Nasceu Alfredo José da Silva, pisando nas calçadas musicais de Vila Isabel. Não por acaso, debutou na música logo aos nove anos, tocando piano clássico.
Logo migrou para a música popular. Tinha paixão pelas trilhas sonoras de Hollywood. Amava Gershwin, Porter e Cole. A partir deles, criava melodias. Trouxe a bagagem ao seu primeiro conjunto musical, aos 14. Com um rapaz que tocava pandeiro e uma cantora, saía de Vila Isabel para tocar no Andaraí.
Tal afinidade o levou a fazer amizade com um pessoal do Instituto Brasil-Estados Unidos, onde entrou em um grupo artístico. Um dos integrantes do órgão, com a mania de simplificar, o chamava de Alf. Então uma amiga sugeriu que juntasse o apelido a um nome muito popular nos Estados Unidos. E a arte de Alfredo José ganhou nova identidade: Johnny Alf.
Efervescente, a turma multinacional fuundou um clube para disseminar as músicas brasileira e norte-americana. Com a volta ao Brasil de Farnésio Dutra, o Dick Farney, o clube passou a se chamar Sinatra-Farney Fan Club. Nessa época, precisou tingir-se de uma dose de teatro, já que conciliava o inconciliável. A interminável noite tocando no clube com o serviço militar como cabo na Escola de Sargentos das Armas de Realengo. Em 52, conheceu o animador Cesar de Alencar, que tinha uma cantina em Copacabana e queria um pianista.
O teste não chegou nem a terminar: Alf passara com honra. Mas isso representava um cisma com a família, que o queria burocrático. Não tinha jeito! Ou seguia o plano, ou teria de ganhar o mundo. Seguiu o seu próprio projeto.
Tocar para tanta gente era uma luta para o tímido Alf. E o público era tão refinado quanto o pessoal do clube - gente do quilate de Tom Jobim e Nora Ney. Lá, quem o ouvia era o maestro Radamés Gnatalli e um certo João, vindo da baiana Juazeiro. O esboço de uma tal Bossa Nova começava a se desenhar.
Na casa do general Victor Freire, compõs "O que é amar", um libelo sobre os conflitos com a família, com quem mal falava desde que optou pela Cantina. Naquele tempo, compõs ainda "Estamos sós" e "Escuta", peças do disco "Convite ao Romance, da rainha do Rádio Mary Gonçalves. Não demorou para lançar o seu próprio trabalho, em 78 rotações. Com ele, neste trabalho, a banda continha um contrabaixista (Vidal) e um violonista (Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto), formação corriqueira no jazz, mas inédita no Brasil. Tais andarilhos atraíam a atenção de Silvia Teles, Roberto Menescal, Carlinhos Lyra e Ed Lincoln.
Por volta de 53, o retrato do que viria depois estava pronto, com nova harmonia e uma poesia mais solta de "Céu e Mar" e "Rapaz de Bem". Dois anos depois, sem mais nem menos, cruzava a Dutra e desembarcava em São Paulo.
Mal poderia imaginar que seria pivô de uma frase marcante de Vinícius de Morais. Tocava em um bar da cidade quando um grupo de bêbados reclamava do som. O poetinha tomou as suas dores e disse para Alf voltar para o Rio, porque "São Paulo era o túmulo do samba." Só que Johnny fazia jazz. Vinícius se retratou depois.
Já estabelecido na capital paulista como professor do conservatório Meireles, foi procurado pela cantora Marcia. Ela queria uma música para concorrer no Festival da Record de 67. "Eu e a brisa" já tinha o instrumental. Só faltava a letra. A canção fracassou no evento, mas ganhou posteridade algum tempo depois.
O precursor fazia shows esporádicos pelo interior de São Paulo. Humilde, contentava-se com a parca popularidade que a obra lhe deu. Se não era totalmente esquecido, seus shows não atraíam um público que se pudesse chamar de grandioso.
Em 4 de março de 2010, o corpo parou de funcionar. E uma grande alma se libertava. Pior para o Brasil, que perdeu muito e não se deu conta disso.
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