domingo, 20 de dezembro de 2009

A Grande Menina virou anjo

Pô, Criador! Justo ela?

Pois é... às vezes, parece que, quando alguém morre, expressões como "O mundo ficou mais triste", ou "uma luz se apaga" são ridículas de tão clichê.

Só que, dessa vez, parece que elas caem como uma luva.

A primeira vez que vi Brittany Murphy foi em "A agenda secreta do meu namorado". Mas em "Grande Menina, pequena mulher", ela estava especialmente encantadora. Talentosa sem despontar, a bela Brittany se destacava pela graciosidade.

Pois foi justamente pelo coração que ela partiu. Teve um ataque cardíaco enquanto estava no chuveiro de casa, em Los Angeles. Chegou a ser socorrida, mas não teve jeito. Há suspeitas de que ela era viciada em analgésicos. Outra informação dá conta de que o infarto seria consequência de diabetes.

Tinha apenas 32 anos. Era mais nova do que eu.

Obviamente que, daqui do Brasil, não a conheci a fundo. Mas a imagem que me fica é a meiga. Os mais espiritualizados (como eu) refutam protestos terrenos segundo os quais só os maus devem morrer. Certa vez alguém me disse: "O Espaço também precisa de pessoas boas."

Apesar de ter começado muito cedo, Brittany não teve tempo de crescer ainda mais. Um grande ator só se forma com o tempo. São raros os grandes com menos de 35. Por outro lado, ela não envelhecerá jamais. A sua última imagem será sempre jovem e bela.

Eu prefiro acreditar que a Grande Menina tenha virado anjo. Salvo raras exceções, não costumo me comover com a morte de celebridades - sinto falta de Ayrton e Renato Russo - mas a passagem de Brittany Murphy me deixou triste.

Alô, vocês aí do Espaço. Cuidem bem dela, tá?

Sem sair do TOM

Eu tava devendo uma visita à queridíssima Tom Maior.

Aquela comissão de frente de 2009 foi uma das mais lindas que já vi na minha vida - chego a achar que rivaliza com os sambistas da Mangueira em 99 e com os lusíadas da Tijuca em 2002. É uma pena que algumas falhas técnicas a tenham deixado à beira do Acesso.

Estava marcado para as oito e meia da noite de ontem um ensaio pelas ruas do Sumaré, berço da escola. A concentração aconteceria na Oscar Freire, em frente à estação que leva o nome do bairro.

As coisas começaram a esquentar só a partir do aproximar das dez horas. Uma moça perguntou a um grupo de ritmistas a que horas acabava. "Da última vez, foi até a meia-noite", disse Isabella Castillas, uma representante do naipe de tamborins.

A bateria foi tomando forma aos poucos. Marcação, surdos, caixas, ripas, chocalhos, Xequerês, agogôs, tamborins. Das mais ousadas, a orquestra de mestre Carlão tem um bailado envolvente. É rica em convenções as mais variadas. E os seus batuqueiros evoluem dnaçando.

Depois de acertados os acordes, o carro de som virou na Amália de Noronha. O time de cantores comandado pelo grande Renê Sobral incendiou com o hino ("E toda a gente que é feliz") e a exaltação ("Exaltando o samba ela vem... cheia de graça"). Depois, explodiu o bom samba sobre Angola. Antes de começar a ensaiar, a hostilidade descabida fez o morador de um prédio jogar água no carro de som, o que irritou os intérpretes. "Seu ignorante. Isso aqui é cultura popular" esbravejou Renê, coberto de razão. Se o evento estava marcado, é porque recbera a devida autorização. Abaixo os inimigos do samba (infelizmente, em São Paulo eles são muitos).

O samba é lindo! Principalmente na parte de cima, que é poesia em seu estado mais puro: "A luz da minha alma/ Reflete as cores do meu pavilhão/ Amor que já não tem explicação." E a melodia do final também é de emocionar: "Tenho a energia dos cristais/ Mistérios espaciais..." Os autores do samba de 2008 (que eu tanto critiquei) e de 2009 (muito bom, mas sem atingir o ápice) dessa vez acertaram em cheio.

O sabidão aqui cantou alto o hino, a exaltação e o samba de 2009. Mas, por falta de técnica, o gogó pediu água na metade. Já quis ser cantor um dia. Quem sabe um dia eu tomo umas aulas... hehehehe

Mas deu pra observar o bonito trabalho dos harmonias, botando os visitantes/ potenciais componentes para cima e tentando ganhar a vizinhança, nem sempre amistosa.

Nos estertores da Cristiano Viana, ao alto da Sumaré, a apresentação chegou ao fim. O presidente Marko anunciou a nova quadra, que teria a Barroca a se apresentar no dia 5 de janeiro, e seria oficialmente inaugurada com Pérola Negra e Mocidade Alegre.

Na viagem de volta, peguei carona com um grupo que continha duas pessoas do departamento jovem, uma passista, uma ritmista e um compositor (acho). Uma moçada muito bacana que me acolheu com simpatia, e me convidou a acessar o seu blog.

Segui meu caminho solitário, mas feliz.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pérola levanta poeira

No domingo, aproveitei o fato de estar sozinho em casa pra dar um chega pra lá na inércia. Queria ir ao ensaio da Pérola Negra, que fica perto de casa. Fiquei meio apreensivo porque, no site deles, a apresentação estava marcada para as seis. Eram sete e meia, e eu ainda não tinha saído de casa. "Já deve estar no fim", pensei.

Perdi o jeito, mesmo. Ainda nem tinha começado. E isso é meio que praxe. As apresentações nas escolas sempre acontecem algumas horas depois do anunciado.

Lá, encontrei a Fê, harmonia da escola, que trabalhou comigo no Canal de São Paulo. Perguntei a ela como a agremiação havia lidado com a chuva, que prejudicou muito o trabalho já feito no barracão. Segundo ela, a escola esperava que a bilheteria do ensaio servisse para ajudar na recuperação, mas muitos entravam sem pagar.

Eu fiz questão de não entrar de graça. A bateria de Mestre Pateta começava a dar as suas primeiras batucadas. Uma cadência muito bacana, com convenções bastante inspiradas.

O apresentador deu os informes de praxe. Avisou que as fantasias não seriam doadas e que havia três alegorias com lugares vagos para destaques. Segundo ele, a escola já estava correndo para acabar com o prejuízo causado pela chuva. Um componente havia conseguido uma doação de mil reais com a empresa onde trabalha, e Rolando Boldrim, o homenageado da escola em 2010, comprara uma ala inteira.

Se o pulsar dos guerreiros da Vila não esmaecia diante das dificuldades, a Pérola também entristeceu. No sábado, partira um dos maiores mestres de bateria da história do carnaval de São Paulo: mestre Lagrila. A homenagem da escola foi em forma de silêncio. Que, foi integralmente respeitado. O pulsar do surdo foi respeitosamente solene.

Começara o ensaio. O samba, pelo qual eu já havia me apaixonado na voz do Douglinhas (que teve de cumprir o compromisso profissional e não pôde estar presente), ficou ainda mais vivo cantado na voz dos componentes. Passistas, harmonias e componentes levantaram a poeira do chão e irradiavam vida.

Terminou com um gosto de "quero mais".