quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Só deram os outros

Nova quarta-feira de martírio.

E, dessa vez, não teve consolo.

Corinthians toma nova goleada.

Sub-17 perde de novo pra Gana no Mundial

Seleção masculina tem o jogo nas mãos, mas toma a virada da desfalcada Argentina no pré-olímpico.

O jeito é virar a página e seguir em frente.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O Sublime Tom Jazz

Nunca fui lá muito fã de jazz. Um estilo altamente sofisticado, mas que não me tocava.

Mas, no Sesc Pinheiros, este cara com quem não ia muito, me presenteou com um belo show instrumental. Capitaneado pelo músico Mario Adnet.

Piano, bateria, flautas, saxes e trombones se harmonizavam em obras tidas como raridades e algumas mais conhecidas.

Até mesmo os imprevistos davam um charme à apresentação. Antes do início, estavam todos os músicos presentes, mas... "Cadê o nosso baterista?" Três minutos depois, lá estava Rafael Barata.

Adnet intercalava um som e outro com comentários. Disse que Tom era obcecado por dicionários e busca de significado. Chamava jazz de "jaz" (e não "djéss") e, segundo ele, "jaz" tinha uma conotação de movimento. E então tocou "Tema Jazz"

Antes de "Paulo Vôo Livre", explicou que esta era uma homenagem do maestro a um cunhado da Aeronáutica cujo apelido era "Paulinho Bacardi".

O ponto alto ficou guardado para o finalzinho, quando um certo "Spock" saxofonista entrou para a maravilhosa "Frevo de Orfeu". E mesmo aqui houve derrapadas. Que não comprometeram a qualidade do show. "Frevo de Orfeu" me emocionou.

Quem sabe esse tal de Jazz não me arrebata?

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Viva o cinismo


Foi uma dose homeopática. Mas eis que a hipocrisia deu as caras no futebol. Vampeta pegou gancho por simulação de contusão na partida em que o Corinthians venceu o Botafogo por 3 a 2, pelo campeonato brasileiro. Roger, agora rubro-negro, recebeu a mesma punição. Pelo mesmo motivo, no Fla-Flu.


Enquanto isso, jogadores baixam o sarrafo em campo e, no máximo, levam amarelo. Michel, do Juventude, bateu até na sombra domingo retrasado, em jogo contra o Corinthians. Túlio, do Botafogo, deu um chute na cara do são-paulino Leandro. Foi para o chuveiro. Mas cadê o STJD?


Joel e Renato, então, nem se fala. Um mandou baixar o sarrafo nos santistas - já senhores do jogo - que fizessem gracinha. O outro afirmou em alto e bom som que o Fluminense estava sendo "roubado".


Foram absolvidos.


Às vezes acho que sou meio burrinho com algumas coisas. Custo a entender a lógica de certos acontecimentos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Uma derrota mais do que esperada




Ontem foi o jogo mais esperado do pré-olímpico de basquete. O Brasil de Lula Ferreira enfrentaria os extraterrestres dos Estados Unidos. Com contra-ataques supersônicos, os caras arrebentaram com todos Venezuela, Ilhas Virgens e Canadá ainda no primeiro quarto. Depois de maus resultados em Atenas e no último mundial, os norte-americanos resolveram levar, de novo, os seus melhores jogadores. Que é pra dizer quem manda no cenário mundial.

E o Brasil até que deu trabalho no primeiro tempo. Com uma defesa sólida, dificultava bastante o trabalho de feras como Kobe Bryant - que passou o jogo inteiro na sombra de Leandrinho - Carmelo Anthony, Lebron James e Jason Kidd. Fechou a etapa apenas dezenove pontos atrás.

Mas, no segundo, a eterna instabilidade brasileira falou mais alto. E, contra as feras, isto é mortal. E aí, o time brasileiro foi jantado de garfo e faca: 113 a 76.

É bom que se diga que esta era uma derrota mais do que esperada, que não pode ter impacto destrutivo sobre a equipe. Porque há apenas uma vaga olímpica em jogo - uma já é dos ianques. Alguma dúvida disso?

E os jogos-chave, na segunda fase, são contra Argentina e Porto Rico - esses, sim, os maiores adversários brasileiros. Já o Canadá, embora não possa ser totalmente descartado, se mostra bastante enfraquecido com a ausência do sensacional Steve Nash.

Torçamos para que essa ótima equipe não perca o foco. Porque o passaporte a Pequim é um troféu difícil de ser conquistado. Mas bastante possível.

Valeu, Jadel




Não foi dessa vez que o Brasil quebrou o jejum de medalhas de ouro em mundiais de atletismo. Um dos favoritos no salto triplo, Jadel Gregório ficou com a medalha de prata com a marca de 17,59 m. O português Nelson Évora, com 17,74m, ficou com o título. A modalidade não contou com a presença do atual campeão olímpico, o sueco Christian Olsson, que se recupera de lesão.

O paranaense não conseguiu chegar perto de sua melhor marca na prova - 17,90, conquistados em Belém. Assim, iguala-se a Sanderlei Parrela, vice mundial em Sevilha nos 400 metros (ele perdeu só para o Michael Johnson, que, por correr ereto e meio desengonçado, era apelidado de pato. Mas era assim que pulverizava os seus adversários) e à equipe do revezamento 4 x 100 masculina em Paris, com Vicente Lenílson, André Domingos, Edson Luciano e Cláudio Roberto Souza - apenas 2 décimos atrás do quarteto norte-americano.

Em Atenas, o brasileiro estava entre os cotados para ganhar medalha. Mas não conseguiu transformar em realidade esta condição. Ficou apenas em quinto lugar. No Pan do Rio, levou o ouro já no primeiro salto.

Jadel é o terceiro de uma linhagem nobre de triplistas brasileiros. Na Olimpíada de Helsinque, em 1952, Adhemar Ferreira da Silva voou a 16,22 m e estabeleceu recorde mundial e levou o ouro. Repetiu o título olímpico em Melbourne, quatro anos depois, mas já havia alcançado novamente a melhor marca mundial no Pan do ano anterior, na Cidade do México: 16,55. Os 16,35 coroavam uma referência olímpica.

Duas décadas mais tarde, nos jogos de Montreal, João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, conquistaria o bronze, com 16,90. Na olimpíada seguinte, em Moscou, João chegou a 17,80. Mas a marca não foi homologada pelos juízes da época. Com a clara intenção de favorecer os atletas da casa, os juízes anularam outros cinco saltos do brasileiro. Assim, João ficou com um indigesto bronze de 17,22. Atrás de Jaak Udmae e Viktor Sansev.

sábado, 25 de agosto de 2007

Marcia, meu eterno soldado


Hoje é o dia do soldado. A data é uma homenagem a Luis Alves de Lima e Silva, o patriarca do exército brasileiro, mais conhecido por Duque de Caxias. Nos dicionários, a palavra pode significar tanto a menor patente do exército como o defensor de uma causa.


Hoje é o dia em que um grande soldado completa mais uma volta pelo universo. Defensor de um eterno ideal, que muitas vezes veste a capa e voa. Mesmo quando aquele que protege não está em perigo.


Esse soldado querido não mede esforços para defender a sua pátria. Se puder, move montanhas e entrega a própria vida por ela.


O guerreiro que tem a rosa por espada e a garra por vocação... é a mais completa tradução da palavra amor.


Tudo o que eu disser a ele será pouco, perto do que ele representa.


Dona Márcia Aparecida é o tal soldado. E eu, metade da sua pátria. Nem parece que vai completar os seus 56 anos. Mas pontua aqui uma vida de luta.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Timão perde. Brasil ganha

A quarta-feira, como sempre, é quase tão esportiva quanto o domingo.

E esta que passou não foi diferente.

Começou cedo. O Brasil de Dunga jogou pro gasto. E venceu a Argélia por 2 a 0.

À noite, a estréia do Brasil no pré-olímpico masculino de basquete. E a estréia do meu Corinthians na Sul-Americana.

Fiquei entre um e outro.

O Botafogo foi marcando um golaço logo no primeiro minuto.

Continuei alternando.

O Brasil fazia um grande primeiro quarto contra um Canadá sem a fera Steve Nash

E o Gaciba inventa uma falta da entrada da área.

Gol de Lúcio Flávio

Permaneci na mesma balada.

O Canadá havia diminuído para 4 uma diferença que chegou a ser de 13

Aí, o Carlos Alberto me faz o favor de dar o terceiro gol de graça.

Aí, desisti de ambos.

O Carpegiani foi impruidente ao poupar o Vampeta. Era o equilíbrio que fazia com que o time jogasse bem. Coisa que não existiu nesta partida.

Mas... será que o time está levando a competição a sério?

Sempre defendi a idéia de usar a Sul-Americana como um laboratório para a Libertadores. O Palmeiras fez isso em 98 - quando ela se chamava Mercosul - e teve sucesso.

Um sucesso que ainda me dói muito.

Agora, precisa ganhar dos caras - um time mais bem organizado - por dois gols de diferença.

Parada duríssima

Mas a magia corintiana não deve ser descosiderada. Ainda.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Dois pesos, duas medidas

Ainda que tardiamente, quero voltar ao assunto das vaias do Pan. Apesar de alguns excessos, muito defendi os torcedores brasileiros durante as competições.

E acabei por passar batido pela hostilidade cometida contra os garotos do futebol.

Depois da derrota para a seleção sub-20 do Equador por 4 a 2, a torcida agiu com incrível crueldade: chamou a equipe de "timinho". Como se a disputa fosse entre iguais. Os equatorianos se valeram da regra de poder contar com pelo menos três jogadores com mais de 20 anos.

Na coletiva, Lulinha chamou a responsabilidade. Explicou a derrota. E, depois, caiu em pranto. A reação sacana dos torcedores presentes ao Maracanã foi um baque sentido por todos eles.

Vôlei e basquete femininos foram muito mais decepcionantes. E não receberam nem um décimo das vaias.

Hoje, esses mesmos garotos estão na Coréia e já deram duas goleadas: 7 a 0 na Nova Zelândia - com direito ao gol mais rápido da história de competições Fifa - e 6 a 1 na Coréia do Norte.

Se forem campeões, será que a reação da torcida será a mesma?

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Caminheiro da cultura

O trânsito já ia alto lá fora quando o Cotia começava a deixar o Largo de Pinheiros. Na saída da Sumidouro para a Eugênio de Medeiros, uma voz lá do fundo começa a ganhar força. Algum engraçadinho falando alto ao celular. Ou um daqueles pedintes insuportáveis.

Era um ator. Fazendo do ônibus o seu palco. Não me senti tão invadido. De óculos improvisados e nariz vermelho, PM, o Palhaço Maluco ("Não confunda, minha senhora!") despejava doses de alegria. Que nem todos os passageiros entendiam, ou se interessavam em beber.

Enquanto o ônibus ganhava a Raposo Tavares, PM entretia a platéia com metalinguagem. Referia-se à turma do fundão como "O Camarote 23". Quem estava na frente era o Vip ("A pipoca já chegou aqui.") Antes de começar, fez alguns testes de voz. Alugou o cobrador, dando-lhe um nome engraçado - ele se chamava Marcio - e espalhando aos ventos que era o seu aniversário. A cada passageiro que entrava, dava o seu boa-noite... e nem sempre agradava. O suor do dia fazia os passantes amargos.

Foi embora deixando um pouco de alento a quem se abriu à experiência. Cheguei ao meu destino um pouco mais leve

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Seguir viagem

Minha estrada é deserta
Solavancos assustaram
Atalhos iludiram
Buracos machucaram
Mas ainda sigo viagem

É noite
Uma lembrança sombria
Atormenta a caminhada
Estrela de um sonho bom
Impede o desespero
Impele a trajetória
E ainda sigo viagem

Bifurcação
À direita, um sol vacilante
À esquerda, tempestade decidida
Quero seguir o caminho do sol.
Mas o vento leva à tormenta
Algo em mim diz pra não ir
Mas o exterior
Diz que a luz vem adiante
E é o destino.
Sinto o desejo de parar
Mas, contra a vontade
Sigo viagem

Melancólica, a serra chega ao fim
Fim da etapa. É hora de descer
Lá embaixo, névoa cega o futuro.
Mas sinto
Que devo seguir viagem

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Uma face velada do racismo

No post "Saretta volta a encarnar a fênix", reclamei que, nas listas dos caras mais bonitos do Pan não figurava nenhum atleta negro. Estavam presentes Giba (vôlei), Bruno (handebol), Murilo (basquete), Lucas Vita (pólo) e o norte-americano Thomas Hopkins. No Terra, figuravam nomes como André Heller, Flávio Saretta, Gustavo Borges...

Todos brancos.

Achei que fosse o único. Mas ganhei o eco do ator Lázaro Ramos.

"Continuamos 'arianistas' no nosso inconsciente e no nosso subconsciente. E até gritantemente no nosso consciente."

É por aí, mesmo. A beleza que se desenha no imaginário brasileiro tem traços europeus. Nas revistas especializadas, pouquíssimo se vê como modelos homens e mulheres negros. Surgiu a revista Raça para mudar isso. E muitos a tacharam de racista.

Se perguntarmos às mulheres quem são os belos da bola, aparecerão na ponta da língua os mesmos estereótipos. Com os homens, isso não ocorre tanto. A beleza de mulheres como Camila Pitanga e Taís Araújo é indiscutível.

Pode parecer um assunto banal, mas este é o tipo de coisa que diz um pouco da identidade de um país. Neste aspecto, reina no ar boa dose de hipocrisia. Não admitimos o ranço aos "diferentes". Mas o temos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Agonia corintiana


Quando Alberto Dualib venceu Vicente Matheus nas eleições indiretas de 1993, o Corinthians parecia caminhar para um novo tempo. Não se esperava títulos, mas um mínimo de profissionalismo.


Não foi bem isso o que aconteceu. Muitas conquistas importantes vieram. A preço da modernização do clube.


O alvinegro não se via livre de momentos de tensão. Sofreu ameaça de rebaixamento em 97, montou o pior time de sua história em 2004 - quando sofreu o vexame de só se livrar da queda no Paulista graças à vitória de um rival...


E se associou a um grupo britânico pra lá de misterioso no ano seguinte.


Opositores de Dualib se mostraram contrários à parceria e até fizeram algum barulho. Mas a vinda de um certo Carlitos referendou o pacto.


A torcida - confesso que me incluo - se entusiasmou. Chegou a gritar o nome do tal Kia nas arquibancadas. Nem por isso deixaram de aparecer as denúncias.


Eis que o mesmo Dualib que trouxe a MSI resolve brigar com o iraniano. Diz-se que por causa de umas comissões que a neta deixou de receber.


E estava formada a confusão.


E a instabilidade do time se fez ainda mais acentuada. Jogadores, técnicos e dirigentes iam e vinham como se trocassem de roupa. Como bola de neve, a coisa ia crescendo... e atingindo em cheio a dignidade do torcedor. Que resolveu reagir.


Criou um movimento para expulsar Dualib da presidência. E, qual caixa preta de avião, novas acusações apareceram.


Ontem, o cartola foi afastado da presidência.


Espera-se que um dos clubes mais populares do país tenha, a partir de agora, uma fase que culmine com dirigentes à altura de sua grandeza.


SALVE O CORINTHIANS, CAMPEÃO DOS CAMPEÕES

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Triste futebol de outros caminhos


Nos últimos tempos, o futebol tem andado em polvorosa. Menos pelo que se apresenta em campo, o que nao é muita coisa hoje em dia, mais pelo que expressam técnicos e, recentemente, um juiz - este, de toga e sem apito.

Manoel Maximiano Junqueira filho indeferiu processo movido pelo jogador são-paulino Richarlyson, que processava um dirigente do Palmeiras que insinuou, em um programa de TV, que ele fosse homossexual. Em nota, o meritíssimo disse que não há notícia, em grandes times, de jogadores gays. E, se Richarlyson é, que crie uma liga específica.

É como se voltássemos aos primórdios, quando o futebol era aristocrático, e negros não passavam nem na porta. Um minutinho de pitada histórica: Conta-se que Carlos Alberto, vindo do América para o Fluminense, disfarçou a pele escura com pó de arroz por medo de discriminação. Mas o suor fez o disfarce desbotar. Daí a alcunha de "pó de arroz" dada ao tricolor. Tá certo que o professor Antônio Jorge Soares não vai muito com a cara dessa história. Segundo ele, por ser filho de um fotógrafo renomado na época, Carlos Alberto não tinha por que temer o preconceito. Na versão de Soares, o pó de arroz simbolizava o empoamento da sociedade da época. Mas, nesse tempo, o primeiro clube a aceitar negros foi o Bangu, em 1916 - seis anos depois da implantação do futebol no país, e a 28 de distância da abolição.

Outra travessura da Justiça que pode se desenhar é uma provável punição ao técnico do São Paulo, Muricy Ramalho. Como cidadão, o treinador discordou da decisão do STJD de absolver o doping do botafoguense Dodô. Além do mais, ele teria insinuado que, se o jogador fosse do São Paulo, seria impiedosamente punido, pelo fato de o Tribunal ser no Rio, e alguns desembargadores ser torcedores do Botafogo.

Uma provável punição de Muricy significará um tiro no pé da democracia.

Agora... quem pisou na bola foram Renato Gaúcho e Joel Santana. O Portaluppi não mediu palavras para criticar a arbitragem e disse, com todas as letras, que o Fluminense foi "roubado". Na Vila Belmiro, Joel foi flagrado mandando bater caso os jogadores do Santos, já sacramentando o 3 a 0, resolvessem fazer gracinha.

Uma condenação severa demais será uma tempestade em copo d'água. Mas deve ser coibida, sob risco de precedente.

Tristes tempos estes. O exterior não nos leva só os craques, mas o papo que deveria predominar: as grandes jogadas.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Greve

Ainda era madrugada quando Elza acordou. Quatro e meia. Precisava chegar às nove na Sé. Enfim uma entrevista. Dali a um mês comemoraria aniversário de desemprego. Graças a uma reestruturação daquela loja de roupas do Eldorado. Em frangalhos contábeis, resolveu cortar cabeças. Sobrou! Como pagaria a faculdade?

De bico em bico foi pagando o que dava, e não era muito. Seis meses de atraso. Não tinha mãe pra ajudar. Implacável, o infarto não deixara tempo de reação. O pai, coitado, não tinha aposentadoria que chegasse nem pra casa.

Vestiu do seu melhor conjuntinho e esperou deixar o Campo Limpo o quanto antes. Torcendo para que aquela marinete lotada não a amassasse inteira. E para que mãos mais atrevidas não a atacassem.

A caminhada até o Terminal fora mais acidentada do que de costume. O coletivo ficava mais tempo parado do que em movimento. A Estrada de Itapecerica era um oceano de carros, caminhões, ônibus e vans. Os motoboys se polivaliam em ziguezague, buzinaço e xingamentos. E ai de quem não desse passagem.

Seis e meia. Que o trânsito de São Paulo é insano, não é novidade. Mas a esta hora? O que é que tá pegando? Desceu no João Dias ainda tentando se refazer da tontura. Tomada de raiva e desespero: "Parece que os deuses conspiram contra mim."

Era verdade. Alguém nos céus, definitivamente, não gostava dela. O maremoto se repetia lá dentro, dessa vez com pessoas. E barulho. Tanta gritaria formava uma sonzeira uníssona de coisa nenhuma. Ensandecida. Conseguiu distinguir uma frase no meio da babel.

- O metrô tá de greve.

Percebeu que não eram os deuses das ruas os culpados. Não é possível. Justo hoje? Não vou conseguir.

Quinze pras oito. Finalmente conseguira pegar o Terminal Bandeira. Espremida entre hálitos e cotovelos.

Mas a marginal teimava em não andar. Oito e quinze. Batia os pés e resmungava. Sentia vontade de voar no pescoço de um daqueles homens de cinza. Quis descer e sair correndo pelo meio do trânsito. Conseguiu capitalizar o pouco de lucidez que lhe restava e permaneceu no lugar.

Dez pras nove. Ufa! A Nove de Julho deu uma folga no estresse. Chegou ao Bandeira ofegante. De sentidos turvos. Pareceu apagar em pleno movimento. Chegaria ao local combinado às nove e cinco. E à porta um aviso: "Vaga preenchida!"

Voltou a si. Foi catando as notícias aqui e ali. Soube de um tal de PR que os metroviários queriam. Não queria saber. Já faltavam cinco pras nove. Iria a pé, mesmo.

Nove e cinco. "Já era. Mas não cheguei até aqui pra desistir". Chegou à recepção tentando botar o coração no lugar. Subiu. Já cheia de vergonha pelo atraso, bateu à porta.

- Pode aguardar, disse a recepcionista. O seu Ferreira tá preso no trânsito e vai se atrasar um pouco.

Aliviada, Elza não deixou escapar a ironia. A paralisação que lhe foi tão inimiga havia também dado uma mãozinha.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

As orquestras do esporte


A década de 60 conheceu um grupo de notáveis absolutamente fantástico no que faziam. Entre eles, um rei. Uma orquestra de harmonia impecável, cujo spalla vinha de outro mundo.


Os músicos, muito jovens, vieram de diferentes partes do país. Com a referência de tantos artistas mais experientes, foram acertando o que seria a mais bela reunião de artistas que já se viu.


Quebrava até o protocolo. Enquanto as sinfonias habituais se vestiam de preto, esta geralmente usava branco. E mesmo a platéia mais exigente aplaudia de pé. Alguns entusiastas mais jovens só tinham olhos para o solista. Mas havia também o violoncelista, que se posicionava do lado esquerdo. De sonoridade vigorosa e potente. O clarinetista da linha de frente, mais sutil do que seus pares. Um tocador de harpa veloz, do lado oposto ao homem do violoncelo. E um discreto violista, oposto ao spalla.


Na parte de trás, tubas, trompetes e percussões davam a segurança necessária. No meio deles, o maestro, bravo como nunca, fazia com que aquele grupo de notáveis atuassem em conjunto.


E conquistaram juntos os palcos do mundo inteiro. Embasbacou Benfica e Milão. E, embora paulista, se viu nos braços do Rio.


Essa orquestra, que não vi tocar, é o tão decantado Santos de Pelé, a mais famosa hegemonia do esporte brasileiro.


Para compensar essas tantas histórias que não vivenciei, um novo grupo de notáveis reproduz tamanho domínio nos nossos dias: a seleção masculina de vôlei.


Uma orquestra menor, mas não menos afinada. Giba é o artista completo. Defende, passa e ataca do fundo. Gustavo é o central vigoroso, que bate rápido, bate forte e ergue uma quase intransponível muralha sobre os adversários. Rodrigão, o outro jogador de meio, é mais cerebral, de saque maroto e ataque veloz. O hábil Sergio vai como um raio nas bolas que passam pelo bloqueio. Dante faz um inferno das defesas oponentes. E André Nascimento, o canhoto do time, faz das jogadas difíceis o seu triunfo. Regidos pelo mais louco maestro de que se tem notícia: Ricardinho.


Todos unidos pelo rígido controle do diretor artístico Bernardinho.


Essa trupe traz consigo inúmeros troféus: seis Ligas Mundiais consecutivas, um Mundial, um ouro olímpico e um pan-americano.


E é muito raro vê-los desafinar.

Olha eu aí.


Esse aí sou eu

Tô tentando colocar, de novo, a minha foto no perfil. A outra desapareceu do mapa. hehe

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Elton John pede o fim da internet. Pode?


Esse Elton John é uma figura.

Acdredita que ele pediu a extinção da internet? Pois é... ele acha que a rede está destruindo as relações pessoais e a música.

Tudo porque a vendagem do seu último trabalho foi um fiasco: 100 mil cópias.

Em vez de se adaptar aos novos tempos, o ilustríssimo cantor prefere que o mundo recue à idade da pedra. É como se pedissem o fim da televisão para não destruírem o rádio.

Pois saiba ele que a rede não acabará com a música. Pelo contrário! Alguns artistas não existiriam se não fosse por ela. E até as gravadoras estão se mexendo para não ficar pra trás.

Outros também se adaptaram aos novos tempos. Prince, por exemplo - por quem nunca morri de amores - prefere dar de graça os seus CDs. A sua fonte de renda são os shows.

Quanto às relações pessoais... elas estão a salvo. Não há MSN que substitua o olho no olho.

A hipocrisia do Tio Sam

Acabei de receber um e-mail que me deixou de cabelo em pé. Uma empresa norte-americana propõe a "venda" da Amazônia, porque os países que a abrigam não estão a sua altura.

E aí, eu pergunto: vocês, ianques, estão à altura do planeta em que vivem? Vocês são os campeões mundiais de poluição atmosférica. Chegaram ao cúmulo de se recusar a assinar um compromisso de reduzir as emissões de gás carbônico.

E as suas florestas, senhores caras pálidas? Onde estão? E os seus índios?

E os direitos humanos, Tio Sam? Guantánamo, Iraque, Afeganistão, Vietnã, Hiroshima, Nagasaki... puxa vida, como os senhores tratam bem os cidadãos desse mundo, não?

Com que moral os senhores vêm espezinhar Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Guianas e Peru?

Depois não querem receber vaias...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A cidade louca nos enlouquece


Um de meus maiores defeitos é me indignar em demasia por cotidianidades. Ainda estou trabalhando isso.


No trânsito desta babel desenfreada que é São Paulo, não é lá muito fácil manter a calma.


Dia desses, estava eu na Berrini, uma espécie de Avenida Paulista emergente. Mui paciente, esperava para voltar pra casa.
Eis que aparece uma de minhas opções. Como havia outros ônibus a sua frente, ele pára a uns 100 metros do ponto. Um ou dois apressadinhos espertos - figuras detestáveis, mas estou trabalhando isso - correm para embarcar.


Como sempre faço, espero a sua chegada no ponto. Mas, como se não tivesse mais obrigação de parar, o motorista sequer olha ao meu sinal e vai embora.


Tudo bem. Há outras alternativas.


Vem um outro lá atrás. Nova parada a poucos metros de onde estou. E mantenho a posição de aguardá-lo no ponto.


E este faz a mesma coisa.


E aí, perco a compostura e exagero na dose. Solto um palavrão a plenos pulmões.


Uma vergonha imensa toma conta de mim. Depois, raciocino: o cara não ouviu, porque o motor berra a seu lado.


Retomo a calma e vou em um terceiro coletivo. Que, aleluia, pára.


Para amainar a minha própria consciência, desembarco dizendo "obrigado" ao motorista.


Cidade estressante é um eterno desafio aos nossos nervos. Mas é preciso tentar.