A trajetória contemporânea da ginástica artística brasileira contemplou Luiza e passou por Daniele, Daiane, Diego e Jade. Garimparam vitórias importantes em Mundiais. Diego Hypolito foi bicampeão no solo, em Melbourne (2005) e Stuttgart (2007). Também no solo, Daiane dos Santos venceu na americana Anaheim (2003). E Jade Barbosa conquistou um expressivo bronze no individual geral de Stuttgart. Nenhum deles, no entanto, conseguiram traduzir a aventura em conquista olímpica. Coube a um discreto paulista de São Caetano ser o primeiro a inscrever tal glória na história esportiva brasileira.
A medalha de ouro de Arthur Zanetti não era cogitada pelo torcedor pouco afeito ao esporte. Mas quem acompanha com um pouco mais de assiduidade já poderia esperar coisa boa vinda dali. A primeira vez que o vi competir foi quando ainda atualizava um blog chamado Planeta Esporte.
Era 2008, e ele se classificava a duas finais da etapa eslovena da Copa do Mundo, uma competição menos expressiva do que os Mundiais e as Olimpíadas. Fora terceiro colocado no solo e sexto nas argolas, a sua especialidade. À época, o aparelho ainda tinha no trono o holandês Yuri Van Gelder e atletas mais experientes, como o francês Danni Pinheiro. Parecia ser bom atleta, mas não carregava cartaz. Ainda assim, eu dizia a mim mesmo: é bom guardar este nome.
Até que, no mundial de Londres, no ano seguinte, o cara tirou um surpreendente quarto lugar, com 15.325, a 2 décimos e meio do primeiro colocado. Dois anos depois, em Tóquio, a nota sobe 275 milésimos (15.600) e ele vai ao pódio: só fica atrás do chinês Ybing Chen.
Arthur chegou a Londres credenciado. Dele, no entanto, pouco se falava. Apostava-se em Cielo, Fabiana, vôlei, futebol. Enquanto estes ainda figuravam na linha de frente, ora vencendo aos trancos, ora conseguindo menos do que almejava, ora sucumbindo ao vento, Arthur ziguezagueava pelos flancos, sem dar bola pra fama. Optou por um exercício mais conservador na fase inicial e se satisfez com o quarto. Guardava na manga uma carta mais matreira. Apresentar-se-ia por último na decisão.
Chen e o italiano Matteo Morandi tinham feito grandes apresentações. Sem olhar para o lado, fez o seu. Nem mesmo a leve imperfeição do pouso abalavam o alívio de ter bem cumprido a missão. Os 15.900 finais selaram uma inédita medalha de ouro.
Aqui encerra-se uma história e, espera-se, começa outra. Que o Brasil crie juízo e faça de Arthur a referência para a criação de futuros campeões.
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