Em um país futebolístico cada vez mais segregado por muros ou massacrado por porcentagens, há lampejos que nos levam a acreditar em algo melhor. Uma delas veio do sítio do Grêmio, que prestou uma bela homenagem ao centenário do rival. Aí vai o texto.
Ao Sport Club Internacional.
Apesar dos 105 anos bem vividos, temos boa memória. E da mesma forma que fomos homenageados naquele 15 de setembro de 2003, aqui estamos para mostrar nossa admiração e respeito por tudo que conseguiste até hoje.
Mas antes de qualquer coisa, vamos contar um pouco dessa história.
Que nos desculpem os modestos, mas poucos podem contar tão bem essa trajetória quanto a gente. Ou esquecem que, naquele 4 de abril de 1909, nós já estávamos por aí, jogando bola?
E o mais incrível: isso não intimidou aqueles novatos que logo nos desafiavam para um "match". Não dá pra dizer foi o mais difícil dos jogos. Mas saímos de campo certos de que tamanha audácia haveria de nortear um futuro promissor.
Dito e feito.
Com o passar do tempo, foi ficando claro que nossos caminhos sempre se cruzariam. Nosso destino eternizou o fato de que teus astros cintilam num céu sempre azul.
E assim seguimos, na eterna busca de superar um ao outro. Depois da Baixada, os Eucaliptos. Daí veio o Olímpico, e então o Beira-Rio. Se aquela camisa 5 nos incomodou na década de 1970, a nossa camisa 7 apavorou na década seguinte.
Aliás, nada é mais bonito no futebol do que essa competição sadia, essa rivalidade. Porque gente como Tarciso, Eurico Lara, Airton Ferreira da Silva, Danrlei, entre tantos outros, gente que nunca vestiu vermelho, também ajudou e segue ajudando a escrever a história gloriosa do Sport Club Internacional.
E isso, podem ter certeza, dá um baita orgulho.
A carta dá um sopro de esperança nas relações entre os clubes. Sou corintianamente apaixonado pelo meu Timão, mas um dos meus grandes amigos é são-paulino, assim como meu irmão é e minha avó foi. Outra pessoa com quem trabalhei por dois anos e de quem gosto muito também é tricolor. Hoje, ela
relaxou demais (rs). Dois dos jornalistas esportivos que mais admiro são palmeirenses. E um dos textos mais inspirados que conheço - e que tive o enorme prazer de ajudar numa entrevista para um programa - é santista.
Aliás, o blog
dele está aí, no "Aqui também é legal".
Um dos exemplos de esportividade que mais me emocionaram foi uma manifestação de solidariedade vinda do Rio. Quando o Corinthians foi rebaixado, em 2007, quase todos os rivais, tripudiaram. Principalmente na figura de seus torcedores. Ok, tiração de sarro é a coisa mais normal desse mundo futebolístico. Mas houve pelo menos um excesso: uma celebridade são-paulina, numa atitude absolutamente desprezível, festejou como se tivesse ganho uma corrida. E insultou corintianos admiradores seus. Até mesmo Kaká ficou feliz com a suprema derrota corintiana, mas foi mais contido.
Bom, vamos voltar ao foco... ocorre que, enquanto todos espezinhavam, um "companheiro de armas" resolveu prestar solidariedade: o Flamengo, tão parecido com o Corinthians no gigantismo e na emoção de sua torcida e no tamanho do ódio que desperta em rivais do Brasil inteiro. Pareceu entender melhor do que ninguém tamanha tristeza sentida em tantos alvinegros0. Este mesmo rubro-negro o saudou quando da volta à elite. Há quem acredite em média de quem se aliou para cobrar mais cotas de tv. Pode parecer ingênuo, mas eu acredito na sinceridade das homenagens.
É preciso que exemplos assim se propaguem. Que Corinthians e Palmeiras, que juntos fazem um dos maiores clássicos do mundo, sejam oponentes ferrenhos... apenas dentro do campo. A utopia de ver mosqueteiros e palestrinos andando na mesma calçada insiste em pulsar em mim como esperança.