quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Falando de São Paulo

Noite fria em pleno verão. Assim foram brindados os céus da Paulista para uma noite de debates sobre a aniversariante de 25 de janeiro. O evento é um entre tantos promovidos pela Folha. Sob o tão maltratado Masp dos últimos dias, a fila era intensa, mas, ao contrário do trânsito do rush, rápida. Antes de entrar, um senhor atrás de mim é abordado por um repórter. Tem por expectativa que seja discutida a história vista sob o prisma arquitetônico.

Seu Paulo diz que não tinha muito interesse em São Paulo até fazer um trabalho sobre a cidade. "Os imigrantes italianos se instalaram na Mooca e no Brás. Hoje em dia, é lá que se encontram os tantos conflitos da cidade". Vai mais longe. Diz que a Light deixou a cidade porque a indústria automobilística começava a florescer. E, com ela, fenecia o transporte ferroviário.

Descemos. E, aos poucos, o auditório vai tomando ares de casa cheia. Lá na frente, os palestrantes já conversavam. Ao soar da campainha, eles tomam seus lugares.
Gilberto Dimenstein faz as vezes de mediador. Começa contando que fazia 10 anos que retornava à cidade depois de um período em Nova York. Disse achar impossível uma cidade como aquela melhorar em tão pouco tempo. Mas ela melhorou. Assim como ele acredita que São Paulo também está melhorando.

Delfim, que passou a infância soltando quadrado no Cambuci, concorda. Mas enfatiza que algumas coisas têm melhorado menos do que deveriam. Barbara protagonizava os melhores momentos. Sabia rir até de momentos trágicos passados na cidade. "Fui sequestrada na Avenida Sumaré. E, no final, fiquei amiga do bandido."

Capixaba radicada no Rio, Danuza Leão poderia não ter muito o que acrescentar: "Não conheço São Paulo muito bem. Quando venho para cá, é para visitar minha filha e meus netos." Ledo engano. Sua participação foi bastante interessante. Principalmente em interessantes paralelos traçados entre paulistanos e cariocas. "Vocês vivem a cidade. O carioca gosta é de praia."

Apesar de ter uma visão extremamente otimista, ("Eu não escrevo todas as minhas colunas sobre São Paulo porque este fanático faz isso no mesmo dia que eu", diz Bárbara) a visão de Dimenstein não é desprovida de críticas. Diz que São Paulo errou feio ao não construir metrô e nas marginais. "O rio é a alma de uma cidade. Mas o Pinheiros e o Tietê são verdadeiros esgotos a céu aberto". Ele disse que, no lugar das vias que sempre ficam apinhadas de veículos ao longo dos rios, poderia haver parques.

Mas o jornalista, que coordena o Projeto Aprendiz também ressalta que a importância dos bairros está renascendo da cidade. "Tenho horror ao Alphaville e a essa coisa condominial que está surgindo." Cada vez mais as pessoas estão utilizando os serviços presentes em suas próprias localidades. "No Rio, isso também acontece. As pessoas tentam sair o mínimo de seus bairros.

Ao final, apesar de todo caos, a perspectiva de todos é que, daqui a 25 anos, a cidade esteja cada vez melhor. Os anseios de seu Paulo não foram atendidos. "Eu esperava mais". Mas, para mim, valeu. Foi um respiro de alívio para quem, durante os demais dias do ano, vê essa eterna babel em metamorfose ser demonizada.

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