quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Trajeto

Nuvens fechavam o céu; chuva duradoura se insinuava. O trânsito da Francisco Morato obedecia a um início de tarde tranquilo, como nem sempre acontece na metrópole. No ponto, a bucolia de uma moça que falava ao celular e de um casal adolescente que exalava paixão. No bar em frente, ébrios de sempre se arrastavam pelas paredes. E o ônibus que não chega!

Acabara de preencher ficha e se submeter a uma prova de inglês. Sempre impaciente, o ônibus não chegava de jeito nenhum. Mas, se viesse lotado, não tomaria. Preferia se abraçar ao estresse da pressa a entender é dura a vida de uma ervilha enlatada.

O Praça da Bandeira obedecia aos seus requisitos; havia até lugar pra sentar! Poderia abandonar a realidade, ainda que por instantes, para mergulhar na leitura. Mas o pensamento não parava quieto. Ora observava o desenrolar de "Iaiá Garcia", ora voava em um futuro que ainda não chegara. E talvez nem chegaria.

Uma terceira via arrancava todos os devaneios. Sempre munido do script de sempre, um ambulante andarilho vendia quinquilharias: doces, balas e afins. Apesar do eterno discurso, escapava de vitimizar-se. Agia como vendedor. Educadamente, dispensou os seus serviços.

Quando o coletivo se preparava para subir a ponte, outro transeunte chamava a atenção. Dessa vez, o voluntário de uma organização que cuidava de dependentes químicos. Distribuía canetas que continham mensagens bíblicas e um aviso que prevenia o público dos falsos vendedores. Fez um gesto de impaciência, mas acabou comprando a caneta.

Desceu na Consolação. A confluência com a Paulista, pra variar, apinhada de gente. Misturou-se ao mar de gente mergulhado em esperança.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Não foi a mesma coisa

Um jogador a menos e gramado mais pesado.


Não importam as justificativas. O Corinthians não repetiu a atuação de domingo. Errou mais passes e chegou pouco ao ataque.

Mano Menezes repetiu a escalação do jogo contra o São Paulo, com Carlão fazendo um falso terceiro zagueiro pela direita. André Santos e Alessandro deveriam dar mais qualidade ao meio campo jogando como alas, o que não aconteceu.

Eu começaria com Everton Ribeiro, já que o Sertãozinho é mais fraco do que o São Paulo.

No começo, a coisa parecia funcionar. Alessandro, como sempre, se movimentava bem e iniciou boa jogada. Finazzi, mais uma vez em dia pouco inspirado, perdeu as duas melhores chances do jogo. Mais uma vez, Perdigão distribuía as jogadas.

Mas ele cometeu duas faltas passíveis de cartão amarelo. E, desgraçadamente, teve de tomar banho mais cedo.

Era hora de os laterais se revezarem no meio para tentar fazer com que a bola chegasse ao ataque. Principalmente André Santos. Ora, o time estava, teoricamente, com três zagueiros e um protetor de zaga (Bruno Octávio). Se saísse um de cada vez, o time não ficaria tão desprotegido. Porque o Sertãozinho não utilizava as laterais.

Mano agiu rápido. Sacou Acosta - de novo - e colocou Bóvio para cobrir o rombo.

Mas ele entrou para destruir, e o time ficou acéfalo.

Aí, o time mandante resolveu jogar nas costas do Alessandro. E levou perigo! Principalmente com Thiago Silvy.

Na volta do segundo tempo, o treinador consertou as coisas. Botou Coelho na direita no lugar de Carlão. Assim, Alessandro foi deslocado para o meio. Finazzi deu lugar ao argentino Herrera, que pouco fez.

Em vez disso, eu tiraria Dentinho, muito isolado, e colocaria o Lulinha, que busca mais o jogo.

Mais uma vez palmas para o sistema defensivo. Apesar de duas falhas no primeiro tempo, mais uma vez Chicão e William tomaram conta da cozinha com eficiência. Mas o parco setor ofensivo é preocupante, menos por culpa dos atacantes do que da falta de um articulador de jogadas.

Corinthians roxo?


O Corinthians lençou a versão 2008 do uniforme 3.

Essa opção além dos uniformes tradicionais segue o que já vem sendo feito desde 2006. A camisa preta e dourada era para a disputa da Libertadores.

No ano passado, ele veio como uma inversão do uniforme 2. Branco com listras pretas.

O desse ano é... ROXO!

Dizem os homens de marketing do clube que era uma forma de homenagear os torcedores, que tentaram - infelizmente sem sucesso - livrar o time da queda.

Dizer que a maior parte dos corintianos torceu o nariz para a idéia é pouco. Alguns, mais exaltados, chegaram a pregar um boicote. Outros, radicais, dizem não comprar as camisas tradicionais enquanto o time usar roxo.

Também não sou partidário da cor. Preferia que, se fosse pra fazer um uniforme 3, que fosse bege, já que remete à história do clube - o Corinthians só passou a ser ALVInegro porque as camisas beges desbotavam e ficavam brancas.

Mas a camisa não ficou nenhum desastre.

E ela só vai durar um ano.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Rescaldo do Majestoso

Depois do clássico, os são-paulinos reclamaram horrores da arbitragem.

Revoltaram-se com o pênalti em Dagoberto (têm razão) e com o gol anulado de Adriano (não têm).

Como se apitassem alguma coisa, resolveram barrar Sálvio Espínola de seus jogos. E a Federação, quem realmente apita, recuou covardemente. Pelo menos por ora.

Na coletiva, Muricy - por quem sempre nutri grande respeito pelo grande treinador que é - resolveu vestir a clássica arrogância são-paulina.

Disse que só quem não entende de futebol acha que Adriano fez falta.

Talvez ele não tenha visto que, mesmo que o Imperador não tivesse cometido infração (eu ainda acho que cometeu - e não sou exatamente um leigo no entendimento do esporte), as opiniões se dividiram.

Não se chegou a uma conclusão exata nem mesmo revendo o lance quinhentas vezes.
E Sálvio tinha pouco mais de um segundo para decidir! Estava convicto e perto do lance.

Ainda que tenham o direito de reclamar da arbitragem - todos têm - o pessoal do Morumbi precisa rever conceitos.

A Federação também!

domingo, 27 de janeiro de 2008

De injusto, só o zero a zero

Adriano poucas vezes conseguiu sair da boa marcação corintiana. Reclamou da anulação do gol, mas ele realmente fez falta em William (foto: Terra)

No primeiro clássico de 2008, Corinthians e São Paulo fizeram um jogo melhor do que se esperava.

Nos primeiros 10 minutos, o alvinegro comandou as ações. Logo no começo do jogo, Finazzi por pouco não abriu o placar.

Aos poucos o São Paulo, mais inteiro e entrosado, foi equilibrando a partida. Mas o meio-campo, comandado por um Jorge Wagner pouco inspirado, não fazia valer a tão propalada superioridade técnica.

As jogadas mais agudas aconteciam com Souza, do lado direito. Joílson parecia atuar mais como um volante, naquele mesmo lado.

Do lado corintiano, Perdigão assumiu a responsabilidade de distribuir as jogadas, já que Bruno Octávio cuidava do primeiro combate e Carlão fazia as vezes de um terceiro zagueiro.

Leve vantagem corintiana no primeiro tempo.

No segundo, o São Paulo voltou mais ofensivo. Dagoberto caía pelas duas pontas e era o jogador mais perigoso do bicampeão brasileiro. Mas o Corinthians se segurava bem, contando com atuações seguras de Chicão e Carlão.

Aí, o Mano resolveu mudar.

Sacou Acosta e colocou Lulinha. Então, ele e Dentinho jogariam mais abertos e Finazzi continuaria no comando de ataque.

Eu manteria Acosta e tiraria Finazzi.

Mas mais trocas ainda viriam. Coelho entrou no lugar de Dentinho, que atuou como ponta esquerda e fez boa partida. A sua função seria desempenhada por Lulinha, que não conseguiu ter a mesma eficiência.

E Perdigão, incansável, deu lugar a Bóvio. Seis por meia dúzia. Mano poderia ousar e colocar Éverton Ribeiro, atuando ao lado de André Santos pela esquerda. Mas preferiu ser mais cauteloso.

A única alteração de Muricy foi Carlos Alberto - que mudou de lado - no lugar de Joílson.

Aos 40, Adriano fez o gol que daria a vitória ao São Paulo. Mas Sálvio Espínola viu falta do Imperador em William. Ele acertou, pois Adriano realmente se apoiou no zagueiro corintiano.

O único erro do árbitro foi não ter dado pênalti de Chicão em Dagoberto, aos 19 minutos do segundo tempo.

No segundo tempo, o São Paulo foi ligeiramente melhor.

Não gosto muito desse papo de resultado injusto. Pra mim, isso não existe.

Mas o jogo merecia gols.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Aniversário

Cidade bandeirante, desbravadora
Monstro mantem metamorfose
Ao piscar de um instante, assustadora
Estranha encantadora esclerose

Da noite, o Masp emoldura a Paulista
Luz lancinante libertadora
Borba Gato perde o centro de vista
Cabral contempla rota redentora

Cinco cantos ecoam a periferia
Ritmo, hip, hop, prosa e poesia
Surge um conceito de luta
Da união, nasce a disputa

Monstros emergem do esgoto
Misto, rito, mito, roto
Na noite negra fazem festa
Retidão não tá escrita na testa

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Falando de São Paulo

Noite fria em pleno verão. Assim foram brindados os céus da Paulista para uma noite de debates sobre a aniversariante de 25 de janeiro. O evento é um entre tantos promovidos pela Folha. Sob o tão maltratado Masp dos últimos dias, a fila era intensa, mas, ao contrário do trânsito do rush, rápida. Antes de entrar, um senhor atrás de mim é abordado por um repórter. Tem por expectativa que seja discutida a história vista sob o prisma arquitetônico.

Seu Paulo diz que não tinha muito interesse em São Paulo até fazer um trabalho sobre a cidade. "Os imigrantes italianos se instalaram na Mooca e no Brás. Hoje em dia, é lá que se encontram os tantos conflitos da cidade". Vai mais longe. Diz que a Light deixou a cidade porque a indústria automobilística começava a florescer. E, com ela, fenecia o transporte ferroviário.

Descemos. E, aos poucos, o auditório vai tomando ares de casa cheia. Lá na frente, os palestrantes já conversavam. Ao soar da campainha, eles tomam seus lugares.
Gilberto Dimenstein faz as vezes de mediador. Começa contando que fazia 10 anos que retornava à cidade depois de um período em Nova York. Disse achar impossível uma cidade como aquela melhorar em tão pouco tempo. Mas ela melhorou. Assim como ele acredita que São Paulo também está melhorando.

Delfim, que passou a infância soltando quadrado no Cambuci, concorda. Mas enfatiza que algumas coisas têm melhorado menos do que deveriam. Barbara protagonizava os melhores momentos. Sabia rir até de momentos trágicos passados na cidade. "Fui sequestrada na Avenida Sumaré. E, no final, fiquei amiga do bandido."

Capixaba radicada no Rio, Danuza Leão poderia não ter muito o que acrescentar: "Não conheço São Paulo muito bem. Quando venho para cá, é para visitar minha filha e meus netos." Ledo engano. Sua participação foi bastante interessante. Principalmente em interessantes paralelos traçados entre paulistanos e cariocas. "Vocês vivem a cidade. O carioca gosta é de praia."

Apesar de ter uma visão extremamente otimista, ("Eu não escrevo todas as minhas colunas sobre São Paulo porque este fanático faz isso no mesmo dia que eu", diz Bárbara) a visão de Dimenstein não é desprovida de críticas. Diz que São Paulo errou feio ao não construir metrô e nas marginais. "O rio é a alma de uma cidade. Mas o Pinheiros e o Tietê são verdadeiros esgotos a céu aberto". Ele disse que, no lugar das vias que sempre ficam apinhadas de veículos ao longo dos rios, poderia haver parques.

Mas o jornalista, que coordena o Projeto Aprendiz também ressalta que a importância dos bairros está renascendo da cidade. "Tenho horror ao Alphaville e a essa coisa condominial que está surgindo." Cada vez mais as pessoas estão utilizando os serviços presentes em suas próprias localidades. "No Rio, isso também acontece. As pessoas tentam sair o mínimo de seus bairros.

Ao final, apesar de todo caos, a perspectiva de todos é que, daqui a 25 anos, a cidade esteja cada vez melhor. Os anseios de seu Paulo não foram atendidos. "Eu esperava mais". Mas, para mim, valeu. Foi um respiro de alívio para quem, durante os demais dias do ano, vê essa eterna babel em metamorfose ser demonizada.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sombra

Perdeu-se pelas esquinas
Abraçou uma lembrança
Agarrou-se a um sonho
Quis libertar-se

Não conseguiu

Tentou vislumbrar esperança
Logrou mudar de rumo
Julgou escapar da cobrança
Mandou o corpo voltar ao prumo

Não conseguiu

A vida eterno pergaminho
Aquele coração sempre senzala
Desarmado, desviava do espinho
Da prisão falso furor propala

Será continuar o caminho?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Um roteiro de sucesso. Que não existe.


Ontem eu assisti a um dos filmes mais bem sacados que já conheci.

"Roteiro de Sucesso" é a história de Kevin, um roteirista frustrado que arruma emprego numa produtora. Logo de cara, é avisado que não terá a menor chance de crescer ali dentro. Mas o que saturava, mesmo, era a falta de opinião dos colegas acerca de grandes trabalhos que iriam em breve a Hollywood.

Eis que joga ao vento uma história que não foi escrita: "O Terno Novo", de um certo Jordan Strawberry. Só que o que era pra ser brisa se transforma em furacão. Todo o meio cinematográfico fica sabendo do tal "new suit" e corre em polvorosa em sua busca. Tal como entidades onipotentes trabalhando em grupo, roteiro e autores fictícios armam uma teia de situações da qual o pobre Kevin não tem como sair. Como não pôde vencê-la, jogou o seu jogo.

Trata-se de uma bem humorada crítica ao hermetismo das relações hollywoodianas, repletas de um obscurantismo ao mesmo tempo perigoso e fascinante, e à falta de idéias próprias de quem quer que seja. Prova disso são os abobalhados colegas de Kevin, que fazem elogios rasgados a scripts que sequer leram. Isso se torna evidente quando comentam sobre o tal terno novo com sábia hipocrisia. Discorrem sobre um filme cuja idéia sequer existe.

Aos assinantes da Net, passa no Telecine. Vale a pena conferir

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Carnaval ponte aérea, linhas paralelas. Será?

Os carnavais de Rio e São Paulo tomaram direções paralelas no caminhar das décadas. Cada vez mais, as duas retas andam se encontrando por aí.

A cidade maravilhosa, a mais importante do país até os anos 60, capitalizava elementos do chamado grande carnaval, o da elite - os bailes mascarados importados da França e as sociedades carnavalescas - com os do "pequeno", o do povo - entrudo, congadas e cucumbis para formar as escolas de samba.

Do outro lado da Dutra, a então acanhada São Paulo herdava o samba rural trazido do interior pela crise do café. Esses pioneiros se instalaram principalmente em regiões operárias, como Bixiga e Barra Funda, terreiros de duas das mais tradicionais organizações carnavalescas da cidade: respectivamente, Vai-Vai e Camisa Verde e Branco, que por décadas se consagraram como cordões carnavalescos.

Até meados dos anos 70, o desfile de cordões - sem comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira e com um batuque fortemente calcado em instrumentos pesados como surdo e treme-terra - eram em São Paulo mais relevantes do que as escolas de samba que já começavam a surgir - entre elas, Nenê de Vila Matilde e Unidos do Peruche. Começava aí a primeira influência carioca no carnaval de São Paulo, já que o desfile das escolas eram a manifestação carnavalesca mais importante do Rio.

Em 1967, o prefeito Faria Lima dá ao carnaval um caráter oficial. Tinha como objetivo fomentar a produção de cultura. Mas as verbas que deveriam ser destinadas a tantas festas espalhadas pela cidade acabaram centralizadas na realização do desfile de escolas de samba, o que matou os cordões. Camisa e Vai-Vai tiveram de passar por uma metamorfose para sobreviver. Mais uma influência de Sebastião do Rio sobre Paulo de Piratininga.

A ponte aérea ainda apresentava semelhanças. O desfile do Rio passou da Presidente Vargas para São Januário, voltou à Presidente Vargas e foi para a Presidente Antônio Carlos. De lá, instalou-se definitivamente na Marquês de Sapucaí, onde, em 1984, foi inaugurada a famosa passarela do samba. Em São Paulo, a história começa no Ibirapuera, passa pela Avenida São João e desemboca na Tiradentes. Mas os paulistanos também vêem a necessidade de se construir um sambódromo. E se mudam do centro para a zona norte em 91. Nova influência carioca. A diferença é que o Anhembi - localizado entre as pontes da Casa Verde e do Limão - se erigiu no contexto de um pólo cultural. Não era um logradouro estabelecido.

No entanto, cada uma tinha suas próprias características. Na Sapucaí, o desfile se dividia em duas noites: domingo e segunda. E o Anhembi ainda seguia o cronograma da Tiradentes. Uma única noite de sábado. Até que em 2000 seguiu os passos do irmão maior.

E então nossa viagem desembarca no presente. Oito anos depois, uma nova diferença virou água. Tal como no Rio, São Paulo adota o quesito "samba enredo" no lugar de "letra do samba" e "melodia". Talvez influenciada pelas críticas feitas pelos comentaristas da Rede Globo. Essa talvez tenha sido a pior mudança que São Paulo fez, pois deixou de lado todas as nuances que separam letra de melodia. Eles separados faziam mais sentido.

Não sou contra trazer elementos de outras praças, até as portas abertas só enriquecem. Mas essa antropofagia não pode engolir uma essência que era necessária ao espetáculo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Procura-se caixa de som desesperadamente

Já faz um tempo que estou sem caixas de som aqui no micro.

Preciso correr atrás de uma com certa rapidez, porque às vezes perco coisas boas que requeiram áudio.

Acabei de chegar da loja e simpatizei com uma que custava os seus sessentinha.

Aí, o vendedor me indicou outro conjunto, da mesma marca, por R$ 85. Segundo ele, era melhor e mais potente do que a outra.

Preferi pensar melhor antes de fechar com qualquer uma.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Clássico das multidões

Em tempos bicudos de série B, passei pra lembrar de um grande jogo que fui assistir com meu tio.

Era a primeira Copa do Brasil. O Corinthians havia chegado às quartas-de-final. E enfrentava o Flamengo. No primeiro jogo, no Maracanã, os rubro-negros venceram por 2 a 0. Zico e Júnior, já velhos, ainda jogavam. Apesar de adversário, era um prazer escondido ver o grande Galinho de Quintino

Ainda de frente pro Ronaldo, Jairo disse: "Vamos para o lado que o Corinthians ataca." Em tempos em que não havia separação de setores tão rígida, fomos da lilás pra amarela, onde geralmente fica a Gaviões. Dessa vez, encarando o eterno reserva Cantarelle.

Neto marca um gol olímpico logo de cara. Mas Zico empata de cabeça.

No segundo tempo, o Timão reagiu. Neto, de novo, Eduardo - com um petardo de longe - e Dida deixavam o time na boca da classificação. Por diferença de gols.

Depois do quarto gol, o negrão não se conteve. Foi pro alambrado tirar um sarro dos flamenguistas.

Pra quê? No último respiro, Junior tocava na saída de Ronaldo.

Fim de papo, porque a diferença se igualava, mas os cariocas se classificavam por fazer mais gols fora de casa.

A eliminação foi frustrante. Mas foi um jogaço, em que prevaleceram a mística corintiana e a malandragem dos experientes craques da Gávea.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Os dilemas do idioma

Venha tomar meu brunch.

Saiba que eu tenho approach

Na hora do lunch

Eu ando de ferryboat



Em Samba do Approach, os Zecas Baleiro e Pagodinho brincam com os estrangeirismos que invadem a língua portuguesa não é de hoje. Com esses temperos importados, a versão brasileira do idioma ganha corpo e enriquece. É assim que a Veja critica duramente uma proposta do ex-presidente da Câmara, Aldo Rebello, de proibir palavras enlatadas em anúncios, meios de comunicação, documentos, letreiros de lojas e restaurantes.

Bem verdade é que qualquer tentativa de se fechar para tudo o que vem de fora. Até o fim dos anos Sarney, o Brasil se protegia do capital estrangeiro, sob o argumento que a indústria do país não teria força para competir. Na verdade, tal fraqueza vinha justamente dessa muralha. Porque, com pouca concorrência, não havia tanta preocupação com o consumidor. A derrocada da barreira veio com o governo Collor. Hoje, o Brasil depende, e muito, do capital vindo de fora- tanto que ainda busca o tal grau de investimento concedido pelas agências de risco. E as grandes empresas brasileiras em vez de morrer, ficaram ainda mais fortes. Mais do que isso: muitas, como Vale, Gerdau e Petrobras, também investem lá fora.

O mesmo movimento acontece na língua. O protuguês brasileiro recebe influências vindas de todas as partes: inglês (shopping center), francês (abajur), árabe (açúcar), entre outras. Tudo como parte de um processo natural de transformação pelo qual todos os idiomas passam. Mesmo na língua inglesa, há palavras francesas como resumè (currículo) e fiancè (noivo/noiva). Impedir tal fluxo é, num mundo cada vez menor, uma tentativa insana de brecar o inevitável.

Contudo, o projeto de Rebelo, por mais incoerente que possa parecer, lança luz sobre um problema. Em alguns casos, a mania brasileira de preferir o que vem de fora beira o exagero. Em alguns anúncios, há palavras perfeitamente substituíveis por elementos do português. Por exemplo: levei um tempão para descobrir o que era o diabo do "delivery" escrito em fachadas de algumas redes de fast food (opa!). Significa entrega em domicílio. No meio executivo, parece que o inglês vai aos poucos jantando o português com seus "briefings", "headhunters" e quetais. Alguns jovens preferem jogar "water polo" a "pólo aquático".

Pô! Aí já é demais, né?

Se não podemos bancar os xenófobos, também não precisamos exagerar.

Nem tanto ao sea, nem tanto à land

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Reedição de Conexão

Mais uma reedição de texto do blog antigo.

Divirta-se.

Lendo a Época desta semana, encontrei duas matérias que, de alguma forma, se "conectam". A de capa diz respeito ao pânico excessivo que a violência tem provocado nas pessoas... e a reação de cada uma delas a uma situação de perigo. A outra, "O Valor da Amizade" fala de um projeto que quebra a resistência entre policiais e pessoas da favela. Esta me chamou a atenção por se referir a um "perfil de bandido" que os policiais costumam ter. Qualquer garoto de pele escura, de bermuda e chinelos seria um potencial delinquente.
Curioso é que senti os sintomas de perigo uma vez, em que estava descendo do Metrô para casa. Usava camiseta branca, calça preta e carregava uma mala. Um camburão diminuiu a velocidade... e senti que o negócio era comigo. Não deu outra. Me confundiram com um ladrão que acabara de agir nos arredores. E, segundo eles, usavam a mesma vestimenta. Não houve agressão física. A violência foi moral.
Que o exemplo de Belo Horizonte sirva como exemplo, principalmente para os guardas paulistas, de repensar esse tal "perfil". O cidadão tem o direito de não ser confundido com um bandido.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Guga sai de cena. Pra entrar na história


Parece até que foi ontem...

Depois de ter terminado um de tantos cursos de jornalismo esportivo, lá estava eu em um negócio que parecia promissor: o site esportivo Direto, com boletins diários em áudio.

Lá pelas tantas, fiquei responsável pelo tênis.

E tive o privilégio de acompanhar de perto a trajetória de um dos maiores ídolos do esporte nacional.

Gustavo "Guga" Kuerten já havia se tornado um dos grandes do tênis mundial ao vencer, em 97, o torneio de Roland Garros. Depois de um hiato de dois anos, voltaria a vencer em 2000.

Foi um ano de muita torcida. Eram não só os Grand Slam, mas também os Masters Series e Copas Davis - num confronto com a Espanha, carregou o Brasil nas costas. Detalhe: a competição acontecia na casa de Moyá, Corretja e companhia. Guga tinha um backhand fenomenal. E, como especialista em saibro, a superfície mais lenta, contava com um sólido jogo de fundo de quadra. O grande defeito era a inconstância emocional, que às vezes o fazia sumir do jogo.

Em 2000, o "Mané" disputava com o russo Marat Safin a primazia de ser o melhor do mundo. Cada torneio se tornava um jogo de xadrez, que teve o seu ápice na final do Masters Series de Hamburgo. Sem sombra de dúvida, o maior jogo de tênis que já vi na vida. E Guga venceu.

No final do ano, veio a Masters Cup em Lisboa. No primeiro jogo, Guga enfrentava Andre Agassi. Venceu o primeiro set, mas sentiu uma contusão. Resolveu continuar o jogo. Mas jogar meia-bomba com aquela fera era pedir pra perder. E não deu outra. Agassi venceu de virada.

Safin tinha a faca e o queijo na mão. No grupo vermelho, o russo havia vencido Alex Corretja e Lleyton Hewitt. Do lado de lá, o grupo verde, Guga se recuperava em cima de Magnus Norman e Yevgueni Kafelnikov (o compatriota de Safin se configurava numa espécie de amuleto. Sempre que Guga o encontrava nas quartas de final de Roland Garros e o vencia, era campeão).

Aí, Safin perdeu para Sampras e se classificou em segundo.

Foi enfrentar Andre Agassi, que ficou em primeiro no grupo de Guga. Perdeu!

O Mané bateu de frente com o maior de todos os tenistas. Naquela fase, Sampras já estava na curva descendente. Mas, ainda assim, era espetacular.

A oportunidade ideal para a revanche do Masters Series de Miami, que Guga havia perdido por 3 sets a 1.

Sampras venceu o primeiro set no tie break. E o sinal teimava em cair o tempo todo.

Mal deu pra ver a virada do brasileiro. Que começava a significar o trono do ano.

Voltava a enfrentar Agassi. Dessa vez, na decisão.

O carequinha não teve a menor chance.

O melhor momento do tênis brasileiro vai ser apenas memória depois de 2008. Os seguidos problemas no quadril fazem com que Guga não suporte mais um circuito cada vez mais veloz (coisa que não era o seu forte mesmo nos melhores tempos). As seguidas contusões fizeram até mesmo os adversários lamentarem sua falta de sorte. Lleyton Hewitt chegou a dizer que Guga era o único que poderia enfrentar Roger Federer de igual pra igual.

Aliás, no confronto com o suíço, Guga não faz feio: uma vitória pra cada lado.

O triunfo do brasileiro veio quando Federer já era o rei das quadras. Nas oitava de final de Roland Garros, em 2004. Mas, já com o crônico fardo nos quadris, Guga sucumbiria ao argentino David Nalbandian nas quartas.

Eu esperava que ele conseguisse ressurgir como Agassi. Mas o físico já não obedece mais. Gustavo Kuerten do Brasil está prestes a virar história. Uma série de torneios marca a sua despedida em 2008. Antes assim do que vê-lo se arrastar sem forças para continuar.

É triste. Mas valeu pelas alegrias

Obrigado, Mané.

sábado, 5 de janeiro de 2008

A cidade do Sol

Acabei de ler "A Cidade do Sol".


O segundo romance de Khaled Hosseini, afegão radicado nos Estados Unidos, repete um traço de "O Caçador de Pipas": o enredo calcado em dois protagonistas. Dessa vez, duas mulheres sufocadas pelo desprezo da vida e pela tumultuada vida política do Afeganistão. As histórias de Mariam e Laila são contadas em separado... até que se juntam.

Filha bastarda do rico comerciante Jalil, Mariam se vê privada da convivência com a mãe, Nana, ainda aos 15 anos. Para se livrar do problema, as três esposas do homem resolvem casá-la com o sapateiro Rashid, trinta anos mais velho. Depois de tantas tentativas frustradas de substituir o filho, que morreu afogado anos atrás, a harami (bastarda) se vê aprisionada num mundo de violência e indiferença.

Laila é uma das vítimas da história cheia de reviravoltas do país. Caçula de uma família aparentemente estruturada, é adorada pelo pai, um ex-professor universitário, mas sofre da mãe velada rejeição, que piora após a morte dos filhos na guerra contra os comunistas. O grande amor da sua vida, Tariq, é a muleta que dá sentido a sua vida. O conflito chega ao fim, mas traz com ele coisa pior: os governantes afegãos, unidos para expulsar a União Soviética, agora resolvem lutar entre si pelo poder. O novo combate faz Tariq se mudar para o Paquistão... e mata os pais de Laila.

É esse o fio que entrelaça a sua vida com Mariam. Desamparada, vê se forçada a casar-se com Rashid. E apesar de realizar o sonho do homem de ter um filho, também não terá uma convivência harmoniosa com esse homem difícil. A princípio inimigas, as duas começam a desenvolver uma simbiose no intuito de sobreviver. Laila dá a Mariam uma felicidade que ela nunca havia experimentado. Esta retribui com a maternidade que ela nunca havia encontrado na mãe.

Ao se deparar com as suas histórias, o leitor se vê participando das tristezas e sofrimentos das protagonistas. Ao final, elas encontram, por vias distintas, a redenção.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Imagine eu e você

Ontem assisti a uma comédia inglesa chamada "Imagine Eu e Você".

Rachel se casa com Heck, mas, ainda na festa de casamento, a sua vida vira de cabeça pra baixo quando encontra a florista Luce. Fica no ar um jogo entre ele e a mulher pra ver quem fica com Rachel.

Ele é tímido e às vezes um pouco sem-graça. Parece meio frio demais com ela.

Ela, mais interessante e poética. Mas um pouco agressiva demais.
Luce vence o jogo com relativa facilidade.

Fico com pena de Heck. Porque ele gostava muito dela. E, se era meio paradão, não o fazia por mal. Mas por não saber como agir.

Não gostei do desfecho. Torci para que ele revertesse a situação.

Mas os planos do roteiro foram cruéis com o rapaz.