sexta-feira, 20 de março de 2009

Vendo e revendo "Tropa de Elite"

Depois de assistir a uma excelente produção nacional no cinema, resolvi encarar todas as reprises do Telecine. Definitivamente, Tropa de Elite entrou para o hall dos meus filmes favoritos.

Prestes a ser pai pela primeira vez, o Capitão Nascimento se vê enfastiado do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Rio de Janeiro. Mas ele não pode simplesmente deixar o posto: precisa colocar alguém em seu lugar. "E ele precisa fazer o trabalho do jeito que eu faço". É numa missão no Morro do Turano que sua vida se cruza com a dos "aspiras" Neto e Mathias.

O interessante aqui é que Nascimento se duplica: narra e vive a história. O narrador não chega a ter poder sobre o desenrolar da trama, mas é espectador privilegiado dos fatos. Ele expõe os podres da PM convencional, irrita-se com os cúmplices do tráfico - a impressão que se tem é que ele os acha piores do que os próprios traficantes - e perde a paciência com o que considera uma displicência de Mathias: conciliar a rotina na PM com a faculdade de Direito. Nada disso está ao acesso do Nascimento que está lá embaixo.

Com a câmera propositalmente trêmula e uma trilha sonora cortante, "Tropa" levanta algumas bandeiras. Desmistifica o bandido, a ala podre da PM e os usuários de drogas. Baiano, o antagonista, tem lá os seus rasgos de humanidade, mas sua natureza é pautada pela crueldade. O sistema policial dito "convencional" deixa poucas brechas para alguma honestidade. Os usuários de drogas não são pobres doentes, mas mercado consumidor do crime. E mesmo o exigente Bope tem lá os seus pecados: não se furta a recorrer à tortura para alcançar os seus objetivos - mesmo fazendo clara distinção moral com os homens de azul.

A urgência em arranjar um substituto faz de Nascimento um homem em conflito. Mesmo "bope" até os ossos, o Capitão se vê confrontado com sentimentos como remorso e admiração - sua preferência por Neto é escancarada. Este tem entusiasmo, mas peca pela excessiva impulsividade. É a personalidade do Mathias que passa pela transformação mais radical. A paixão por Maria, o elemento romântico, mais do que rejeitada, torna-se incompatível com os objetivos da história. É neste ponto que a realidade mostra a sua feição mais crua.

As interpretações são também um ponto forte de "Tropa". Wagner Moura é o "nome do jogo", como tradutor fiel da pulsação de Nascimento. Mas André Ramiro, é uma grata surpresa, ao dar conta do complexo Mathias. Caio Junqueira (Neto), Fábio Lago (Baiano) e Milhem Cortaz, como o corrupto Fábio, também rendem boas atuações. Fernanda Machado poderia ser uma Maria mais sutil, mas não compromete.

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