quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Carnaval ponte aérea, linhas paralelas. Será?

Os carnavais de Rio e São Paulo tomaram direções paralelas no caminhar das décadas. Cada vez mais, as duas retas andam se encontrando por aí.

A cidade maravilhosa, a mais importante do país até os anos 60, capitalizava elementos do chamado grande carnaval, o da elite - os bailes mascarados importados da França e as sociedades carnavalescas - com os do "pequeno", o do povo - entrudo, congadas e cucumbis para formar as escolas de samba.

Do outro lado da Dutra, a então acanhada São Paulo herdava o samba rural trazido do interior pela crise do café. Esses pioneiros se instalaram principalmente em regiões operárias, como Bixiga e Barra Funda, terreiros de duas das mais tradicionais organizações carnavalescas da cidade: respectivamente, Vai-Vai e Camisa Verde e Branco, que por décadas se consagraram como cordões carnavalescos.

Até meados dos anos 70, o desfile de cordões - sem comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira e com um batuque fortemente calcado em instrumentos pesados como surdo e treme-terra - eram em São Paulo mais relevantes do que as escolas de samba que já começavam a surgir - entre elas, Nenê de Vila Matilde e Unidos do Peruche. Começava aí a primeira influência carioca no carnaval de São Paulo, já que o desfile das escolas eram a manifestação carnavalesca mais importante do Rio.

Em 1967, o prefeito Faria Lima dá ao carnaval um caráter oficial. Tinha como objetivo fomentar a produção de cultura. Mas as verbas que deveriam ser destinadas a tantas festas espalhadas pela cidade acabaram centralizadas na realização do desfile de escolas de samba, o que matou os cordões. Camisa e Vai-Vai tiveram de passar por uma metamorfose para sobreviver. Mais uma influência de Sebastião do Rio sobre Paulo de Piratininga.

A ponte aérea ainda apresentava semelhanças. O desfile do Rio passou da Presidente Vargas para São Januário, voltou à Presidente Vargas e foi para a Presidente Antônio Carlos. De lá, instalou-se definitivamente na Marquês de Sapucaí, onde, em 1984, foi inaugurada a famosa passarela do samba. Em São Paulo, a história começa no Ibirapuera, passa pela Avenida São João e desemboca na Tiradentes. Mas os paulistanos também vêem a necessidade de se construir um sambódromo. E se mudam do centro para a zona norte em 91. Nova influência carioca. A diferença é que o Anhembi - localizado entre as pontes da Casa Verde e do Limão - se erigiu no contexto de um pólo cultural. Não era um logradouro estabelecido.

No entanto, cada uma tinha suas próprias características. Na Sapucaí, o desfile se dividia em duas noites: domingo e segunda. E o Anhembi ainda seguia o cronograma da Tiradentes. Uma única noite de sábado. Até que em 2000 seguiu os passos do irmão maior.

E então nossa viagem desembarca no presente. Oito anos depois, uma nova diferença virou água. Tal como no Rio, São Paulo adota o quesito "samba enredo" no lugar de "letra do samba" e "melodia". Talvez influenciada pelas críticas feitas pelos comentaristas da Rede Globo. Essa talvez tenha sido a pior mudança que São Paulo fez, pois deixou de lado todas as nuances que separam letra de melodia. Eles separados faziam mais sentido.

Não sou contra trazer elementos de outras praças, até as portas abertas só enriquecem. Mas essa antropofagia não pode engolir uma essência que era necessária ao espetáculo.

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