quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Professor: o esteio da vida

Cantar (e cantar, e cantar) a beleza de ser um eterno aprendiz

A vida é pontuada por seres iluminados que, nem sempre reconhecidos, nos moldam. Seja no literal ou no figurado, mostram os instrumentos para melhor guiar as escolhas. São os professores formais, diplomados, e os "mestres da vida", nossos pais terrenos e espirituais. 

Experimentei a escola pública em seus momentos mais decepcionantes. Valorização em baixa, falta de boas aulas e eterna rotina de greves. Aqui e ali, entretanto, deu pra apreender bons exemplos. 

Regina Célia, por muitos anos vizinha no prédio da Francisco Leitão, foi a mais inspiradora das professoras de português. Estimulava a leitura e o saber de todas as vertentes do idioma propondo atividades que fugiam do lugar comum. Teresa ia pelo mesmo caminho quando ensinava História e Educação Moral e Cívica. Certa vez, quando pediu um trabalho sobre corrupção, pediu para que parte da classe fizesse entrevistas - como se introdução ao Jornalismo fosse. Infelizmente, meu grupo optou pela pesquisa.

No segundo grau (o termo "ensino médio" veio depois) encontrei Luciana, que não se limitou a despejar a Geografia, mas também incitou a pensar. Também tive Oscar, que ensinou como poucos uma matéria espinhosa como Física, a graciosa Elena, de Química, e o espirituoso Fausto, de História. 

Ainda tive tempo de colocar na lista abnegados mestres no cursinho do Núcleo de Consciência Negra na USP. Luis Carlos, de Gramática e História do Brasil, era jornalista por formação e dono de poderoso magnetismo comunicador. Também foi importante para que eu fizesse uma reflexão mais apurada sobre o Jornalismo - eu ainda tão encantado com algumas ilusões me vi jogado a um mundo um pouco mais real. Quase demovi da ideia, mas caminho é caminho.

Na Literatura tive Ester, em seu caleidoscópio de ficção e biografia. Um dia, trouxe alunos de outras plagas que simularam o julgamento de Capitu, a suposta adúltera de Dom Casmurro - ela foi absolvida pelo júri. E em História Geral o performático Ed, que com coragem resumiu dois anos em alguns dias.

A faculdade me proporcionou mais do que um aprendizado acadêmico: compreendi que a vida tem mais faces do que eu imaginava. Mas do que é tradicional eu destaco o hoje notório Clóvis de Barros, em Ética, que faz da irreverência um instrumento para o ensino, Sergio Amadeu e o amplo domínio da Economia e suas variáveis e Antônio Guerreiro em Radiojornalismo.

Mal sabia que Guerreiro me daria os primeiros passos para um destino que me encontraria anos depois. Por obra de um concurso, fui parar em um curso de locução. E a RadiOficina me proporcionou mais três grandes mestres. Cyro Cesar vivia a me dar recomendações, que eu entendia como deficiência - e só depois me dei conta que ele enxergava em mim potencial. Rodrigo Pizcioneri ensinou a "sorrir" com a voz. E Alexandre (me perdoe, mas não me lembro do sobrenome) trouxe, junto com o tal "sorriso" a necessidade de ser natural.

Essa é uma história vale outro post. O que posso dizer é que fui contemplado pelo desenho da vida com uma oportunidade única. Longe da minha cidade, é verdade, mas cheia de possibilidades. Pra chegar até aqui, eu precisei de inúmeros mestres.

Viver também requer outras sabedorias. É por isso que não abro mão dos meus pais, os maiores professores. Da mesma forma, também ensinamos outras pessoas. Somos todos ao mesmo tempo professores e aprendizes. Essa troca com a vida é uma das maiores belezas da existência.

Crédito da foto: Maurício de Souza produções e blog Jacris

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