A tragédia de Realengo me causou, no começo estupor. Por alguns conhecidos meus reinava mais do que isso: uma fagulha da dor das vítimas e todos os seus.
Ao ler a revista e me deparar com tantos sonhos partidos, peguei pra mim um pequeno caco desse padecer. Lembrei-me de Gabriela Prado, tão pequena quanto, que em 2003 perdera a vida para uma bala perdida na estação São Francisco Xavier do metrô carioca.
Como elas, não debutaria; ou se formaria; ou se casaria.
Tão melancólico é perceber que o Brasil importaria sem querer tamanha estupidez baseada no mesmo modus operandi: um desatinado invade a escola, atira pra todos os lados e dá cabo de si mesmo. A reflexão partiria de uma premissa básica segundo a qual em algum momento o poder público falhou. Não deixaria ela de ter boa dose de razão - afinal, o cara comprou duas armas ilegais de pessoas não credenciadas, o que expõe a ferida do tráfico nas fronteiras.
Não é, contudo, tão fácil assim. Apontar o dedo para o governo é mais fácil quando se fala das tragédias naturais causadas pela chuva na região serrana do Rio, quando a fúria das águas não camuflou o terceiro-mundismo.
Aqui, é preciso pensar também sob a ótica da espiritualidade. Se precisa passar por isso, que lições o Brasil precisa aprender? Não será preciso repensar o modo como ele trata as suas crianças e jovens, que em suas classes mais desfavorecidas são vitimadas por uma quase deseducação, violência e até prostituição?
Será que não é preciso mudar o modo como pensamos a religião? Imerso em sua própria infelicidade, Wellington procurou alento não na essência do islã, mas na estória contada por radicais. Afinal, nem sempre respeitamos a diversidade de crenças - que, no fundo, queiramos ou não, converge para uma verdade só.
Não sei. A única certeza que tenho é que não somos castigados, mas recebemos a consequência de nossos próprios atos e pensamentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário