sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Perrone eterno

Na última quarta-feira, fui cumprimentar um grande amigo que completava o seu 29º aniversário.


Com Ricardo Perrone, compartilhei alguns dos melhores momentos da minha vida.

Logo de saída, o senhor são-paulino não perdeu a chance de me zoar.

"Eu tô na Série A. E você?"

Tudo bem. Até que pegou leve, dada a ojeriza que ele tem pelo meu time.

O melhor de tudo foi reviver os grandes momentos do Direto, um site de esportes onde trabalhamos durante cerca de dois anos. E até os projetos paralelos. No começo de 2001, fizemos um especial com todos os enredos das escolas de samba para aquele ano.

Eis que o ingênuo aqui viu necessidade de dar uma enchidinha de bola na Mangueira (em tempo: eu, como ele, torço pela gloriosa Mocidade Independente de Padre Miguel. Só assim pra gente concordar em alguma paixão. hahahaha).

Só que o homem ficou brabo, sô. Ele gosta da verde e rosa tanto quanto do Corinthians. Ou seja: ÓDIO MORTAL.

No Direto, um site de notícias por áudio, o nosso chefe, Deva Pascovicci, viu a necessidade de colocar no ar uma programação ininterrupta. E ele foi escolhido para tocar o projeto.

Havia programas sobre o campeonato português. Aí, Paulo Amorim, outro colega nosso, falava da classificação:

"Primeiro vem o Porto. Depois, o Sporting. Em terceiro, vem o Braga. Em quarto, o Salgueiros, que é nome de escola de samba..."

Ainda nos lembramos da corujesca cobertura da Olimpíada de Sydney. Apesar do sono, nos divertíamos com os nomes estranhos e as medalhas que iam surgindo. Tudo tinha de ser atualizado. Na época, Ian Thorpe era tido como o grande nome da natação. O holandês Peter Van der Hoogenband o desbancara.

E cadê que conseguíamos falar o nome do cara corretamente?

Do sol a raiar, ainda apareciam pérolas. Dia desses, estávamos voltando pra casa. Num dos cruzamentos em que estávamos parados, vinham aparecendo três garotas. Ele as chamou:

"Psiu! Venham cá!"

Elas chegaram perto, bastante curiosas. Perrone não teve dúvidas:

"PQP! VOCÊS SÃO FEIAS PRA C..."

Numa outra, Tatiana recebera uma ligação do Wallace - que nos substituía pela manhã - ao celular. Ela o orientava:

"Não, você tem de ir nos 'Favoritos'"

Ele parou o carro e perguntou pra um cara:

"Ou! Você sabe onde ficam os 'Favoritos?'"

Parecia que eu ia explodir de tanto rir.

Infelizmente, tudo durou pouco. Mas se mostrou intenso o suficiente para não desaparecer jamais.

Obrigado, amigo.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

De volta ao tênis

Depois que Gugase viu às voltas com sérias contusões e se afastou do circuito internacional, enfim voltei a olhar com mais atenção para o tênis.

Assisti a alguns jogos do Masters Series de Madri. E gostei muito do que vi.

Rafael Nadal, o novo homem de areia, venceu o britânico Andy Murray. Mas, como no Aberto dos EUA, teve trabalho. E com ele protagonizou belos pontos.

O simpático sérvio Novak Djokovic sofreu uma contusão depois de ganhar o primeiro set do croata Mario Ancic.

Mas este perdeu o controle emocional depois de perder várias chances de quebra. E perdeu o jogo.

Só que havia um Nalbandian no meio do caminho.

O argentino já havia vencido Rafael Nadal nas quartas

E venceria só o Roger Federer na decisão.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Tropa de Elite

E finalmente assisti ao tão comentado Tropa de Elite.

Vou tentar comentar desprovido de todas as coisas que li a respeito.

Trata-se de uma produção que, se não supera o fantástico "Cidade de Deus", se equivale a ele.
São câmeras trêmulas, narrativa tensa e texto afiado. Começa fragmentado em subtramas, que aos poucos vão se condensando.

O Capitão Nascimento está pra ter um filho e quer sair do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro. E precisa arranjar um substituto à altura. No centro da trama estão Neto, que tem o coração, e Matias, a cabeça pensante. Este, negro, é também estudante de direito. Na faculdade, começa a namorar uma colega, que trabalha numa ONG instalada numa favela.

Só que há dois problemas: ela não sabe que ele é policial, e a tal organização está "fechada" com o "dono" do morro. O Baiano - que, é óbvio, não quer "cana" no "seu pedaço".

"Tropa" apresenta nuances sem retoques de todas as mazelas. Entre elas, a corrupção da PM convencional, que se choca com o código de ética do Bope. Nascimento trata os policiais corruptos como inimigos.

Há também a exposição rasgada da cumplicidade do usuários, representados pelos estudantes universitários, com o tráfico. Pelo raciocínio - correto - de Nascimento, como mercado consumidor, eles abastecem os bandidos com armas. Com o poder nas mãos, eles corrompem as crianças dos morros, que muitas vezes não vêem futuro trabalhando honestamente.

Nada, contudo, é mais rasgado do que a violência. Apesar da manutenção da honra, os homens de preto abusam de tortura pra conseguir as informações necessárias e não se furtam a matar, se necessário.

Essa vertente fascista encontra eco na vida real. Eu, mesmo, já fui vítima dela algumas vezes. Mesmo sem nunca ter cometido crime nenhum. Na última, estava voltando pra casa depois de ter falado ao orelhão. Até que uma viatura resolveu entrar na contramão para encher o meu saco. Um deles apontava uma arma. O outro, com a empáfia nas tampas, disse que a minha indignação não adiantava nada, porque eu precisaria da polícia um dia, e chamaria correndo. O outro foi ver se eu não tinha "ficha corrida". E ai de mim se dissesse qualquer coisa a mais. O tal mala tentou se justificar, dizendo: "Não está escrito na testa de ninguém quem é honesto ou não"


Pois é. Mas, se não está "escrito", não se deve abordar. Afinal, não havia crime nenhum para investigar. E uma farda cinza não deveria dar a ninguém a autoridade de juiz para acusar alguém só pela aparência - eu estava de bermuda e chinelo.

Pra não dizer que não falei de flores, por causa de um incidente envolvendo uma pessoa da minha família, já precisei da ajuda de bombeiros e um policial. Foram todos muito solícitos.

Enfim, faces podres e boas existem em todos os lugares.

E "Tropa" tem uma crueza necessária na sua versão da história.


sábado, 13 de outubro de 2007

Três décadas de uma explosão


Tive a honra de conhecer o redentor. Gente finíssima!


Lá se vão três décadas do grito redentor.


A massa, por quase 23 anos, ansiou por títulos. E ficou na sede.


Mas não desistiu.


Na espinhosa jornada, não faltaram feridas pungentes.


Em 74, quando já se passavam 20 anos de agonia, um certo Ronaldo calou milhares de vozes próximas. E milhões em todos os arredores.


Mas sacudiu a poeira.


Dois anos depois, a inigualável casta de heróis atravessou a Dutra e fez o Maracanã ficar meio paulista por algumas horas.



Empurrada pelos seus fiéis, a garra operária venceu a máquina tricolor. Mas não pôde superar o escrete colorado



Não foi dessa vez.



Mas a sua hora chegaria.



E Cícero Pompeu viu sua expressão máxima em 5 de outubro: 146.080 pessoas ansiando pelo grito final.


Ele não veio. A Macaca não queria vender barato: 2 a 1 pra Ponte.


Mas, mesmo tecnicamente superior, não resistiria muito tempo. No terceiro jogo, Luciano mete um balaço na trave. Rui Rei tanto reclama que Dulcídio o põe pra fora.


E, aos 36 minutos e 48 segundos... enfim o nó da garganta se vê livre. Basílio, o redentor, estava predestinado àquela sina maravilhosa. Dias antes, Oswaldo Brandão sentenciara: "A gente vai ganhar de 1 a 0. E você, neguinho, vai fazer o gol do título.


E o Corinthians foi campeão.


Não faço a menor idéia do que acontecera naquele dia. Havia nascido no dia do "ensaio geral" do Maracanã.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Tom Maior perde uma grande chance

A Eugênio de Medeiros estava refém do trânsito. A Tom Maior faria naquela noite a escolha do seu hino para o carnaval 2008. Na porta, encontrei o Barba, que não via há muito tempo. Pela insternet, insistiu para que eu prestigiasse a final. O seu samba estava lá. Ele, Jelleya e Alemão, inspirados, arquitetaram uma jóia.

No alvorecer da colonização
Plantei minha raiz
Meu destino de glória, guerreiro feliz
Abençoada trajetória
Negra e amarga escravidão
Espalhou a doçura nesse chão
Do litoral partiram missões de conquista
Fui me tornando paulista
Nas margens do Rio Tietê
Fronteiras, riquezas, tesouro
Após o delírio do ouro
É doce o meu renascer

Do lado de lá, senhores de engenho
Do lado de cá, barões do café
Da minha história orgulho eu tenho
Rumo à vitória, sou o Sumaré

Os trilhos trouxeram o progresso
Grandeza e libertação
Expandi, desenvolvi
Abracei novos irmãos

Surgiu... nossa força industrial
Hoje o meu carnaval irradia energia

Acelerei no ABC, que não pára de crescer
Nessa pista o que Vale é a folia
O combustível essencial da alegria

Meu canto é raça, é sangue e suor
Tom Maior
Estado de graça, motor que uniu
Meu Brasil

Uma composição que traduz com alma poética a história que a escola quer contar: a história da força econômica do estado de São Paulo. Passa pela cultura canavieira, que se beneficiou da mão de obra escrava ("Negra e amarga escravidão/ Espalhou a doçura nesse chão"). Faz referência às bandeiras, que fizeram do Brasil o desenho que tem hoje, já que o Tratado de Tordesilhas destinava a Portugal cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados. Mas destacam a origem do estado de São Paulo, que, à margem durante o ciclo do ouro, começa, depois, a se tornar importante na economia brasileira ("Após o delírio do ouro/ É doce o meu renascer"). Pois começa o ciclo do café. "Do lado de cá..." do país. Enquanto isso, os engenhos "Do lado de lá..." entravam em decadência.

A segunda parte já fala do crescimento de São Paulo como protagonista da economia brasileira e da substituição da mão de obra escrava pela imigrante ("Abracei novos irmãos"). Faz referência à indústria automobilística ("Acelerei no ABC..."), que traz também, em um único verso, uma inteligente analogia com a passarela do samba e faz referência à Vale do Rio Doce ("Nessa pista, o que vale é a folia").

No refrão de cima, qual um "lead", vem a importância do estado na formação econômica e política do Brasil atual, mesmo ("Estado de graça, motor que uniu/ Meu Brasil"). E diz, ainda, que tanto a comunidade Tom Maior quanto o povo paulista são dotados de espírito guerreiro ("Meu povo é raça, é sangue e suor")

Mas eles perderam a disputa. Para uma composição que, a meu ver, não tinha a mesma qualidade.

A Tom Maior perdeu uma chance de ouro de levar ao carnaval um dos melhores sambas do ano.

Paciência.

PS: a minha interpretação do samba 4 veio sem a leitura da sinopse.

Espero não ter falado besteira.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Salve, meu Corinthians heróico


Já se passaram três dias do triunfo redentor. Uma vitória que teve esboço no sábado, quando mais de mil fiéis entraram no templo. Não para profanar o mar de indignidade em que foram mergulhados. Mas para orar em razão do amor maior.

A voz dos devotos encheu os corações dos sacerdotes. Muitos deles pouco qualificados para a missão. Mas com a promessa de se dedicar ao máximo.

No dia seguinte, os fiéis perderam em espaço. Os donos da seita tricolor contavam as horas para celebrar o seu domínio. Atônitos, eles assistiram a uma tocante prova de amor. Homens e mulheres de preto entoavam o hino maior numa espécie de estado hipnótico. E se valiam de palavras fortes: "Corinthians, minha vida. Eu nunca vou te abandonar. Porque eu te amo."

Os bravos, já repletos de alma quase secular, resistiam como nunca às investidas de um oponente mais forte. Tinham num gigante chamado Felipe a tradução da mensagem vinda do povo.
Até que, ao cair do crepúsculo, veio a redenção. A trajetória daquela bola começava a escrever o capítulo final de uma epopéia de humilhações. Começou em Gustavo, passou por Fábio Ferreira e culminou no tão criticado Betão. O destino pareceu brincalhão, mas fez justiça.

Tão profanada, a fé alvinegra ainda não está livre dos perigos. Mas se depender de seus devotos, não sucumbirá jamais.


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

É "Hairspray" na cabeça

IMPAGÁVEIS: Travolta e Nikki Blonski dão show em Hairspray


Nunca fui lá muito chegado a filmes musicados. Sempre achei meio sacais. Até que fui apresentado a "Hairspray - Em busca da fama", a transposição para o cinema de um musical da Broadway, de mesmo nome, dirigido por Jphn Waters. É uma divertida mistura de ritmo, diversão e crítica.

Como toda adolescente da Baltimore dos anos 60, Tracy Turnblad (Nikki Blonski) sonha em fazer parte do Corn Collins Show. Pode-se dizer que é uma mistura de "Show de Calouros" com "Malhação". Mas ela comete um pecado na Bíblia estética pré-estabelecida: tem uns quilinhos a mais. E é claro que o stablishment do mal, na pessoa de Velma Von Tussle (Michelle Pfeiffer), produtora-chefe da atração, arma-se de todo o seu arsenal de maldades para acabar com a "palhaçada". Por um motivo que o instinto materno explica: a filha, Amber Von Tussle (Brittany Snow), é a queridinha do espetáculo.

Além de arma para as vilãs da história, o preconceito é também mote crítico. O filme se passa num tempo em que a segregação se configurava em dura realidade. Como se vivessem - e viviam - em um mundo à parte, os negros eram obrigados a se apresentar em um dia específico. A parte açucarada - pero no mucho - da trama fica por conta do embate entre Tracy e Amber por dois troféus: o título de Miss Laquê (o tal Hairspray) e o amor de Link Larkin (Zac Efron, de High School Musical).

A produção acerta principalmente na simbiose entre dança e canção. Mas há que se destacar o banho que dá John Travolta na pele da insegura Edna Turnblad, mãe de Tracy. Não terá sido feliz coincidência, dado o passado de Travolta, com sábados regados a brilhantina. Mas a escolha de um homem para o papel feminino tem uma razão. Na versão teatral, de 1988, Edna era interpretada pelo travesti Divine, que morreu no mesmo ano.

Azeitado, o filme corre em velocidade suficiente para entreter durante duas horas. Nem rápido demais, para deixar a história passar, nem excessivamente lento, para não provocar bocejos. Sai-se do cinema com música na cabeça e dança insistindo em marcar o ritmo no pé.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Desamor

Verso no escuro
O silêncio mais puro

Poesia frui em essência
O poema não vem...
Insolência

Vento pulsante aquece
Espreita o vazio
Desafio
Desolado, coitado, fenece

Defronte o terror
Suplanta a dor
Impele ação
Transformação

Conto Loquaz
Obra infugaz

O verso virou glória
Da efervescência
História

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Corinthians! Onde está você?!

Em todos esses anos de corintianismo, nunca vi algo assim.

Eu, que me gabava de ver o meu time jamais ser rebaixado em coisa alguma, tenho de botar as minhas barbas de molho

O perigo existe, e é real.

Mas não quero me ater a jogos e estatísticas.

Onde está a magia corintiana? Essa aura decantada até por torcedores rivais?

Um onze que, mais do que derrotado, se mostra displicente. Formado por uma cartolagem corrupta.

Tudo vírus mortal na torcida. Que não sabe mais o que fazer.

Em tempos áureos de arte guerreira, nunca um Náutico da vida viria ao Pacaembu cantar de Galo.

Hoje, até o América dá trabalho.

O que vocês fizeram com a paixão maior da minha vida, senhores?

Decreto que vocês não têm o poder de deixar o meu amor morrer. Mas a vida há de fazer-vos pagar por isso.