quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mara e Dito

Começou um novo dia, já volta
Quem ia, o tempo é de chegar
De metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier

A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer

Vambora, vambora, olha a hora
Vambora, vambora

Vambora, vambora
Olha a hora, vambora, vambora

Vambora...

A segunda-feira já amanhecia. Enquanto preparava o café, minha avó, dona Mara, ouvia Franco Neto e Oliveira Júnior transmitindo as notícias mais importantes do momento. O modo como davam a hora virou um marco.

- Sete e trinta e cinco
- REPITA
- Sete e trinta e cinco

O meu avô, seu Dito, há muito havia saído para trabalhar. A Casa Albano ficava a poucos metros da Major Rubens Florentino Vaz. Enchia de imponência aquele trecho da Corifeu de Azevedo Marques. Enquanto Mara primava por um amor mais austero, Dito era o bonachão. Levava a gente todos os dias para a dona Lourdes para nos esbaldar em doces. Ou então, à padaria. E sempre perguntava: "O que é que você quer?"Muitas vezes, era ele quem me buscava na escolinha, na Praça Benedito Calixto. Levava para tomar refrigerante, mas exigia: "Não conta nada pra sua mãe". É lógico que eu não contava.

Dia desses, levou-me a um churrasco da Casa Albano. Não me recordo bem onde ficava, mas foi muito divertido. A firma jogaria futebol com uma equipe local. O time B tomou uma sova. A equipe principal até que jogou bem. Mas não conseguiu vencer.

Deitado na grama, havia dito a ele que só tinha comido um pão recheado com carne.

- Só? Eu já comi quatro - ele respondeu.

Voltamos exaustos, mas felizes de um bem-vivido domingo.

Anos se passaram. O velho Dito já há muito nos tinha deixado. E, naquele momento, meu tio Jairo sofrera um ataque cardíaco fatal. Eles já estavam voltando do enterro quando eu dera a notícia de que tinha passado na Cásper Líbero.

- Me abraça - ela disse. Dona Mara, tão incompreendida por mim, fingia firmeza. Mas estava destroçada por dentro. Se conseguira me ver entrar na faculdade, não pôde presenciar o meu diploma. Partiria para a eternidade quando eu ainda estava no segundo ano.

Na festa de formatura, minha mãe ficou triste, a princípio. Porque não poderia mais celebrar aquele momento com a sua família original. Mas encontrou Roseli, a filha da dona Mulata. E encontrou alento. Quantas vezes eu ouvia minha avó falar dela... acho que cheguei a ir a sua casa.

Sua neta, Vanessa, tinha sido minha colega de classe. Em fotos antigas, ela aparecia em uma de minhas festas de aniversário.

Saudades. Tempos que não voltam mais.

Nenhum comentário: