Um casal de espanhóis levou o filho adotivo, um menino nigeriano, para almoçar no Nonno Paolo, restaurante e pizzaria localizada no Paraíso.
Eis que o gerente do restaurante se coloca no extremo oposto ao nome do bairro onde trabalha. Aborda o menino, que não entende português e, alegando tê-lo confundido com um menino de rua, bota-o dali pra fora.
Isso me envergonha como brasileiro e paulistano. E me enoja como negro.
O racismo subterrâneo que assombra o país nos deixa em constante sinal de alerta. E qualquer animosidade pode ser interpretada como um problema "de cor".
Ainda que muito leigamente, tenho lido muito sobre a tal abordagem policial. O código de processo civil, em seu artigo 240, fala na tal "fundada suspeita" de que alguém esteja portando uma arma na rua. Tal recurso é aberto a várias vertentes preconceituosas. E alguns homens de farda usam disso e cometem abusos. Porque "têm um perfil definido", como cor de pele e tipo de roupa, numa demonstração do mais abjeto preconceito.
Já aconteceu comigo algumas vezes. Numa delas, o energúmeno justificou a "blusa amarrada na cintura". Noutra, o infeliz notou a minha indignação e disse que "não está escrito na testa de ninguém quem é bandido, quem não é". Numa outra, sequer houve justificativa.
De certa forma, tal artigo se choca com uma letra da Constituição. No artigo 5º, sustenta-se a inviolabilidade da honra do cidadão. Ao abordar uma pessoa por considerá-la "suspeita", o (mau) policial julga, constrange, humilha e vai contra a Carta Magna.
E em boa medida tal pré-julgamento tem a ver com a pele escura - embora esteja também embutida discriminação social.
No meu humilde modo de entender, esse artigo do código deveria ser no mínimo, repensado. Claro que o porte ilegal de arma deve ser combatido... mas como saber com cem por cento de certeza? Por mais tapado que seja, o bandido tem a exata noção de que, até o ato fatal, a arma não pode ficar à mostra.
Com inteligência, é possível combater a insegurança sem ferir a honra de um cidadão de bem.
PS: o belíssimo vídeo acima mostra o quão feliz foi a Caixa na propaganda pela consciência Negra - que deve ser exercitada em todos os dias do ano. É portanto atemporal.
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