quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Tom Maior perde uma grande chance

A Eugênio de Medeiros estava refém do trânsito. A Tom Maior faria naquela noite a escolha do seu hino para o carnaval 2008. Na porta, encontrei o Barba, que não via há muito tempo. Pela insternet, insistiu para que eu prestigiasse a final. O seu samba estava lá. Ele, Jelleya e Alemão, inspirados, arquitetaram uma jóia.

No alvorecer da colonização
Plantei minha raiz
Meu destino de glória, guerreiro feliz
Abençoada trajetória
Negra e amarga escravidão
Espalhou a doçura nesse chão
Do litoral partiram missões de conquista
Fui me tornando paulista
Nas margens do Rio Tietê
Fronteiras, riquezas, tesouro
Após o delírio do ouro
É doce o meu renascer

Do lado de lá, senhores de engenho
Do lado de cá, barões do café
Da minha história orgulho eu tenho
Rumo à vitória, sou o Sumaré

Os trilhos trouxeram o progresso
Grandeza e libertação
Expandi, desenvolvi
Abracei novos irmãos

Surgiu... nossa força industrial
Hoje o meu carnaval irradia energia

Acelerei no ABC, que não pára de crescer
Nessa pista o que Vale é a folia
O combustível essencial da alegria

Meu canto é raça, é sangue e suor
Tom Maior
Estado de graça, motor que uniu
Meu Brasil

Uma composição que traduz com alma poética a história que a escola quer contar: a história da força econômica do estado de São Paulo. Passa pela cultura canavieira, que se beneficiou da mão de obra escrava ("Negra e amarga escravidão/ Espalhou a doçura nesse chão"). Faz referência às bandeiras, que fizeram do Brasil o desenho que tem hoje, já que o Tratado de Tordesilhas destinava a Portugal cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados. Mas destacam a origem do estado de São Paulo, que, à margem durante o ciclo do ouro, começa, depois, a se tornar importante na economia brasileira ("Após o delírio do ouro/ É doce o meu renascer"). Pois começa o ciclo do café. "Do lado de cá..." do país. Enquanto isso, os engenhos "Do lado de lá..." entravam em decadência.

A segunda parte já fala do crescimento de São Paulo como protagonista da economia brasileira e da substituição da mão de obra escrava pela imigrante ("Abracei novos irmãos"). Faz referência à indústria automobilística ("Acelerei no ABC..."), que traz também, em um único verso, uma inteligente analogia com a passarela do samba e faz referência à Vale do Rio Doce ("Nessa pista, o que vale é a folia").

No refrão de cima, qual um "lead", vem a importância do estado na formação econômica e política do Brasil atual, mesmo ("Estado de graça, motor que uniu/ Meu Brasil"). E diz, ainda, que tanto a comunidade Tom Maior quanto o povo paulista são dotados de espírito guerreiro ("Meu povo é raça, é sangue e suor")

Mas eles perderam a disputa. Para uma composição que, a meu ver, não tinha a mesma qualidade.

A Tom Maior perdeu uma chance de ouro de levar ao carnaval um dos melhores sambas do ano.

Paciência.

PS: a minha interpretação do samba 4 veio sem a leitura da sinopse.

Espero não ter falado besteira.

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