terça-feira, 22 de julho de 2008

Ao vivo na Rede TV

Cá estou para acabar com o marasmo dessas linhas. Por preguiça do autor, o blog ficou desatualizado. Isso não vai mais se repetir.


Na verdade, eu ia deixar a homenagem de primeiro de julho por mais tempo no ar de propósito, mas acabei me demorando demais.

Algumas coisas aconteceram depois de tanta celeuma. Estou novamente empregado depois de cinco meses de penúria.

Mas eu queria me ater a algo inusual que aconteceu comigo ontem. Como quase sempre faço, faço um longo percurso a pé. Como dessa vez eu não ia pra casa, mas para a Irmandade, caminhei até ponto da Teodoro Sampaio próximo ao Hospital das Clínicas.

Na Doutor Arnaldo, uma equipe da Rede TV, composta de repórter e técnicos, quis que eu desse uma entrevista para um programa ao vivo. Ele perguntaria se eu tinha confiança na polícia.

Enquanto o link não entrava no ar, falei ao repórter, Marcelo (senti-me nanico perto dele. E olha que tenho 1,87 de altura, hein?), que também era jornalista. Falei que fiquei um tempo desempregado, mas estava prestando serviços para a Band.

Quando ele entrou no ar, eu disse que confiava desconfiando dos policiais de São Paulo. Reconheço as melhorias nos indicadores, mas eles precisam avançar muito no respeito aos direitos humanos. Contei de experiências nada alentadoras que tive com policiais que abusaram da autoridade. Da última vez, julgaram-me pela roupa que estava vestido quando andava na rua de casa. E tive de enfrentar uma situação constrangedora. Um deles alegou que "não está escrito na testa" quem é do bem, quem não é.

Aí, o apresentador, Rodolfo Gamberini, pediu para que ele me perguntasse se eu fui vítima de racismo. Respondi que não podia afirmar com absoluta certeza, mas o Brasil vive um preconceito camuflado que não permite um desarmamento de mente.

Marcelo conversou também com outras pessoas... e as entrevistas foram ouvidas por um coronel da PM

Deixei a fachada da Faculdade de Medicina da USP feliz pela oportunidade de desabafar.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A menina ganhou bronze

A tarde começava a raiar naquele dia da pátria. Uma competição importante estava acontecendo na Alemanha. Havia algo de estranhamente belo no ar. Alguém sublime escreveria com a alma uma linda página da história do esporte brasileiro. Mas, ai de mim, só pude presenciar o evento pela metade, pois um compromisso me chamava. E a mente teimava em querer desgarrar-se para cruzar o Atlântico. Ficou no mar, a ver navios. Só me restou saber o desfecho na sábia voz do meu pai:

“A menina ganhou bronze.”

Era Jade. Mais que jóia, a lira encarnada. Mais que inspiração, a poesia em pessoa. Que ofereceu à nação recém liberta uma de suas páginas mais grandiosas.

Antes disso, tal divindade tomou várias formas. Quando apresentada aos seus, era Fellini. Encenou, a quase um só tempo, o drama e a redenção. E, por um instante, poetizei. O choro incontido e o riso acanhado nos faz juntos por ela encantados. Mas quando no velho mundo, vestiu-se de Homero, posto que conquistou. Mas dourou-se de uma pitada de Machado, posto que não venceu.

Para surpresa – e até um pouco de decepção - dos súditos, nem derramou as lágrimas de sempre. Seu espírito transcendeu de tal forma que tomou da emoção as rédeas do seu ser. Mas, ao chegar à terra adorada, o equilíbrio de outrora se restabeleceu. Então, como se presenteasse, não conteve um pranto feliz. Que me acertou em cheio. Essa garotinha tem mesmo vocação para tocar corações.

Tanta arte só tinha de ter a sua apoteose num Teatro Municipal. O Brasil olímpico se curvava àquela princesinha, que exalava ternura até no jeito meio desengonçado de caminhar sobre o salto alto. A pequena duelou com gigantes. E venceu. Lutou contra as emoções. E perdeu. “Ai! Eu queria não chorar, mas...”

Será uma demonstração de fragilidade? Longe disso! Em si também repousam Elis e Leila Diniz! Transgressora, porque não dança um baile de máscaras, de tão verdadeira. Inovadora, porque consegue combinar autenticidade com doçura.

Mas, afinal, por que tanto ela chora? Porque sua alma é tão gigantesca que não cabe no seu metro e cinqüenta e dois. Por isso, é necessário que se expresse. E transborde.

Hoje, essa heroína vive o ano dezessete de sua existência. Em tão pouco tempo, teve muito a ensinar. Este humilde arauto, que viveu quinze anos a mais, não tem um décimo de sua força e coragem. E por isso a admira tanto. Portanto, não diz parabéns. Diz obrigado!