segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mancha pra quem?

E somos tricampeões no vôlei masculino.

Este mundial teve sabor agridoce. Menos pela polêmica em torno dos resultados arranjados do que por não enfrentar os Estados Unidos - Clayton Stanley está há dois anos entalado na garganta.

Se os brasileiros não foram lá muito esportivos ao se poupar ao máximo contra a Bulgária - improvisaram Théo como levantador e pouparam Bruno para o vamos-ver, já que Marlon estava doente - o regulamento demonstrava claro viés pró-anfitriões. Pelo confuso livro de regras, haveria três fases de grupos e uma semifinal antes da decisão. E tudo conspirava para que o caminho da "azzurra" fosse mais florido.

Além do mais, russos e estadunidenses usaram do mesmo expediente.

A atitude do Brasil poderia ser só um misto de vingança com pragmatismo. Ganhou, de presente, um grupo de terceira fase com República Tcheca e Alemanha, enquanto os europeus bateriam de frente com Cuba e Espanha - adversários que o Brasil já havia enfrentado.

No fim das contas, os campeões não tomaram conhecimento das vaias e se impuseram diante de italianos e cubanos.

E não deixou dúvidas sobre quem são OS CARAS do vôlei mundial.

Hino italiano cantado à capela? Bonito, mas o Brasil já faz isso há anos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Obrigado, Marina

Querida Marina

A primeira vez que te vi ao vivo, tinha de ti um conceito mal-construído. Mas, mal entravas ao palco do Teatro Folha, a falsa massa cinzenta foi tomando novas formas e cores.

Te vi enfim verdadeira: simpática, perspicaz e extremamente doce. Todas essas virtudes se misturaram em pouco mais de 140 caracteres no momento em que citavas trecho de "Construção" e num lapso a colocavas na pena de Caetano. Mas não te curvaras ante ao erro e riste de si mesma. "Tá vendo? É o inconsciente falando de Caetano porque ele disse que vota em mim".

Nunca vou me esquecer do efeito que o sorriso teu causou em mim. Da plateia, pude sentir aquela luminosidade me atingir como flecha.

Daí para integrar a campanha foi um pulo. Na entrada da Assembleia Legislativa, você me dava as boas vindas e me ordenava soldado. E o teu discurso na plenária me tomou por completo.

Fui vivendo todos os dias intensamente. Éramos todos fervorosos defensores teus das eventuais agruras da imprensa. De câmera, função que mal cheguei a exercer, passei a cuidar do canal no Youtube e da atualização dos vídeos no site. Veio o Sala de Marina, do qual eu dava uma pequena contribuição nos bastidores. Com o passar do tempo, cheguei até a participar de algumas edições.

Na última sexta-feira antes da eleição, fui ao Viaduto do Chá para a caminhada... que a chuva não deixou acontecer. Só à noite, pude ver a ficha cair. Quando chegavas para receber o nosso aplauso. Quando davas o teu agradecimento, tive um misto de sentimentos conflitantes: felicidade de ter feito parte daquilo; e também uma ponta de tristeza, porque, apesar dos percalços, pude perceber que tudo foi muito bom.

Levei este sentimento até a eleição, quando do teu pronunciamento vencedor. Se não alcançavas o difícil objetivo de ir para o segundo turno, marcavas um território importante na tão combalida alma política brasileira. Tua felicidade constrastava com o esvair da voz. Mas me abraçavas mais uma vez, e aquilo selava o fim de um ciclo.

Obrigado, Marina, por me dar a oportunidade de participar de algo tão grande. De conhecer tanta gente bonita. De partilhar de uma folha da história.

Ainda não acabou. Em 2014, vamos carregar-te mais uma vez. E venceremos de novo.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Uma tsunami chamada Marina

Maria Osmarina nasceu na mata, mas é toda Mar.

Estava com a vida em turbilhão quando cheguei ao Teatro Folha naquela terça-feira. Era a sabatina de uma certa ex-ministra e já candidata a presidente. Mal sabia eu que novas torrentes estavam por vir.

Lá encontrei Juliano Spyer, grande amigo dos tempos de América Online. Ele já fazia parte da equipe de comunicação da senadora. Iria a uma entrevista logo depois do encontro. A vida começava a virar.
“Peço para que entre no palco a senadora Marina Silva”.

Um falso maremoto pintado sei lá por quem

Aquele caminhar continha uma serenidade para mim estranha. Me acostumei a vê-la retratada injustamente como uma represa ao desenvolvimento do país. À medida que falava, desconstruía a injustiça de tal imagem. A voz aguda transmitia inesperada doçura.

Graciosa bucolia vista da praia

Quando falava de pré-sal, citou trecho da obra-prima “Construção” e a colocou na conta de Caetano. Foi prontamente corrigida: “É do Chico”. Mas não se deixou abater. “É o inconsciente falando no Caetano, porque ele disse que vota em mim”. O brilho daquele sorriso me acertou em cheio. A verdadeira Marina começava a se moldar.
Três dias depois, eu já fazia parte da equipe de comunicação. Significava o recomeço de uma trajetória profissional bastante irregular. A minha estréia aconteceria na manhã seguinte, quando Fabio Feldmann seria confirmado candidato do PV ao governo de São Paulo.

A despeito do frio, a Assembleia Legislatislativa fervia, já que vários partidos também definiriam os seus passos na eleição. Juliano apresentou-me a ela, que me deu as boas vindas.

Das profundezas, o fim da calmaria já se anunciava

Ela já estava na tribuna do plenário para discursar aos militantes. Estava cercada de partidários, e eu precisava achar o melhor ângulo para filmá-la. Mas, à medida que o discurso fluía, eu me distanciava do mundo sensível.

E quando acabou, me vi totalmente tragado por aquela tsunami

Com o tempo, meu trabalho sofreu uma metamorfose. Era para ser cinegrafista, mas a cúpula achou melhor contratar uma equipe de vídeo. E aí, passei a cuidar da publicação dos vídeos. Nada que impedisse novos contatos com Marina, sempre adorável e atenciosa. Filmei o ensaio para o debate da Folha/UOL, e também pude conhecer um pouco de Guilherme Leal, homem igualmente admirável.

Parecia que tudo caminharia para uma barbada (sem trocadilho) para Dilma. Mas o escândalo tomou conta da mídia. Primeiro, ao noticiar a quebra de sigilo fiscal a gente ligada ao PSDB. Depois, com um suposto tráfico de influências envolvendo Erenice Guerra, então Ministra-Chefe da Casa Civil e braço direito da candidata petista.

Nunca Maria Osmarina Marina foi tão MAR

Eis que uma tal Onda começou a acender um sinal... Verde. Marina cresceu e apareceu na voz de celebridades. O clube que já tinha Caetano, Bethânia, Gil, Marcos Palmeira e Adriana Calcanhotto, arauto da gente (gente, gente...), ganhou Wagner Moura e Gisele Bundchen – uma adesão tão barulhenta que fez a luz desabar. Com eles, vieram outros milhões de brasileiros. E os oito ou dez pontos martelados pelas pesquisas viraram dezessete na aferição final.

A sexta-feira final foi agitada. Debaixo de um tempo claudicante, que oscilava entre chuva e vento, fui ao Viaduto do Chá, de onde Marina partiria em caminhada até a Praça da Sé. Só que o passeio durou dois passos, já que a saúde tão castigada ao longo da vida não permitia aventuras debaixo de aguaceiro. A militância fez o trajeto por ela, e improvisou uma dança aos céus em volta do Marco Zero de São Paulo.
De volta à redação, uma surpresa nos aguardava. Marina nos saudaria em agradecimento pelo comprometimento que, sabia ela, ia além da esfera profissional. Não dá pra definir o que senti naquele breve momento; a felicidade de tê-la abraçado durante aqueles três meses se fundiu à tristeza de perceber que, no fundo, o ciclo chegara ao fim.

No dia da eleição, sacrifiquei os meus corintianíssimos princípios e fui votar de verde. Marina e Guilherme sorrindo a minha frente representavam o limiar de um epílogo. A história terminaria de ser escrita ainda naquela noite.
Não deu pra chegar ao segundo turno, mas o que era dezessete nas pesquisas quase virou vinte no vamos-ver. O Espaço Crisantempo estava lotado para o pronunciamento final.

Nunca vou me esquecer daquela entrada. Triunfante, nem parecia que aquela artista teria de deixar o palco. O cansaço era tanto que a voz se sustentava num fio. Mas nem por isso perderia a doçura de sempre. No final, envolveu-me em mais um abraço carinhoso e reforçou a esperança em um novo país.

Obrigado por tudo, Marina. Esse é só o começo.