sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma saga paulistana

O meio-dia já luzia a pino no céu. Depois de um Saara repleto de marasmo, um pequeno oásis: treinamento para um freela como pesquisador do Datafolha.

Começava a uma hora, e daqui para o centro não era uma caminhada das mais extenuantes. Carreguei o bilhete e fui tomar o ônibus. Calculei que chegaria com uns 10 minutos de antecedência. Só que uma maldita manifestação de professores me pregou uma peça.

O mar incandescente característico do rush paulistano entrou em tsunami antes do tempo. Da Teodoro à Consolação, mais de meia hora. Desci e peguei o metrô. Seria uma viagem cheia de vaivéns. E o tempo seguiu o seu curso inabalado. Apertou o prazo.

Agora, cada segundo tornou-se uma raridade. Cada parada excedia a tensão. O que era para ser uma vantagem, adversidade. O Paraíso pareceu um purgatório, e fiz o caminho inverso das almas perdidas, rumo à Sé.

Na Linha Vermelha, o dérbi da cidade se eternizou. Corinthians de um lado, Palmeiras de outro. Sumo sacrilégio: Tive de ir para o lado alviverde. Purguei o pecado na Santa Cecília.

Uma e pouco! Já meio distante da pontualidade, troquei a divindade pela história. O Duque de Caxias levou-me ao Barão de Limeira. Para meu alívio, a deselegância discreta da impontualidade brasileira passou-me o pano na testa.

Tantos como eu desempregados pouco a pouco se apresentaram. Uns já formados, outros versados em pesquisa, todos necessitados.

No intervalo, conversei com duas colegas. Uma fizera contabilidade e trababalhara com "pessoas em situações de risco", como moradores de favelas, por exemplo. Tinha acabado de trocar João XXIII pela Bela Vista. A outra morara em Marília e estuda ciências sociais na PUC. Na saída, a moça ainda se perdia no meio daquela babel chamada São Paulo. Ainda iria à aula dali.

Na volta, mais uma vez traí o meu coração. E paguei caro por isso.

Achei que tomar um ônibus na Barra Funda seria melhor do que virar sardinha nas baldeações do Metrô. Mas me vi entalado no caos da Sumaré. Tão parada que desci antes para ir a pé pra casa. Uma moça loira teve a mesma ideia. Pareceu me seguir. Mas apenas ia para o mesmo lado.

"Você também vai para o Largo da Batata?" Perguntou!

Disse que pararia antes. Mas, como o papo tava muito bom, estiquei a caminhada de propósito. Era uma paulistana de Belo Horizonte, com mineirês deliciosamente acentuado. Despediu-se nas proximidades do Largo, e eu tive ímpeto de ir atrás dela. Mas dei a volta e fui pra casa. Parece que o jogo começa a virar.

Em todos os sentidos.

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