Ainda que somente pelas ondas virtuais, tenho acompanhado com atenção os sambas-enredo que serão levados à avenida no grupo especial do carnaval paulistano. E aos poucos, vou trazendo as emoções sentidas durante os ensaios.
Uma coisa, porém, eu já posso adiantar. Tenho a impressão de que as composições deram um salto de qualidade dos anos 90 pra cá. Há uma quantidade cada vez maior de sambas muito inspirados tanto na letra quanto na melodia. Conseguir um resultado assim não é possível se o enredo não for igualmente marcante.
Bom, como o sacerdócio me deixou bem mais longe das avenidas, não tenho acompanhado com tanto afinco. Portanto, essa pode ser uma impressão errada.
Um conjunto enredo-samba que me causou especial emoção foi o da Pérola Negra. Em linhas gerais, a sinopse trata de uma aventura pela Índia em busca de uma jóia sagrada, "o símbolo mais puro do amor." Mas ao chegar ao Taj-Mahal, a tal preciosidade não estava lá.
Eis que o aventureiro volta ao jardim para perguntar o porquê de tudo. A voz divina que o conduziu então ensina a lição máxima: a jóia estava - Pérola Negra - estava consigo o tempo todo.
Trata-se de um enredo, se não inovador, no mínimo incomum. A Vai-Vai, em 98, fez algo semelhante. Em sonho, o sambista Criolé viajou pela história do Japão e com o Cassatu Maru atravessou o planeta em busca da terra prometida. Acordou em pleno desfile da Saracura.
Ocorre que o samba alvinegro nem de longe tem a mesma qualidade. A composição de Mydras, Carlinhos, Bola, Ladislau e Michel segue uma linha melódica própria da escola, mas é poético e ao mesmo tempo valente - nada mais óbvio para um enredo que evoca uma aventura. Ao cantar, o componente se sente o protagonista desta saga. E é essa a idéia central!
Se o desfile seguir a mesma toada, a escola pode colher belíssimos frutos.
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