Parece até que foi ontem...
Depois de ter terminado um de tantos cursos de jornalismo esportivo, lá estava eu em um negócio que parecia promissor: o site esportivo Direto, com boletins diários em áudio.
Lá pelas tantas, fiquei responsável pelo tênis.
E tive o privilégio de acompanhar de perto a trajetória de um dos maiores ídolos do esporte nacional.
Gustavo "Guga" Kuerten já havia se tornado um dos grandes do tênis mundial ao vencer, em 97, o torneio de Roland Garros. Depois de um hiato de dois anos, voltaria a vencer em 2000.
Foi um ano de muita torcida. Eram não só os Grand Slam, mas também os Masters Series e Copas Davis - num confronto com a Espanha, carregou o Brasil nas costas. Detalhe: a competição acontecia na casa de Moyá, Corretja e companhia. Guga tinha um backhand fenomenal. E, como especialista em saibro, a superfície mais lenta, contava com um sólido jogo de fundo de quadra. O grande defeito era a inconstância emocional, que às vezes o fazia sumir do jogo.
Em 2000, o "Mané" disputava com o russo Marat Safin a primazia de ser o melhor do mundo. Cada torneio se tornava um jogo de xadrez, que teve o seu ápice na final do Masters Series de Hamburgo. Sem sombra de dúvida, o maior jogo de tênis que já vi na vida. E Guga venceu.
No final do ano, veio a Masters Cup em Lisboa. No primeiro jogo, Guga enfrentava Andre Agassi. Venceu o primeiro set, mas sentiu uma contusão. Resolveu continuar o jogo. Mas jogar meia-bomba com aquela fera era pedir pra perder. E não deu outra. Agassi venceu de virada.
Safin tinha a faca e o queijo na mão. No grupo vermelho, o russo havia vencido Alex Corretja e Lleyton Hewitt. Do lado de lá, o grupo verde, Guga se recuperava em cima de Magnus Norman e Yevgueni Kafelnikov (o compatriota de Safin se configurava numa espécie de amuleto. Sempre que Guga o encontrava nas quartas de final de Roland Garros e o vencia, era campeão).
Aí, Safin perdeu para Sampras e se classificou em segundo.
Foi enfrentar Andre Agassi, que ficou em primeiro no grupo de Guga. Perdeu!
O Mané bateu de frente com o maior de todos os tenistas. Naquela fase, Sampras já estava na curva descendente. Mas, ainda assim, era espetacular.
A oportunidade ideal para a revanche do Masters Series de Miami, que Guga havia perdido por 3 sets a 1.
Sampras venceu o primeiro set no tie break. E o sinal teimava em cair o tempo todo.
Mal deu pra ver a virada do brasileiro. Que começava a significar o trono do ano.
Voltava a enfrentar Agassi. Dessa vez, na decisão.
O carequinha não teve a menor chance.
O melhor momento do tênis brasileiro vai ser apenas memória depois de 2008. Os seguidos problemas no quadril fazem com que Guga não suporte mais um circuito cada vez mais veloz (coisa que não era o seu forte mesmo nos melhores tempos). As seguidas contusões fizeram até mesmo os adversários lamentarem sua falta de sorte. Lleyton Hewitt chegou a dizer que Guga era o único que poderia enfrentar Roger Federer de igual pra igual.
Aliás, no confronto com o suíço, Guga não faz feio: uma vitória pra cada lado.
O triunfo do brasileiro veio quando Federer já era o rei das quadras. Nas oitava de final de Roland Garros, em 2004. Mas, já com o crônico fardo nos quadris, Guga sucumbiria ao argentino David Nalbandian nas quartas.
Eu esperava que ele conseguisse ressurgir como Agassi. Mas o físico já não obedece mais. Gustavo Kuerten do Brasil está prestes a virar história. Uma série de torneios marca a sua despedida em 2008. Antes assim do que vê-lo se arrastar sem forças para continuar.
É triste. Mas valeu pelas alegrias
Obrigado, Mané.
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