Começou um novo dia, já volta
Quem ia, o tempo é de chegar
De metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier
A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer
Vambora, vambora, olha a hora
Vambora, vambora
Vambora, vambora
Olha a hora, vambora, vambora
Vambora...
A segunda-feira já amanhecia. Enquanto preparava o café, minha avó, dona Mara, ouvia Franco Neto e Oliveira Júnior transmitindo as notícias mais importantes do momento. O modo como davam a hora virou um marco.
- Sete e trinta e cinco
- REPITA
- Sete e trinta e cinco
O meu avô, seu Dito, há muito havia saído para trabalhar. A Casa Albano ficava a poucos metros da Major Rubens Florentino Vaz. Enchia de imponência aquele trecho da Corifeu de Azevedo Marques. Enquanto Mara primava por um amor mais austero, Dito era o bonachão. Levava a gente todos os dias para a dona Lourdes para nos esbaldar em doces. Ou então, à padaria. E sempre perguntava: "O que é que você quer?"Muitas vezes, era ele quem me buscava na escolinha, na Praça Benedito Calixto. Levava para tomar refrigerante, mas exigia: "Não conta nada pra sua mãe". É lógico que eu não contava.
Dia desses, levou-me a um churrasco da Casa Albano. Não me recordo bem onde ficava, mas foi muito divertido. A firma jogaria futebol com uma equipe local. O time B tomou uma sova. A equipe principal até que jogou bem. Mas não conseguiu vencer.
Deitado na grama, havia dito a ele que só tinha comido um pão recheado com carne.
- Só? Eu já comi quatro - ele respondeu.
Voltamos exaustos, mas felizes de um bem-vivido domingo.
Anos se passaram. O velho Dito já há muito nos tinha deixado. E, naquele momento, meu tio Jairo sofrera um ataque cardíaco fatal. Eles já estavam voltando do enterro quando eu dera a notícia de que tinha passado na Cásper Líbero.
- Me abraça - ela disse. Dona Mara, tão incompreendida por mim, fingia firmeza. Mas estava destroçada por dentro. Se conseguira me ver entrar na faculdade, não pôde presenciar o meu diploma. Partiria para a eternidade quando eu ainda estava no segundo ano.
Na festa de formatura, minha mãe ficou triste, a princípio. Porque não poderia mais celebrar aquele momento com a sua família original. Mas encontrou Roseli, a filha da dona Mulata. E encontrou alento. Quantas vezes eu ouvia minha avó falar dela... acho que cheguei a ir a sua casa.
Sua neta, Vanessa, tinha sido minha colega de classe. Em fotos antigas, ela aparecia em uma de minhas festas de aniversário.
Saudades. Tempos que não voltam mais.
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