quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Os dilemas do idioma

Venha tomar meu brunch.

Saiba que eu tenho approach

Na hora do lunch

Eu ando de ferryboat



Em Samba do Approach, os Zecas Baleiro e Pagodinho brincam com os estrangeirismos que invadem a língua portuguesa não é de hoje. Com esses temperos importados, a versão brasileira do idioma ganha corpo e enriquece. É assim que a Veja critica duramente uma proposta do ex-presidente da Câmara, Aldo Rebello, de proibir palavras enlatadas em anúncios, meios de comunicação, documentos, letreiros de lojas e restaurantes.

Bem verdade é que qualquer tentativa de se fechar para tudo o que vem de fora. Até o fim dos anos Sarney, o Brasil se protegia do capital estrangeiro, sob o argumento que a indústria do país não teria força para competir. Na verdade, tal fraqueza vinha justamente dessa muralha. Porque, com pouca concorrência, não havia tanta preocupação com o consumidor. A derrocada da barreira veio com o governo Collor. Hoje, o Brasil depende, e muito, do capital vindo de fora- tanto que ainda busca o tal grau de investimento concedido pelas agências de risco. E as grandes empresas brasileiras em vez de morrer, ficaram ainda mais fortes. Mais do que isso: muitas, como Vale, Gerdau e Petrobras, também investem lá fora.

O mesmo movimento acontece na língua. O protuguês brasileiro recebe influências vindas de todas as partes: inglês (shopping center), francês (abajur), árabe (açúcar), entre outras. Tudo como parte de um processo natural de transformação pelo qual todos os idiomas passam. Mesmo na língua inglesa, há palavras francesas como resumè (currículo) e fiancè (noivo/noiva). Impedir tal fluxo é, num mundo cada vez menor, uma tentativa insana de brecar o inevitável.

Contudo, o projeto de Rebelo, por mais incoerente que possa parecer, lança luz sobre um problema. Em alguns casos, a mania brasileira de preferir o que vem de fora beira o exagero. Em alguns anúncios, há palavras perfeitamente substituíveis por elementos do português. Por exemplo: levei um tempão para descobrir o que era o diabo do "delivery" escrito em fachadas de algumas redes de fast food (opa!). Significa entrega em domicílio. No meio executivo, parece que o inglês vai aos poucos jantando o português com seus "briefings", "headhunters" e quetais. Alguns jovens preferem jogar "water polo" a "pólo aquático".

Pô! Aí já é demais, né?

Se não podemos bancar os xenófobos, também não precisamos exagerar.

Nem tanto ao sea, nem tanto à land

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