Poderia ser uma peça de terror, pelo nome de causar arrepios. Pareceria ser uma comédia, como aquelas tantas cheias de escracho. Mas Rua do Medo usa os dois gêneros sem se contaminar por eles: se vale da comédia para denunciar o terror.
Rúbia realiza reunião de para discutir a insegurança da rua. A casa da vizinha Odila fora assaltada, e o seu portão eletrônico não funciona. Tudo seria prosaico, não fosse o gancho a abertura de uma caixa de Pandora.
A rabugenta Odila vive a reclamar desgraçar a vida, mas não dispensa um bom licor da Bavária. Como bom político, o assessor de deputado canastrão não consegue deixar os seus podres escapar. O filho adiciona depressão ao seu cipoal de psiquiatrices: está desempregado e foi abandonado pela mulher.
Mesmo assim, Adonis experimenta um processo de redenção com o amor por Gerusa, a doméstica. A trama surpreende, contudo, na escolha do seu alicerce: Capitão Tobias, o ex-policial, vê a sua empresa de segurança ser posta contra a parede. Mas vai virando o jogo e aos poucos denuncia a prepotência e o preconceito de cada um. Gerusa é o único elemento imaculado, porque representa o mártir. Cabral, o delegado, bem gostaria de assumir tais papeis, mas se enrola nas circunstâncias e tenta pagar de esperto.
A simplicidade é proposital. A começar pelo cenário, que dispensa elementos a fim de deixar o palco livre para o desenrolar da mensagem. Passa pelo texto, totalmente despojado de rodeios literários, mas magistral por deixar a mensagem transbordar profunda pelos seus poros. Quando entra em cena a morte do marginal, em magicamente orquestrada câmera lenta, a direção e o (ótimo) elenco entram em alfa.
Dirigida por Marcelo Lazzaratto, Rua do Medo é, no primeiro momento, misteriosa. Não dá a pinta do efeito que quer causar no espectador. Mas explora com maestria todas as suas possibilidades e, ao final, soa como sonora bofetada.
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