados.

Sobre os apupos ao presidente, é exagerado tachar a torcida de desrespeitosa. Lula fora avisado do risco.

E o Brasil não é a Coréia do Norte.

Houve, no entanto, um certo exagero por parte da torcida em alguns aspectos. Na ginástica, Mosiah Rodrigues teria sido beneficiado pela manifestação dos brasileiros. As vaias desestabilizaram os norte-americanos.

Não precisa disso.

Todo esporte tem lá as suas normas de conduta, que devem ser respeitadas. A ginástica e o tênis, por exemplo, requerem silêncio. E as vaias brasileiras passaram do ponto.

Por outro lado, não há o problema que tantos falam quando o assunto é atletismo, que é praticado num ambiente aberto - o estádio - e é impossível não fazer barulho.

Aí, amigo, sinto muito. Se não souber lidar com isso, pára de competir.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Vale a pena ler de novo

Vamos à reedição de mais um texto do blog antigo

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11 anos sem Jairo

Já era noite nos céus de São Sebastião. Longe dos caiçaras de Juquehy, ele me mostrava a sua casa na praia. Uma construção retangular, de madeira gasta e tranqueiras no chão.A desordem pode explicar em parte o que foi a vida de Jairo. Ele tinha ojeriza a regras. Dinheiro era pra ser curtido. A vida, pra ser degustada em altas doses. No filho Pedro Guilherme, um retrato físico fiel. E o grande amor da sua vida.O passado relembrava, mas não lhe dava culto. O futuro, desprezava. Enfim, transpirava o hoje. O agora em pessoa.Arquiteto intuitivo e genial, não chegou a cursar uma faculdade. Mas planejou aquela casa genial de Ibiúna. Cidadão sem raízes, morou em lugares tão diferentes quanto Recife, Belo Horizonte e Paris. Pulsante alma preto-e-branca. Virava e mexia, ia assistir ao seu Corinthians. Sofreu com a perda do tri, em 84, para o Santos. Cinco anos depois, levava o garoto, este que vos fala para assistir a um embate contra o Flamengo, ainda de Zico e Junior, no Pacaembu. Era preciso reverter a derrota por 2 a 0 sofrida no Maracanã. Bom tempo em que não havia ainda arquibancada especial. Era tudo uma coisa só. "Vamos para o lado que o Corinthians ataca", disse.Das amarelas viram os dois o Neto abrir o placar num gol olímpico. Mas o Galinho tinha de complicar as coisas... empatou de cabeça cinco minutos depois.No segundo tempo, os dois foram para a laranja. Bem ao lado da torcida dos caras. E o Curingão resolveu matar o jogo. Dida, Eduardo e Neto de novo. 4 a 1. Bastava para seguir em frente. Junior acabou com a festa. Bateu na saída de Ronaldo e sacramentou a eliminação da Copa do Brasil.Seria uma injustiça que, de tantas aventuras futebolísticas, uma não terminasse em triunfo. Os garotos dos juniores disputavam com a Portuguesa uma vaga na final da Copa São Paulo. A campanha fora brilhante. Por isso, o velho Paulo Machado estava lotado. Mas um jogo decisivo tinha de ter um ingrediente tão caro e ao mesmo tempo ingrato para o corintiano: o sofrimento. Retrancada, a Lusa não deixava o gol sair. O nó da garganta só se liberta às altas horas da prorrogação. Mas, enfim, a vitória chegou.O carnaval também tem lugar cativo nessa história. Ainda que doente, ele estava lá, com aqueles colares característicos dos carnavais. Fomos ao desfile das escolas de samba de 94, com o Anhembi ainda inconcluso. O corintiano e salgueirense confessou com orgulho a paixão por uma verde e branco. "Sou Camisa! É o único verde de que gosto." As egressas do Acesso, Unidos de São Miguel e Primeira da Aclimação desfilaram antes de a noite cair. Mas a Peruche, que cometeu a imprudência de retratar Exu como um demônio, teve de se apresentar sob as águas. A chuva castigou também os folhetos com as letras dos sambas. Para um neófito, era impossível acompanhar o desfile assim.Como se abrisse uma passagem, o aguaceiro deu uma trégua para a Mocidade Alegre. Mas chuviscou para as escolas que vieram depois. Ainda assim, não impediu que a Leandro de Itaquera fizesse o melhor desfile de sua história. Sob as águas, a exaltação ao Rio Tietê. E a Vai-Vai, que falava do fogo, decepcionou. Assim como Rosas de Ouro e Angela Maria. A Sapoti brigou com o presidente da escola e não foi pra avenida. A Roseira, com uma alegoria a menos, não fez uma apresentação a sua própria altura. O Camisa de seu coração e a Nenê de Vila Matilde, foram bem. (Esta, eu tive de ver debaixo do concreto). Mas não memoráveis como outrora.Já sem chuva, a Gaviões da Fiel fez o samba alvorecer. Ousou bater à porta do clube das grandes do carnaval de São Paulo com uma apresentação espetacular. Mas não venceu! Uma absurda nota 6 para a letra do samba deu o título... à Rosas de Ouro.Dois anos depois, a falta de regras cobrou o seu preço. Lá se vão exatos 11 anos que Jairo Benedito da Silva se foi. Levou consigo e ao mesmo tempo deixou toda aquela alegria de viver.

Esse é um momento propício para reviver o texto de um tio.

Já que estou prestes a assumir o posto

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Vôlei feminino decepciona. De novo!


Ainda na esteira da já conhecida amarelada do vôlei feminino, vai aqui um texto da antiga Confraria. Data do mundial do Japão do ano passado.

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Depois do vexame histórico de Atenas, resolvi quebrar a promessa de só torcer pelo vôlei feminino na final. Assisti ao jogo contra a surpreendente Sérvia e Montenegro e até gostei do que vi.
Desagradável surpresa foi a final.
No primeiro set, um ótimo 25/15. Depois, as fortes mas limitadas russas viraram o jogo. Aí, as brasileiras acordaram e levaram a partida para o tie break.
Eis que um importante 13/11 em um set equilibrado é desperdiçado pela Jaqueline. Como em outras duas vezes, ela não teve inteligência para jogar marcada por um bloqueio duplo.
De quebra, a bela jogou o título pelo ralo.
Porque as russas tomaram conta dos momentos finais e venceram por 15/13
Mais uma vez, derrotadas pelo emocional.

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Pois é... aconteceu de novo.

Existem derrotas e derrotas.

As equipes de hóquei sobre a grama foram massacradas pelos rivais argentinos. Mas o hóquei é um esporte que ainda sequer engatinha, por pura falta de apoio em governos anteriores.

Jade Barbosa caiu nas barras assimétricas. Mas tem apenas 16 anos. E, até o Pan, nunca havia competido debaixo de tanta pressão.

O vôlei é o contra-filé do esporte brasileiro (o filé mignon é o futebol). Os atletas de ponta estão longe de viver em condições precárias e têm um incentivo fenomenal.

Portanto, devem aceitar a cobrança com a mesma intensidade. E a equipe masculina lida muito bem com isso.

O time de vôlei feminino é tecnicamente muito bom. Se pesar na balança, é mais completo do que todas as rivais.

Mas, na hora do vamos-ver, a pipoca estoura.

A mais acabada tradução do resultado se resumiu no último ponto do jogo. Dotadas de espírito vencedor, já que têm como referência um tricampeonato olímpico e mundial, as cubanas - fracas na defesa - pegaram tudo o que não pegaram em todo o torneio pan-americano.

E as brasileiras, mais uma vez, sucumbiram a si próprias.

Falta um "algo mais" a este time.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A balbúrdia aérea ainda nos assola

Demorei, mas não posso deixar de me manifestar a respeito de mais uma tragédia aérea. A terceira com que convivi em 30 anos de vida. Primeiro, o Fokker da TAM. Depois, a colisão entre Legacy e o Boeing da Gol.

O Airbus que derrapou em Congonhas e explodiu num posto e num prédio da TAM.

Assim, completou-se um ciclo macabro.

A tragédia me deixou entre consternado e indignado. Porque não faz nem um ano que 155 pessoas morreram nos céus da Amazônia.

De lá pra cá, a caixa de pandora do setor aéreo brasileiro se abriu. E não pára de despejar demônios. Obsolescência de aeroportos e equipamentos, companhias aéreas que vendem mais do que podem oferecer, humilhação a passageiros.

E ninguém fez nada. Um nada que se mostrou ainda mais fatal.

Até quando?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Jade, a jóia guerreira




Diz-se que Jade é pedra. Dura, bela e ornamental.

Sim! A nossa Jade é bela. Mas não pedra, tampouco dura. Sensível, chora de saudade da mãe que tão cedo se foi.
Chora de dor, porque a queda é uma barra. Mesmo assim, chorando, cumpre a missão.

Não! A nossa pequena é grande demais para ser ornamental. Preciosa, recolhe os cacos da alma ferida. E não se curva. Sabe que é preciso seguir viagem. De um salto, transforma pranto em glória.

Sim. Agora, a nossa valiosa Jade é dourada. E, ainda que tímida como ela só, sorri.
Assim, o choro incontido e o riso acanhado nos faz, juntos, por ela encantados.
Jade! Tua tristeza foi também a nossa Choramos contigo quando caíste, mas nos orgulhamos quando venceste. Menos pela medalha. Mais pela tua capacidade de renascer.
Obrigado, menina. Amamos você.
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Esse é apenas o começo da história. Daiane, a brasileirinha, viu a trajetória panamericana escorrer pelos pés. Mas, ainda coroada, a rainha já tem uma sucessora.

Vivas também a Diego Hipolyto, que ajudou a pôr a ginástica masculina brasileira no mapa-múndi. Garimpou o ouro do solo. E também o do salto. E para o surpreendente Mosiah, campeão na barra fixa.

A ginástica ainda teve o bronze de Daniele na trave e de Jade no solo. Laís Souza ficou em terceiro no salto.

terça-feira, 17 de julho de 2007

As lágrimas do Pan

Durante toda a propaganda em torno dos Jogos Panamericanos, me perguntei o porquê de tanta cerimônia. A princípio, trata-se de uma competição com importância reduzida no cenário mundial, já que nem todos os astros da primeira grandeza do esporte participam.

Mas é preciso olhar o evento sob outro prisma: histórias marcadas pela emoção.

Em Indianapolis, o basquete de Oscar e Marcel teve a pachorra de impor aos Estados Unidos a sua primeira derrota em casa. O mestre dos 3 pontos caiu em lágrimas enrolado na cesta. Do outro lado, havia feras como David Robinson e Charles Barkley, que por anos ficaram com a mágoa entalada na garganta.

Perdemos para eles em quase todos os demais jogos. Mas aquela é uma história que encontra pequeno paralelo no nosso Maracanazzo de 50

Guardadas, é claro, as devidas proporções.

Em Winnipeg, Maurren Maggi fez o que dela se esperava: ouro no salto em distância. Disputou os 100 metros com barreira sem nenhuma pretensão de medalha, posto que havia postulantes mais fortes. Neste momento, ligo a TV na ESPN Brasil, que tinha como convidados os pais da atleta.

Começa a prova. Milton Leite faz a narração. "Vai, Maurren!", gritava a mãe. E lá ia ela vencendo as barreiras como se vencesse a vida. "Vai, Maurren!" torcia o pai. A energia parecia vencer a distância e alcançar a Universidade de Manitoba. E Maurren cruza a linha de chegada num surpreendente segundo lugar.

O estúdio se encheu de emoção. Lá do Canadá, a moça também vai às lágrimas. A ESPN a coloca em contato com os pais. Os três choram juntos.

Ali, a Maurren me ganhou. Sou fã dela.

Infelizmente, nem todas as belas epopéias têm final feliz. No Rio, Jade Barbosa estava com a medalha nas mãos. Nas barras assimétricas, a pressão exauriu as forças da menina. Ela caiu. E, chorando, concluiu a prova. Ficou sem medalha.

E a ESPN Brasil - sempre ela - ao final do seu Jornal do Pan, traduziu com maestria este triste momento. O maravilhoso texto dizia mais ou menos isso:

"Não machucou as mãos ou os pés. Mas como dói o coração desta pequena.

Doeu na gente também."

segunda-feira, 16 de julho de 2007

A vitória dos "fracos"

Depois da semifinal ganha no sufoco contra o Uruguai, eu terminei meu post com a seguinte frase: "Só espero que o fechar das cortinas traga o mesmo desfecho."

E não é que a conquista veio com juros e correção monetária? Em 2004, a beleza do espetáculo foi o Adriano moleque roubando o doce dos argentinos, que já dançavam o tango da vitória.

Três anos depois, os achincalhados reservas brasileiros superaram as críticas e fizeram, no momento certo, a sua melhor partida.

O gol de Julio Baptista logo aos 4 minutos fez os tão endeusados argentinos perder o rebolado. A vitória começava a ser desenhada.

Riquelme meteu bola na trave e fez Doni se esticar. Mas o Brasil tinha o domínio mental do jogo. Em dois contra-ataques, os canarinhos de Dunga mataram os portenhos. E o artífice da vitória foi justamente o melhor zagueiro argentino. Ayala falhou por lentidão no tento de Julio Baptista (justiça seja feita: Milito e Heinze deixaram-no, aos 34 anos, sozinho no embate com o brasileiro) e jogou de bandido no segundo gol.

No segundo tempo, Daniel Alves só deixou a taça ao alcance das mãos.

Nesta partida, os destaques vão para Doni, Maicon, Josué, Wagner Love e Daniel Alves.

E não me venham com essa baboseira de resultado injusto.

Só deu Brasil


Parece que o Cristo Redentor, agradecido por sua agraciação como maravilha do mundo, honrou de vez o "Deus é Brasileiro". E quem se beneficiou disso foram os esportistas brasileiros.

Do alto de seus 15 anos, Bárbara Leôncio foi, viu e venceu. É campeã mundial dos 200 metros rasos para menores, com o tempo de 23s50. A prova aconteceu em Ostrava, na República Tcheca.

Já no vôlei, a Rússia virou freguês de barbearia. Perdeu na final do mundial juvenil (3 a 0) e na decisão da Liga Mundial (3 a 1). Barba e cabelo neles! E a Itália que se cuide. O império construído por Julio Velasco está prestes a ruir.

Diogo Silva deu ao Brasil a primeira medalha de ouro no Pan. Muito agitado na infância, o rapaz foi apresentado pela mãe ao taekwondo. O potencial demonstrado foi tanto que o paulista chegou perto de uma medalha olímpica. Foi quarto em Atenas.

Mas a glória mais inesperada vem no próximo post.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Roda Viva

Mais um de meus melhores textos de outrora. O conto Roda Viva. Divirtam-se
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Olhou o relógio e viu que estava atrasada. Apertou o passo, mas não correu. Certa impontualidade é parte do jogo. Com as mãos às costas, ele esperava. Tentou esconder aflição e impaciência quando ela chegou.

- Me desculpe! O ônibus atrasou. – não conseguiu. Num relance, ela percebeu tudo.

- Não tem problema - Não, mesmo. Agora, parecia entrar em alfa.

Quando ele a convidou, quis decidir a peça em conjunto com ela. Uma sombra de aborrecimento passou pela sua cabeça. Perdeu ponto pela indecisão. Mas topou dar-lhe uma chance.

Sabia que o cara precisava de esforço colossal para ser ousado. No caminho, até impôs alguma dificuldade. Mas, na porta do teatro, permitiu que ele entrelaçasse as mãos nas suas.

Ao acender das luzes, o beijo! Xoxo. “Que gostoso estar com você”, ela disse.
Não! Não era falsidade. Realmente gostava dele. Mas não tinha certeza se a afeição segurava um namoro. Exigente, até achou que ele foi bem em alguns quesitos.

Engataram uma saída atrás da outra. Em todas elas, ele lhe levava algum presente. Agradecia, mas não dava muita bola. Cedia a alguns carinhos. Dava chega-pra lá em outros.

A perspicácia a fez, mais uma vez, reparar em algo que ele não dizia de boca, mas o brilho dos olhos desmascarava. Levou um susto! Para ela era divertido. E não mais do que isso. Na última despedida, ele não resistiu a um “já estou com saudades”

- Pára com isso, cara! Você mal me conhece! – e foi embora.

No dia seguinte, mandou um e-mail. Disse que foi tudo muito bom, mas não queria mais. Percebeu que não o amava. E resolveu tocar a vida.

Muitas ficadas depois, preparava-se para a balada de aniversário da Fabíola. E lá, conheceu Aléssio. Perdeu o chão logo na primeira dança. A simbiose entre o som, a coreografia e os olhares culminou em romance.

Nos três meses que se seguiram, ela parecia não pertencer a este mundo. O outro lá era só memória. Um boboca meloso! O Aléssio era diferente! Bem mais maduro e equilibrado.
Aquela noite, então, era pra não esquecer. Daquelas de folhetim da Globo. Amanheceu ainda embriagada pela apoteose. Estava sozinha. Aléssio fora embora. Deixara-lhe um bilhete! “Tive de sair e não quis acordar você. Te ligo! Beijos”

Passou-se uma semana e ele não dava sinal de vida. Até que resolveu ela mesma ligar. “Este número não existe.” Um mês! Nada! Não sabia mais o que fazer. Sentiu-se consumida pela aflição. Onde estaria? Falou com Fabíola! Mas ela não pôde ajudar muito. Conhecia-o de relance. Era amigo de um amigo de um amigo.

Resolveu sair para espairecer. O estresse, que parecia diminuir de tamanho, transformou-se em incontrolável desespero. Ao passar pela banca de jornais, viu na capa de CARAS: “O empresário Aléssio Ribeira abre sua mansão em Paris”. Na foto, aparecia com uma mulher e duas crianças
Não podia ser verdade. Comprou a revista para ter certeza. Constatou que Aléssio era casado com uma francesa e tinha dois filhos. Passou três meses no Brasil a trabalho.
Sentiu um misto de náusea e tontura. Nada mais fazia sentido. Não tinha mais controle dos próprios sentidos.

Tão insuportável foi a dor da solidão que resolveu ligar para o “meloso”.

- Podemos conversar?

- Não temos nada pra conversar, sua vaca. Some da minha vida!

Encontrou-se tomada por choro e enjôo. Na alma, a certeza de que os homens são todos uns canalhas.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Os ventos de outrora sopram novamente

Não assisti ao jogo de ontem, entre Brasil e Uruguai. Estava na rua. Ouvi aqui e ali que a partida fez jus à tradição do clássico.

Dois a dois e pênaltis.

Vi Diego acertar a sua. E constatei, também, que os celestes tinham perdido uma. Beleza.

Quando cheguei em casa, soube que Afonso desperdiçara a vantagem brasileira.

Vieram as alternadas. E Fernando manda na trave.

A final da Copa América começava a escapar pelas mãos.

Mas Toledo também carimbou o poste.

Depois de Gilberto pôr o Brasil novamente em vantagem, é a vez de Lugano.

Doni anda três passos e, no meio da pequena área, defende.

Oscar Ruiz, o árbitro, não mandou voltar.

O ex-são-paulino, atônito, não reclamou. E caiu em prantos depois.

Um dos uruguaios resolveu partir pra cima dos brasileiros. Parecia que iria cair uma tempestade.

E o Brasil repete a dose da Copa América anterior

Só espero que o fechar das cortinas traga o mesmo desfecho.

Recordando

De tempos em tempos, republicarei aqui alguns dos melhores textos escritos no blog antigo. Hoje, vai este aqui:

Em busca de todas as belezas

Quando se fala de amor, é moda nos depararmos com o discurso segundo o qual o importante é a chamada "beleza interior". O discurso é tão corriqueiro que chega a ser chique. Um especialista com quem tive contato certa vez disse que querer beleza exterior é um erro.

Não discordo que é absolutamente essencial buscar caráter, cumplicidade e inteligência. Mas muitos que se querem puristas chegam a desdenhar de algo que tem, sim, a sua dose de importância: a atração.

A maioria nega, mas todo o mundo considera, à primeira vista, a beleza de fora. E eu pergunto: que diabos há de tanto pecado nisso? Posto que a sexualidade (outro ponto relevante na relação) também depende desse olhar considerado tão "mundano"?

Não proponho que devamos elevar o nível de exigência à estupidez de procurar apenas sarados e gostosas. Mas também não podemos ser hipócritas a ponto de negar o arroubo de nosso desejo, algo inerente ao ser humano.

"Ah, mas a beleza física acaba." E quem disse que a concepção do belo deve permanecer a mesma por toda a vida? Quem disse que o belo é o mesmo para todos? Um homem pode achar linda a sua mulher por mais de décadas, e vice-versa. Há quem ache Angelina Jolie o máximo da beleza. Pra mim, Charlize Theron dá de dez nela! Há quem babe por Luana Piovani. Pra mim, há umas quinze mulheres bem mais bonitas.

É mister que procuremos no amor o belo que cala à alma. Mas - por que não, meu Deus? - a arte que salta também aos olhos.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cabauêba revive "As Meninas"

No último sábado, vivi uma experiência interessante.

A obra "As Meninas", de Lygia Fagundes Telles, virou teatro nas mãos do grupo cearense Cabauêba. O cenário é um triângulo ora concreto - um pensionato de freiras comandado por Madre Alix - ora metafórico, onde três universitárias interagem e declinam suas tristezas. O aspecto pra mim inédito foi dividir o palco com as atrizes.

Lorena é tida como burguesinha alienada. Mas é uma espécie de mãezona, cuidando das amigas, mas angustiada pelo mau passo amoroso dado pela mãe.

Lia é a guerrilheira que planeja um sequestro para libertar o seu amado.

Ana Clara é a modelo drogada. A mais tensa das três, vive ameaçada pelos monstros do seu passado. Mas vai se casar com um homem rico. Porque felicidade, na sua vida, foi artigo de luxo raríssimo.

Um triângulo que retrata a imagem da mulher dos anos 70, mas serve como paralelo do mundo atual. Mesmo artífices de um novo tempo, em que tomam as rédeas dos acontecimentos, elas ainda anseiam por amor e dignidade.

Uma construção simples, mas caprichada. Sobressai Marisa Paiva, na densa e difícil Ana Clara.

Já faz cinco anos que o Cabauêba faz a releitura teatral de obras da literatura nacional. Já realizou também Mistério, Linha Férrea e Vento Verde, também de Lygia Fagundes Telles. Nelson Rodrigues, Chico Buarque e a cearense Natércia Campos também viraram teatro em suas mãos.

Cristo, maravilha do mundo

Em 1859, eu já era uma idéia oferecida por Pedro Maria Boss à princesa Isabel. Mas só no século XX, no centenário da Independência, eu comecei a virar realidade. Heitor da Silva Costa, Carlos Oswald e Paul Landowski são os responsáveis pela minha concepção. Nove anos depois, nasci. Poderia ter recebido as bênçãos das luzes vindas de Nápoles, acionadas por Guglielmo Marconi. Mas a coisa não deu muito certo, por causa do mau tempo.

Fui presente da França para o Brasil. E, do alto dos meus 38 metros, abraço a princesa maior deste país.

Sou o Cristo Redentor, maravilha deste mundo moderno.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Falta o Suplicy


O Congresso brasileiro não consegue passar sem viver uma tempestade de lama de vez em quando. As últimas transformaram bois em bodes expiatórios. Renan usou a venda de gado gado como justificativa para todo aquele dinheiro dado a Monica Veloso. Roriz alegou ter emprestado R$ 800 mil de Nenê Constantino para comprar um bezerro. O nosso ex-ministro da Agricultura e ex-governador do Distrito Federal, já com uma história de vida no mundo das acusações, renunciou à cadeira pra não ser cassado.

Na enorme poça que cobre os representantes dos Estados, a imprensa destaca ilhas de credibilidade: Pedro Simon e Jefferson Peres. Outro senador muito elogiado recentemente é o democrata Demóstenes Torres. O deputado Fernando Gabeira é uma figura carimbada entre os "raros" da esfera.

É justa a listagem dos bons. A injustiça fica por contra da ausência de Eduardo Suplicy, que tal qual Perez e Simon, também tem agido com independência. Integrante do conselho de Ética, o senador paulista tem recebido pressões... e, desde sempre, é persona non grata entre a cúpula de seu próprio partido. Justamente por não compactuar com algumas mudanças de rumo do PT.

Tem nada, não. A resposta é dada pelo eleitor, que o mantém como Senador há dezesseis anos. E não se decepciona.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Conceito que justifica a violência

Adormecida, a Barra silenciava. Sirlei Dias de Carvalho saía do trabalho no descerrar da madrugada. Teria de encarar uma epopéia até um posto de saúde em Duque de Caxias, onde faria uma consulta. A brisa do mar a impediu de perceber o perigo. Ataque sem perdão. Socos, pontapés e ofensas. Só não apanhou mais porque protegeu o rosto. Bando de pobres delinquentes? Não! Meninos de berço.

Dez anos antes, um ponto de ônibus foi palco de cena ainda mais deprimente. Um índio chamado Galdino. O pataxó ardeu em chamas graças às peripécias de cinco mauricinhos filhos de juízes, que resolveram brincar com fogo. A juíza Sandra de Santis mudou imputou ao crime um delito menor: lesão corporal seguida de morte. Como se os rapazes não soubessem que a travessura poderia se tornar fatal. Um atentado à inteligência alheia. Não deu certo. Homicídio triplamente qualificado e motivo torpe. Condenados a 14 anos de prisão, três deles já deixaram a prisão.

Tais escândalos evidenciam a nossa chaga preconceituosa. Chocamo-nos porque esse tipo de crime é coisa de pobre. O irônico é que tamanha discriminação pode estar embutida nos seus motivos. Os tais "riquinhos" enxergam pobres e não-brancos (Sirlei é negra) como sub-raça. Ou brinquedinhos. Prova disso é que os agressores alegaram ter confundido a doméstica com uma prostituta da região. Como se as prostitutas seguissem um perfil pré-definido. E como se elas sempre merecessem apanhar.

Órgãos da imprensa interpretam que a sociedade brasileira acordou da catarse. Não consideram mais a violência algo corriqueira. É o que espera a minha face otimista.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Hoje, resolvi mudar

Vida nova a partir de agora. Depois de muito tempo sem blogar, resolvi transferir para o Blogspot o Confraria de Heróis. Até agora, tenho curtido mais este formato do que o do Uol, que eu considero um pouco antiquados.

Espero você junto comigo para fazer deste um novo tempo.

Abraços