quarta-feira, 18 de maio de 2011

A bênção da leitura

A reportagem de capa da Veja de 18 de maio veio à feição. Num país tão espinafrado pela má qualidade de sua educação, a chegada de uma geração que gosta de ir além das fronteiras de Harry Potter é um achado - bem verdade que isso ainda não atinge ao grosso da população, mas pode ser a ele estimulante. E então fui fuçar no meu baú.

Nele encontrei Maluquinho, o menino serelepe e faceiro que segurou o tempo e é mais do que um cara legal. Viva Ziraldo, que desenhou mais do que uma história, mas um clássico da literatura infantil.

Mas ora que tão faceiro Maluquinho chama Bebeto, aquele que queria comprar um amigo, tão tímido que era. Não precisou: Paula chegou em sua vida e o fez crescer e vencer. De qualquer maneira, eles se amam é pra vida inteira.

De lá vêm também os primeiros personagens de um livro adulto, Escrito nas Estrelas, de Sidney Sheldon - sim, eu o li, e gosto pra caramba. Torci para que Howard Keller terminasse com a megaempresária Lara Cameron, mas não foi bem isso o que aconteceu. O homem da vida dela era o pianista Phillip Adler.

Da safra sheldoniana ainda surgiram Catherine, Costa, Jennifer Parker, Michael Moretti e por aí vai. Tantas histórias tristes culminaram em finais apoteóticos - não necessariamente felizes. Aí, também descortino Zíbia. Afinal, os Espinhos do Tempo não apagam os Laços Eternos ou ferem a bondade do Matuto. Afinal, Somos Todos Inocentes perante os Advogados de Deus.

Estes foram os meus Harry Potters para paragens mais densas. Já tive de ler Vidas Secas a contragosto, e assim não o fruí. Mas ainda que para a Fuvest, Dom Casmurro de materializou numa maravilhosa busca pela mente machadiana - que nem mesmo da sua morada espiritual há de desvendar o mistério de Capitu.

Pelas hostes de Joaquim Maria ainda vieram os Pedro e Paulo, ferrenhos rivais pelo amor de Flora, Iaiá, o matuto Rubião e sua teimosa paixão por uma mulher casada, o o impagável Brás Cubas (a meu ver belo, mas menos brilhante que o Casmurro Bentinho) e Simão Bacamarte, que inverteu a lógica da loucura.

Eis que visitei o Cortiço de Aluísio e me acabei nas festas de Rita Baiana - houve quem fizesse da casa a protagonista da trama. E Bertoleza sofreu nas mãos do patrão português. Mais adiante, a Casa de Pensão ainda fervia com a rivalidade entre Amâncio e o cunhado, João Coqueiro.

Aos 27, me vi maduro para revisitar Graciliano. Vidas Secas é secamente belo na saga de Fabiano e família, mas perde para a graciosidade canalha de Macunaíma, em sua fantasia que remete aos Cem Anos de Solidão dos Buendia.

Nem só de ficção vive a minha fase dita culta. Descortinei a Bossa Nova em todas as suas fases, o Anjo Pornográfico Nelson Rodrigues, a saga comunista de Olga Benário e a autodestruição de Mané Garrincha. Como viscerei no terrívelmente real Estação Carandiru e voltei em uma passagem da gênese nacional em 1808 - e pude entender muita coisa dos nossos problemas brasileiros.

E olha que essa é apenas a primeira página dessa história. Há muito por desbravar.

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