Ai, ai, Meu Deus. Sua mão que me conduz
Do infinito, tão bonito fio de luz
Acalentando o meu pobre coração
Era uma das últimas tardes de domingo do século XX. Ia enfim encontrar aquele pessoal maravilhoso que só conhecia por e-mail. A Sociedade Amantes do Samba Paulista faria um encontro de fim de ano.
O evento aconteceria na quadra da Tom Maior. Filha direta do grande Camisa, a vermelho e amarela sumarense vive a nômade sina de não fixar o pé num canto. Sempre haveria alguém a destituir-lhe da quadra. Aquela ficava na Doutor Arnaldo.
A esconder os cacos de tanta luta, ele saía pela quadra a espalhar sincero sorriso. Não se furtava a cumprimentar quem por ali estivesse. Num dos dias mais incríveis da minha vida, em que experimentei pela primeira vez a magia de um ensaio, Marko, o Presí, estava presente. Vim a descobrir um tempo depois que era irmão de Marcelo, jogador de futebol que estudou comigo no Max.
Como já dizia um certo Ernesto, era firme sem perder a ternura. Nos ensaios, pedia para que os componentes não esmorecessem no canto e se organizassem na aquisição de fantasias.
No fim de 2007, fui à final em que o grande amigo Barba concorria ao lado dos parceiros Jelleya e Alemão com uma verdadeira "patada de urso" - gíria sambística para designar um daqueles sambas inesquecíveis. A letra tinha variações linguísticas e rítmicas muito interessantes. Mas, infelizmente, perdeu a disputa para uma composição a meu ver mais pobre - mas é do jogo da vida. A composição vencedora se transformou na voz do grande Renê Sobral, e com ela a Tom conquistou uma inédita vaga no desfile das campeãs.
Liderar a Tom nunca foi tarefa fácil. Além de sofridamente andarilha, a escola nunca foi das mais abastadas. Mesmo assim, sempre arrumou um jeito de deixar uma marca. A bateria de Mestre Carlão escandalizou as rígidas estruturas do batuque ao promover uma sinestesia entre ritmo e dança. Se não inovava, aperfeiçoava e escancarava.
Um povo então renasceu. Em 2009, Angola teceu um manifesto inesquecível... na caminhada de um povo esquecido. A comissão de frente exalou forte uma emoção que me pegou de jeito. E chorei como nem minha escola de coração conseguiu. No ano seguinte, a Brasília em vermelho e amarelo conseguiu ficar de pires na mão. Balançou... mas a guerreira do guerreiro não cai assim tão fácil.
O lindo ensaio no Sumaré se transforma na minha despedida. Não! Este sambista não dormirá jamais. Já dizia Brecht que são imprescindíveis aqueles que lutam a vida toda - quis o Criador que este voltasse para a sua Morada. A luz da alma que sempre refletiu em Tom Maior agora emana da eternidade. Obrigado por tudo, presí.
Lá no céu pipa vagueia
Pensamento que passeia
Criança no espaço sideral
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