Confesso que li com algum ranço a chamada principal da edição desta semana da sãopaulo, a nova Revista da Folha.
Indo na esteira do protesto do Movimento Viva Higienópolis contra a construção de uma estação de metrô na Avenida Angélica, a publicação correu atrás de movimentos semelhantes realizados por outras associações de bairros listados como "nobres", pelo alto poder aquisitivo que comportam.
Ao ler o conteúdo, tive de me desarmar um pouco. As reivindicações de tais grupos, muitas vezes legítimas, primam pela discrição. A Sociedade Amigos da Vila Inah, no Morumbi, se cotizou e contratou um escritório de advocacia e um especialista em transporte para contestar a construção de um monotrilho na região - alegaram a falta de um projeto básico para a obra, que poderia gerar um novo "minhocão" (quem não é da cidade talvez não saiba que este é o apelido de uma horrenda via elevada que cruza o centro da cidade e possibilitou a degradação de seus entornos).
Defender os interesses de sua comunidade é mais do que legítimo num país que se pretenda livre. Tais movimentos podem até dar mais subsídios para movimentos de orientação mais ampla - como questionar a legalidade de um aumento de tarifa de ônibus, por exemplo.
O mais cruel nessa história toda é a grana alta fala mais alto no quesito eficiência. Passeatas e estridência, além de não necessariamente redundar e resultados, joga os manifestantes contra os cidadãos.
Até que ponto, no entanto, o interesse privado deve se sobrepor ao público? Muitas vezes as iniciativas embutem preconceitos. A declaração da dona Florinda higienopolitana que não queria se misturar à gentalha "diferenciada" que viria com o metrô não é exatamente uma frase jogada ao vento. Suspeita-se que a mesma motivação tiveram moradores da região da Avenida dos Três Poderes, no caminho do Morumbi, que venceram uma queda de braço contra estação de metrô de mesmo nome por ali.
Mesmo a possibilidade do aumento de insegurança não é justificativa para barrar um empreendimento tão essencial numa cidade sufocada pelo inferno do trânsito nos horários de pico. As obras do metrô, aliás, conseguem andar em marcha ainda mais lenta do que os 7 milhões de veículos paulistanos. Se a delinquência é problema, que haja mais iluminação e postos policiais nos entornos das estações - ora, a Cracolândia não impediu o renascimento da Sala São Paulo, que abriga uma Orquestra referência internacional.
Se por um lado é salutar à democracia a proteção aos protestos de motivação privada, é preciso também aprender com tamanha mobilização em nome de um bem maior - a cidade de São Paulo.
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