domingo, 20 de dezembro de 2009

A Grande Menina virou anjo

Pô, Criador! Justo ela?

Pois é... às vezes, parece que, quando alguém morre, expressões como "O mundo ficou mais triste", ou "uma luz se apaga" são ridículas de tão clichê.

Só que, dessa vez, parece que elas caem como uma luva.

A primeira vez que vi Brittany Murphy foi em "A agenda secreta do meu namorado". Mas em "Grande Menina, pequena mulher", ela estava especialmente encantadora. Talentosa sem despontar, a bela Brittany se destacava pela graciosidade.

Pois foi justamente pelo coração que ela partiu. Teve um ataque cardíaco enquanto estava no chuveiro de casa, em Los Angeles. Chegou a ser socorrida, mas não teve jeito. Há suspeitas de que ela era viciada em analgésicos. Outra informação dá conta de que o infarto seria consequência de diabetes.

Tinha apenas 32 anos. Era mais nova do que eu.

Obviamente que, daqui do Brasil, não a conheci a fundo. Mas a imagem que me fica é a meiga. Os mais espiritualizados (como eu) refutam protestos terrenos segundo os quais só os maus devem morrer. Certa vez alguém me disse: "O Espaço também precisa de pessoas boas."

Apesar de ter começado muito cedo, Brittany não teve tempo de crescer ainda mais. Um grande ator só se forma com o tempo. São raros os grandes com menos de 35. Por outro lado, ela não envelhecerá jamais. A sua última imagem será sempre jovem e bela.

Eu prefiro acreditar que a Grande Menina tenha virado anjo. Salvo raras exceções, não costumo me comover com a morte de celebridades - sinto falta de Ayrton e Renato Russo - mas a passagem de Brittany Murphy me deixou triste.

Alô, vocês aí do Espaço. Cuidem bem dela, tá?

Sem sair do TOM

Eu tava devendo uma visita à queridíssima Tom Maior.

Aquela comissão de frente de 2009 foi uma das mais lindas que já vi na minha vida - chego a achar que rivaliza com os sambistas da Mangueira em 99 e com os lusíadas da Tijuca em 2002. É uma pena que algumas falhas técnicas a tenham deixado à beira do Acesso.

Estava marcado para as oito e meia da noite de ontem um ensaio pelas ruas do Sumaré, berço da escola. A concentração aconteceria na Oscar Freire, em frente à estação que leva o nome do bairro.

As coisas começaram a esquentar só a partir do aproximar das dez horas. Uma moça perguntou a um grupo de ritmistas a que horas acabava. "Da última vez, foi até a meia-noite", disse Isabella Castillas, uma representante do naipe de tamborins.

A bateria foi tomando forma aos poucos. Marcação, surdos, caixas, ripas, chocalhos, Xequerês, agogôs, tamborins. Das mais ousadas, a orquestra de mestre Carlão tem um bailado envolvente. É rica em convenções as mais variadas. E os seus batuqueiros evoluem dnaçando.

Depois de acertados os acordes, o carro de som virou na Amália de Noronha. O time de cantores comandado pelo grande Renê Sobral incendiou com o hino ("E toda a gente que é feliz") e a exaltação ("Exaltando o samba ela vem... cheia de graça"). Depois, explodiu o bom samba sobre Angola. Antes de começar a ensaiar, a hostilidade descabida fez o morador de um prédio jogar água no carro de som, o que irritou os intérpretes. "Seu ignorante. Isso aqui é cultura popular" esbravejou Renê, coberto de razão. Se o evento estava marcado, é porque recbera a devida autorização. Abaixo os inimigos do samba (infelizmente, em São Paulo eles são muitos).

O samba é lindo! Principalmente na parte de cima, que é poesia em seu estado mais puro: "A luz da minha alma/ Reflete as cores do meu pavilhão/ Amor que já não tem explicação." E a melodia do final também é de emocionar: "Tenho a energia dos cristais/ Mistérios espaciais..." Os autores do samba de 2008 (que eu tanto critiquei) e de 2009 (muito bom, mas sem atingir o ápice) dessa vez acertaram em cheio.

O sabidão aqui cantou alto o hino, a exaltação e o samba de 2009. Mas, por falta de técnica, o gogó pediu água na metade. Já quis ser cantor um dia. Quem sabe um dia eu tomo umas aulas... hehehehe

Mas deu pra observar o bonito trabalho dos harmonias, botando os visitantes/ potenciais componentes para cima e tentando ganhar a vizinhança, nem sempre amistosa.

Nos estertores da Cristiano Viana, ao alto da Sumaré, a apresentação chegou ao fim. O presidente Marko anunciou a nova quadra, que teria a Barroca a se apresentar no dia 5 de janeiro, e seria oficialmente inaugurada com Pérola Negra e Mocidade Alegre.

Na viagem de volta, peguei carona com um grupo que continha duas pessoas do departamento jovem, uma passista, uma ritmista e um compositor (acho). Uma moçada muito bacana que me acolheu com simpatia, e me convidou a acessar o seu blog.

Segui meu caminho solitário, mas feliz.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pérola levanta poeira

No domingo, aproveitei o fato de estar sozinho em casa pra dar um chega pra lá na inércia. Queria ir ao ensaio da Pérola Negra, que fica perto de casa. Fiquei meio apreensivo porque, no site deles, a apresentação estava marcada para as seis. Eram sete e meia, e eu ainda não tinha saído de casa. "Já deve estar no fim", pensei.

Perdi o jeito, mesmo. Ainda nem tinha começado. E isso é meio que praxe. As apresentações nas escolas sempre acontecem algumas horas depois do anunciado.

Lá, encontrei a Fê, harmonia da escola, que trabalhou comigo no Canal de São Paulo. Perguntei a ela como a agremiação havia lidado com a chuva, que prejudicou muito o trabalho já feito no barracão. Segundo ela, a escola esperava que a bilheteria do ensaio servisse para ajudar na recuperação, mas muitos entravam sem pagar.

Eu fiz questão de não entrar de graça. A bateria de Mestre Pateta começava a dar as suas primeiras batucadas. Uma cadência muito bacana, com convenções bastante inspiradas.

O apresentador deu os informes de praxe. Avisou que as fantasias não seriam doadas e que havia três alegorias com lugares vagos para destaques. Segundo ele, a escola já estava correndo para acabar com o prejuízo causado pela chuva. Um componente havia conseguido uma doação de mil reais com a empresa onde trabalha, e Rolando Boldrim, o homenageado da escola em 2010, comprara uma ala inteira.

Se o pulsar dos guerreiros da Vila não esmaecia diante das dificuldades, a Pérola também entristeceu. No sábado, partira um dos maiores mestres de bateria da história do carnaval de São Paulo: mestre Lagrila. A homenagem da escola foi em forma de silêncio. Que, foi integralmente respeitado. O pulsar do surdo foi respeitosamente solene.

Começara o ensaio. O samba, pelo qual eu já havia me apaixonado na voz do Douglinhas (que teve de cumprir o compromisso profissional e não pôde estar presente), ficou ainda mais vivo cantado na voz dos componentes. Passistas, harmonias e componentes levantaram a poeira do chão e irradiavam vida.

Terminou com um gosto de "quero mais".

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Brasil e Ahmadinejad

Vou entrar num terreno pra lá de pantanoso pra mim... política internacional.

Fala-se muito no risco que o Brasil corre ao receber o presidente iraniano sopa-de-letrinhas Mahmoud Ahmadinejad.

De fato, o cara é pavoroso, tanto na expressão - de dar medo - quanto nos valores.

Mas há um lado que, a meu ver, foi mal explorado: quando estabelecemos esse tipo de relação, recebemos o país... e não a figura do presidente em si. A ligação é muito mais com a população do que com Ahmadinejad, cujos "valores" não condizem com os pensamentos da maioria dos iranianos. Tanto é verdade que a eleição presidencial no país, suspeita de fraude, causou uma onda de protestos de boa parte da nação - e é aí que o presidente Lula erra feio, porque tratou uma reivindicação legítima como picuinha de maus perdedores.

Admito que é pra lá de preocupante dar esta abertura a um país que adota uma postura tão pouco clara a respeito de sua política nuclear. Mas, se adotarmos este raciocínio, não conviria também ter relações com a China, uma nação próspera, mas ditatorial até as tampas.

Pois é. Barack Obama foi até lá. Errado? Não, porque agora o mundo depende da ascensão dessa já consolidada potência mundial.

Creio que é preciso pensar de maneira mais ampla acerca de alguns assuntos.

sábado, 17 de outubro de 2009

Grande Arthur Zanetti

Certa vez, quando blogava no Planeta Esporte, disse para guardar na memória o nome de um ginasta promissor: Arthur Zanetti.

O paulista de São Caetano chamou-me a atenção para duas finais que ele havia disputado na etapa de Maribor da Copa do Mundo. Zanetti foi bronze no solo e ficou em sexto nas argolas.

Pois não é que no mundial de Londres o garoto foi mais longe? Classificou-se em oitavo nas eliminatórias nas argolas, com 15.250. E chegou em quarto, com 15.325.

domingo, 4 de outubro de 2009

Vaivém

Um dia eu te vi
No meio da tempestade
E o sol se abriu em flor
Contei-te da minha expressão de esperança

Mas, Flor de Nis, tu sumiste
E sigo eu em minha sina sem propósito.

sábado, 15 de agosto de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira: excelente, mas perturbador

Um japonês de repente perde a visão. Sua esposa o leva ao oftalmologista e, no dia seguinte, ambos também ficam cegos. A epidemia se espalha de tal forma que os infectados são enclausurados em um hospício. O problema é que, em toda a cidade, a única viv'alma sobrevivente é a esposa do oftalmologista, na pele de Julianne Moore (a estrela da companhia).

"Ensaio Sobre a Cegueira", baseado no romance homônimo de José Saramago, cobre os olhos de branco para descobrir nuances da moral humana. O local de isolamento passa longe de provisório: torna-se um presídio, com a conflagração de alas rivais. A de número 3, chefiada por Gael Garcia Bernal, passa a confiscar os alimentos em troca de benesses. Primeiro, objetos pessoais. Depois, a dignidade das mulheres. A situação fica tão insustentável que a mulher do médico mata o chefe da ala 3.

Diante de tal cenário, a única que enxerga passa a carregar uma cruz quase insustentável. No meio da catarse, em que o destino de todas aquelas pessoas passam inapelavelmente pelas suas mãos, seu casamento é colocado em cheque, e os valores desmoronam como água. Se por um lado a cegueira desperta sentimentos os mais primitivos, como a guerra por comida, por outro traz à luz uma forte noção de solidariedade.

No Novo Testamento vinha a busca por uma explicação. Antes de se tornar apóstolo, Saulo perseguia e matava cristãos. Na famosa missão de Damasco, em que procurava pelo cristão Barnabé, Jesus aparece em clarão e pergunta: "Saulo, por que me persegues?" A visão o deixou cego por dias. Quando voltou a enxergar, se converteu e passou a se chamar Paulo.

Concentração de todas as cores, o branco predominante é sombrio por catalizar a consciência humana em suas misérias. Mas é no despertar da virtude que a cegueira encontra sua redenção. E aí, é o preto que assume um caráter purificador. Fernando Meirelles mantém o time que ganhou em "Cidade de Deus" e troca a ação pelo psicológico com maestria.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Minha vida como morto

No 'Notícia em Foco' de segunda feira passada, Eliane Brum, repórter especial de Época, disse ter voltado exaurida de uma matéria que fez. "Não posso adiantar nada, pois a matéria não saiu, ainda."

Aí, pego a revista da semana e leio a história de Paulo Cezar dos Santos, o homem que, para a burocracia, está morto graças a um erro de registro. Tal condição atrai tantos fantasmas que o pobre homem tem medo de morrer de verdade.

Mas é o texto, belíssimo, que fala por si. Confira aí:

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Reflexão sobre os pontos corridos

Vamos falar um pouco de futebol... apesar da fase horrorosa pela qual o Corinthians passa, me bateu na mente um ponto interessante a ser discutido.

Sempre fui a favor do sistema de pontos corridos no Campeonato Brasileiro, porque premia quem se organiza melhor, e ganha quem é efetivamente melhor.

Por outro lado, ele traz um efeito que, a meu ver, é maléfico: ele diminuiu a importância do título brasileiro. Se por um lado muitos clubes, cientes de suas limitações, traçam objetivos diferentes na competição (há os que querem chegar à Libertadores, os que almejam a Sul-Americana e os que apenas desejam terminar em uma posição digna - ou seja, permanecer na Série A), por outro a maioria deles perdeu a gana pelo prêmio principal de qualquer campeonato.

No mata-mata, com todos os seus muitos defeitos, isso não acontece.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sobre o diploma

Ainda sobre o Notícia em Foco de segunda-feira passada...

Para Lourival Sant'Anna, repórter especial do Estadão, a formação jornalística pura não acontece em outro lugar que não seja a faculdade de comunicação. Já Eliane Brum, de Época, vê a universidade como o palco principal para debates acerca da ética na profissão.

Sant'Anna se disse a favor do curso, mas não do diploma. Entendi o que ele quis dizer, mas a meu ver, o diploma não se dissocia do curso em si.




terça-feira, 4 de agosto de 2009

Notícia em Foco: uma reflexão

O programa Notícia em Foco, da CBN, fez ontem uma edição especial, com plateia. Fiquei sabendo por acaso, num átimo de segundo, pelo rádio. Soube da presença de Eliane Brum, repórter especial da Época de cujos textos gosto muito.

O anúncio passou rápido, e fui procurar detalhes na internet. Aconteceria no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Paulista. Estaria presente também Lourival Sant'Anna, do Estadão. Na página correspondente, não havia cadastro. Apenas um aviso segundo o qual estaria "sujeito à lotação do auditório". Bom, então era melhor chegar cedo, porque poderia bombar. Veio-me a sabatina com o Ronaldo Fenômeno na mente, quando cheguei faltando poucos minutos para começar e só arrumei um bom lugar por pura sorte.

Me surpreendi com a pouca concorrência: entrar foi muito sossegado. Mariza Tavares, uma das apresentadoras, deu-nos as boas vindas. Eliane e Roberto Nonato também já estavam presentes. Tal como acontece na sabatina da Folha, as cadeiras se apresentavam de maneira circular. Ao fundo, um marcador digital registrava as horas. "Mas ele nunca está certo", disse a bem humorada Mariza. Sant'Anna chegaria dali a instantes.

Ainda faltavam vinte e cinco minutos para o programa começar. Uma senhora de sotaque estrangeiro a meu lado reclamou do atraso. Achou que começaria às seis e meia, mas estava marcado para as sete. Ela ainda me recomendou outros eventos envolvendo jazz e cinema judaico. Conversei também com duas mulheres e um homem sobre o acidente com Felipe Massa e a polêmica dos fretados que assola São Paulo. Se cada minuto no rádio é uma eternidade, ela passou veloz.

E o programa começou. Tímida, a voz de Eliane mal saía do microfone. Mas mesmo assim deu uma verdadeira aula. Quando ainda era repórter do Zero Hora (jornal gaúcho) contou que percorreu por telefone as delegacias de Porto Alegre e região em busca de algum crime. Mas a notícia que a esperava beirou o absurdo. "Guria, aqui tá tão tranquilo que temos uma galinha presa." Aí, ela teve de ir a Sapucaia conferir. "Se eu só contasse, ninguém acreditaria". E a ave estava lá, presa por "atitude suspeita". Ela era parda.

"A realidade é bem mais interessante do que qualquer ficção". Foi com essa máxima que Lourival concluiu uma experiência vivida na Turquia. O Papa Bento XVI visitaria o país em um momento de tensão. Ele havia relacionado o islamismo à violência, o que gerou uma revolta entre os muçulmanos. Quando o repórter chegou, foi direto ao memorial de Kemal Ataturk, o fundador da república da Turquia. No trajeto, a sua intérprete lhe disse ter um amigo que acreditava ser o jornalista um profissional que "mente bem". Chegou e entrevistou um casal de camponeses que só estava ali para honrar Ataturk, e não estava nem aí para a visita do Papa.

Para Eliane, a preparação de uma reportagem é a busca para "se perder". "O melhor da reportagem é quando tudo dá errado. Porque 'tu encontrou' algo que não tava no script". Ela sustenta ainda que o repórter deve se despir de todos os seus preconceitos e opiniões para produzir uma matéria. Em palavras suas: ir a campo vazio para ser preenchido pela história. E usa como exemplo a experiência de morar na Favela da Brasilândia (zona norte de São Paulo), onde quis descobrir o cotidiano dos moradores locais, e encontrou encontrou humanidade e intensas histórias de amor... de cachorros. Segundo ela, se estivesse na cabeça as imagens pré-fabricadas de tráfico e tiroteio, a matéria não teria a mesma qualidade. "'Tu fica' cego, e repórter não pode ser cego"

Curioso foi constatar como cada um deles lida com a notícia. Eliane vivencia a experiência. Ela conta que foi a responsável por retratar os últimos dias de uma paciente terminal de câncer. Sentiu que Ailce lhe tinha dado confiança, e era "a dona" de uma história que a doente jamais leria. Uma angústia recorrente sua é não conseguir transformar em palavras todas as nuances da notícia. "O pior de tudo é descobrir a frase certa às três da manhã, quando a revista já fechou. Eu fico grávida das minhas matérias".

Sant'Anna prefere uma distância cirúrgica. "Dedico tanta energia a descobrir a história e conquistar a confiança do entrevistado que não dá tempo de sentir emoções. Mas nem por isso ele deixou de viver emoções fortes. Na cobertura da guerra entre Rússia e Geórgia, fora sequestrado e teve um fuzil apontado para a sua cabeça. Num instinto, puxou a maçaneta do carro, um Lada em frangalhos, e saltou. No mesmo dia, teve outra arma apontada para a sua garganta. "Disseram depois que eu tenho cara de georgiano" (risos)

Mas Lourival e Eliane têm muitos pensamentos em comum. Um deles diz respeito à complexidade que o tempo jornalístico não permite traduzir. "O lead com todas aquelas perguntas - quem, o quê, quando - , é algo ultrapassado", diz Lourival. Ele conta que a pirâmide invertida - texto com as informações mais importantes vindo em primeiro lugar - apareceu no século XIX, na guerra entre EUA e Espanha. As notícias eram dadas por telex, e o aparelho poderia "cortar" trechos importantes. Por isso, o essencial vinha na frente. "Mas isso aconteceu há 100 anos", completa. "A notícia tem cheiro, textura", concorda Eliane. Na opinião da repórter da Época, o que um entrevistado deixa de dizer, os gestos e a forma como ela conta uma história é tão importante quanto a história em si.

Reflxões acerca dos destinos do jornalismo impresso também foram compartilhadas por eles. Para Lourival, o jornal de papel continua chato, e precisa de uma reforma, já que a internet ocupou um espaço importante. Já Eliane acredita que as pessoas não estão sendo retratadas e muitas histórias não são contadas. "A gente virou as costas para a Amazônia. O nosso fervor nacionalista se dói quando algum estrangeiro fala dela com alguma propriedade, mas não damos a ela o devido valor." O repórter do Estadão esteve em um trecho da floresta e de lá trouxe histórias fantásticas, que não são contadas no eixo "principal" do país. "Restringir o Brasil ao que acontece em Rio, São Paulo e Brasília nos tira da realidade" diz Eliane.

Tanta eternidade - e tantas outras - em apenas uma hora. Deixei o Conjunto Nacional com a sensação de que este jornalista ainda tem muito feijão a comer pelas reportagens da vida.

sábado, 1 de agosto de 2009

Uma proposta mais que decente

Lúcia preparava a comemoração de seu oitavo aniversário de casamento com André. Jantar, velas, vinho. Ele a presenteia com flores, e a celebração parecia caminhar sem sustos... Não fosse por Marcelo.

Desesperado, ele pede ao amigo que empreste a sua mulher para dar prosseguimento a uma mentira há muito arquitetada: fingir ao tio Juventus, milionário fazendeiro dos pampas que chegara à cidade, que é marido dela. O velho chega trazendo muito mais do que chapéu, bombachas e chimarrão. Traz também uma verdadeira caixa de pandora que assombra os farsantes e transforma para sempre as suas vidas.

"Proposta Indecente" é uma comédia de Duarte Gil que entrelaça amizade, falsidade, ganância e traição numa história divertida. Usa do humor, digamos, "sexual" como uma ferramenta necessária ao andamento da história, e não se escora nele para baratinar.

Afiado, o elenco tem desenvoltura para escapar das armadilhas "off script" de cada encenação, como o sensacional "me perdi" de Lúcia e o "você me bateu", de Marcelo para André. O time estabeleceu com o texto uma relação simbióticamente engraçada. Igor Kowalewski (André), Rodrigo Feldman (Marcelo) e a lindíssima Ana Paula Vieira (Lúcia) são muito bons. Mas quem brilha é Denis Derkian, o tio Juventus, numa espécie de "Analista de Bagé" mais suave.

Proposta indecente tem cenário caprichado e é bem produzido. O texto explora todas as possibilidades da trama. A despeito do final um tanto cruel, Proposta Indecente faz rir sem ser apelativa demais.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Rejeições que magoam

Quando entro na internet, raramente saio muito de uma gama de sites pré-estabelecida (não sei se escrevi certo. Maldita reforma ortográfica). Tenho o costume de ler duas revistas semanais na íntegra. Uma delas é a Época. Apesar de lê-la, não acessava muito o seu site.

Aí, dia desses resolvi quebrar o protocolo. E eis que achei um espaço muito interessante: o de Ivan Martins. Ele fala de relacionamentos sob o ponto de vista masculino... sem ser machista. Neste último texto, ele falou do quão vazio seria um mundo sem mulheres.

Entre os meus convivas lá na Irmandade, costumo brincar que, se eu tivesse o improvável direito de reencarnar (nossos ensinamentos pregam que os filhos de Estrela d'Alva estão em sua derradeira viagem pela Terra), eu agradeceria muito se não voltasse mulher. Porque aí, teria de desejar homens. Cá pra nós... adorá-las é muuuuito melhor. E, além do mais, seremos cada vez mais minoria no mundo. Eu consigo conviver com o ônus de viver menos. hehehe

Mas o que quero destacar, na verdade, é que, numa de suas colunas, Martins acerta na mosca quando fala de vulnerabilidades e inseguranças prementes no sexo masculino. "Homens também têm suscetibilidades, inseguranças e desconfortos".

E eu vou um pouco além: nós também ficamos magoados, chateados e afins. E esse papo segundo o qual é fascinante a mulher que rejeita - pelo gosto pela aventura - é algo que não tá totalmente dentro da realidade. De vez em quando, um não também pode ser desolador.

Certa vez, conheci uma moça no curso de inglês, a Rê. Ela trabalhava como recepcionista e tinha um sorriso encantador. Depois de emitir alguns sinais, tomei coragem e a convidei para sair. O "não" que eu tomei foi daqueles de ficar tonto. Rê agradeceu, mas disse que NÃO PODIA DE JEITO NENHUM, pois vivia problemas pessoas e não estava "na pegada" para sair.

Arrumou um jeito menos forçoso de dizer que não queria, e acabou sendo contundente demais. Será que eu não merecia uma chance?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Supermercados

Domingo aconteceu comigo algo que eu nunca vivi antes...


Estava finalizando umas compras no Dia quando a luz no bairro onde moro acabou.

Como o supermercado não tinha um sistema de gerador (um equívoco pra lá de amador), os clientes tiveram de ir embora sem efetuar as compras.

Foi uma situação cômoda para os funcionários, já que estavam em vias de fechar.

Tive de ir ao Pão de Açúcar, onde os preços costumam ser bem mais altos.

Por que será que um mínimo de civilidade dos atendentes deve estar embutido nos preços?

Porque o Dia, via de regra, é mais barato. Mas o atendimento...

E olha que eu nem falei da variedade de produtos.

Na mesma região, o Quitanda, outra rede de supermercados, vive uma situação semelhante.

Lá, o ambiente e a variedade são superiores ao Dia. Mas o atendimento é meio oscilante.

Enquanto as moças que servem o pão são pra lá de simpáticas, as caixas são pouco receptivas.

Um pouco de gentileza não faria mal a ninguém.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Política não é o meu forte. Mas...

Não tenho o hábito de tratar de política, mas tenho acompanhado com muito interesse a propalada derrocada moral dos parlamentares do Brasil.

De certa forma, eu acho boa essa tsunami de lama nos afogar. Entendo que não ficamos mais corruptos, mas mais bem informados. A meu ver, a sujeira de hoje é a mesma de anos atrás.

É aviltante a falta de comprometimento com o bem público da maior parte dessa gente. Mas eles são artífices de um círculo vicioso: o sistema de regalias mantido por alguns dinossauros - verba indenizatória, passagens aéreas, cargos de confiança em excesso e afins acaba engolindo até os políticos visto como exceções.

A notícia de que Fernando Gabeira deu uma das passagens a que tinha direito para a filha visitar a irmã nos EUA foi um soco no estômago. Mas nada me atordoou tanto quanto saber que Eduardo Suplicy - um homem a quem rendo profunda admiração - fez o mesmo para a namorada Monica Dallari. Eles próprios divulgaram seus erros antes que a imprensa os desvendasse.

Tanto disparate com a coisa pública faz muitos urgirem a necessidade de uma reforma política. Nesta semana, a revista "Veja" defendeu propostas como o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada.

Sou totalmente a favor do primeiro item, que diminui a diferença entre "grandes" e "pequenos", combate devolução de favores e quebra os tais cartéis, que votam pelos seus financiadores, não pelos eleitores. Mas será inócuo se não houver forte fiscalização do eterno caixa dois.

Quanto à lista, tenho minhas dúvidas. O objetivo inicial é despersonalizar o voto legislativo e obrigar os partidos a se unificar. Bonito, mas o problema é que nossos partidos têm projetos de poder, e não de país. O PMDB é o exemplo mais acabado disso. Rachada como terra arrasada, a maior legenda do país navega conforme as conveniências. E visa a interesses. Caminhos parecidos, embora em doses bem mais homeopáticas, trilharam PSDB, DEM e PT. O primeiro surgiu em oposição ao poderio de Quércia, mas em 94 se aliou ao DEM (na época, PFL) porque de outro jeito não chegaria ao Planalto. Mais discreto do que o PMDB, o Democratas prefere ser poderoso na esfera legislativa para ter influência... não se aventura a vôos maiores.

Se a lista levar os partidos a um conteúdo programático mais consistente, será bem-vinda. Mas creio que eles já deveriam possuir tal maturidade.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Um Fenômeno diante de mim

O tempo... fez a tempestade molhar as ruas de São Paulo. Que coisa! Aquela manhã não merecia isso. Mas, de certa forma, fazia jus ao espírito deste que nasceu pra ser protagonista: Ronaldo. Mais que Fenômeno, sobrenatural.

Fiz tudo isso por amor ao futebol. Se tivesse 10% a menos desse amor, não faria

O tempo... regrediu à França de tanto pesadelo. Tivera um piripaque e não se lembrara de nada. Estranho, Leonardo lhe dissera que havia coisas mais importantes do que uma final de Copa. Família, por exemplo. "Que é isso? Tá maluco?", pensou. Aí, um médico abrira o jogo: convulsão. Seu estado dependia do que os exames acusariam. Quis fazê-los imediatamente. Ao constatar nada, pediu pra jogar. Perdeu!

"Fosse em qualquer outro lugar do mundo, eu seria considerado um herói. Mas aqui no Brasil, fui chamado de amarelão."

Mas algo pior estava para se apresentar. Avançamos à secular Roma de fins do século. O mundo voltava-se ao centro do estádio olímpico para ver a dor daquele guerreiro. Em plena final de copa nacional. A Lazio vencia por 2 a 1. Aos 12 minutos do segundo tempo, ele daria fim a cinco meses de estaleiro. Havia rompido o tendão patelar do joelho direito numa longínqua contenda contra o Lecce. Maldito buraco. Aí, entrou no lugar de Mutu. Quando diante de Fernando Couto ensaiava a valsa fatal que lhe era peculiar, o mesmo joelho trair-lhe-ia mais uma vez. Dor e desespero percorreram o planeta, e ecoaram na alma dos amantes do futebol. Era o fim!

Não era! Vestiu-se de luta e foi à forra contra a vida. De ar durão, um certo Felipão, intransigente como só, contrariou o senso comum e vaticinou o destino daquela seleção desbravaora: "Ronaldo Nazário".

E ele não desapontara o comandante: só não fizera gol nas quartas de final. Às vésperas da decisão, Ronaldo estava sorridente. Bem diferente de quatro anos antes. Alívio! De um jogo duro, nascera uma redenção. A grande muralha alemã deixou-a escapar... e o erro lhe fora fatal. Aí, Kleberson avança pela direita, muda para a diagonal e cruza. Rivaldo faz o corta-luz e Ronaldo ajeita, bate... e sacramenta. Venceu!
"Foram os gols mais importantes da minha carreira"

Voltamos ao presente. Ao som de Marcelo D2, o Ronaldo vestia a simplicidade que não faz jus à trajetória do Fenômeno. Camisa azul, calça preta e tênis All Star. A TV engana, amigo. O cara não tá gordo, não. Só um pouco acima do peso. Cercado por pesos pesados do jornalismo, abusou de sinceridade e não fugiu sequer às perguntas mais incisivas - a pobre Mônica Bérgamo fora pelo público bastante incompreendida. Falou de temas pesados, como o escândalo do travesti, e recebeu ovações nada lisonjeiras da plateia.

Como já fizera num "Bem Amigos", o Fenômeno falou da Copa de 2006. Criticou a má preparação e o constante assédio de torcedores brasileiros e estrangeiros. "O atleta precisa de tranquilidade para desenvolver o seu futebol. E a gente não se sentiu protegido. Havia transmissão ao vivo de sessões de alongamento. Um absurdo." E bateu forte em Ricardo Teixeira, que cortara relações com ele de maneira unilateral depois da derrota. Chamou-0 de "duplo caráter".

O tempo impõe nova viagem. Vemos o guerreiro então sofrera nova queda. Já vestia a camisa do Milan quando nova lesão no joelho o punha a nocaute. Às cinzas mais uma vez. Do lado de cá, outro gigante, também às cinzas, recolhia os cacos de uma queda anunciada, e começava a se levantar. Eis que as eternas aves sagradas se unem. E formam um conjunto imbatível. Campeão!

Como esta é uma relação ímpar, fica pra um próximo post.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Expansão... parece que é pra valer

Ainda não tinha muito por que escrever por aqui... mas um fato um tanto corriqueiro merece algum destaque.

Dia desses, fui resolver um problema para o meu irmão na Paulista. Fui de ônibus. E resolvi voltar de metrô.

Diante de tanta propaganda do programa de expansão da malha ferroviária metropolitana pelo governo, eis que sou surpreendido por um desses novos trens. Mais precisamente, o terceiro

A diferença para os antigos é colossal. Apesar de cheio, a forma hexagonal de seus vagões mostrou-se mais espaçosa. O fundo verde pareceu mostrar que o trem era uma exclusividade da linha que liga a Vila Madalena ao Alto do Ipiranga.

O som que anuncia a próxima estação é mais audível, e aquele tradicional marcador de estações faz uma espécie de "coro" com uma luz piscando na estação correspondente.

Parece que a expansão está mesmo sendo pra valer. Vamos ver!

domingo, 12 de abril de 2009

Passageiro?

Já li por aí que a nossa vida é uma viagem de trem. Nós os comandamos, e os passageiros são quem faz parte da história de nossa vida. Seja para descer na próxima estação ou para ir até o fim da jornada.

Às vezes, alguém está sentado lá no fundo de um vagão por tanto tempo. Invisível.

Gastamos nossos trilhos em expulsar passageiros, mudar de estrada e descer montanhas que nos esquecemos da paisagem. Dentro e fora.

Agora, pode ser a estação de parada deste alguém. E talvez os quiséssemos por muito mais tempo.

Passamos tanto tempo inseguros que, quando a coragem vem, pode ser tarde demais.

Ele pode descer, mas o trem para no afã de tentar trazê-lo de volta.

domingo, 5 de abril de 2009

Rivais. E só rivais.

Em um país futebolístico cada vez mais segregado por muros ou massacrado por porcentagens, há lampejos que nos levam a acreditar em algo melhor. Uma delas veio do sítio do Grêmio, que prestou uma bela homenagem ao centenário do rival. Aí vai o texto.

Ao Sport Club Internacional.

Apesar dos 105 anos bem vividos, temos boa memória. E da mesma forma que fomos homenageados naquele 15 de setembro de 2003, aqui estamos para mostrar nossa admiração e respeito por tudo que conseguiste até hoje.

Mas antes de qualquer coisa, vamos contar um pouco dessa história.

Que nos desculpem os modestos, mas poucos podem contar tão bem essa trajetória quanto a gente. Ou esquecem que, naquele 4 de abril de 1909, nós já estávamos por aí, jogando bola?
E o mais incrível: isso não intimidou aqueles novatos que logo nos desafiavam para um "match". Não dá pra dizer foi o mais difícil dos jogos. Mas saímos de campo certos de que tamanha audácia haveria de nortear um futuro promissor.

Dito e feito.

Com o passar do tempo, foi ficando claro que nossos caminhos sempre se cruzariam. Nosso destino eternizou o fato de que teus astros cintilam num céu sempre azul.

E assim seguimos, na eterna busca de superar um ao outro. Depois da Baixada, os Eucaliptos. Daí veio o Olímpico, e então o Beira-Rio. Se aquela camisa 5 nos incomodou na década de 1970, a nossa camisa 7 apavorou na década seguinte.

Aliás, nada é mais bonito no futebol do que essa competição sadia, essa rivalidade. Porque gente como Tarciso, Eurico Lara, Airton Ferreira da Silva, Danrlei, entre tantos outros, gente que nunca vestiu vermelho, também ajudou e segue ajudando a escrever a história gloriosa do Sport Club Internacional.

E isso, podem ter certeza, dá um baita orgulho.

A carta dá um sopro de esperança nas relações entre os clubes. Sou corintianamente apaixonado pelo meu Timão, mas um dos meus grandes amigos é são-paulino, assim como meu irmão é e minha avó foi. Outra pessoa com quem trabalhei por dois anos e de quem gosto muito também é tricolor. Hoje, ela relaxou demais (rs). Dois dos jornalistas esportivos que mais admiro são palmeirenses. E um dos textos mais inspirados que conheço - e que tive o enorme prazer de ajudar numa entrevista para um programa - é santista.

Aliás, o blog dele está aí, no "Aqui também é legal".

Um dos exemplos de esportividade que mais me emocionaram foi uma manifestação de solidariedade vinda do Rio. Quando o Corinthians foi rebaixado, em 2007, quase todos os rivais, tripudiaram. Principalmente na figura de seus torcedores. Ok, tiração de sarro é a coisa mais normal desse mundo futebolístico. Mas houve pelo menos um excesso: uma celebridade são-paulina, numa atitude absolutamente desprezível, festejou como se tivesse ganho uma corrida. E insultou corintianos admiradores seus. Até mesmo Kaká ficou feliz com a suprema derrota corintiana, mas foi mais contido.

Bom, vamos voltar ao foco... ocorre que, enquanto todos espezinhavam, um "companheiro de armas" resolveu prestar solidariedade: o Flamengo, tão parecido com o Corinthians no gigantismo e na emoção de sua torcida e no tamanho do ódio que desperta em rivais do Brasil inteiro. Pareceu entender melhor do que ninguém tamanha tristeza sentida em tantos alvinegros0. Este mesmo rubro-negro o saudou quando da volta à elite. Há quem acredite em média de quem se aliou para cobrar mais cotas de tv. Pode parecer ingênuo, mas eu acredito na sinceridade das homenagens.

É preciso que exemplos assim se propaguem. Que Corinthians e Palmeiras, que juntos fazem um dos maiores clássicos do mundo, sejam oponentes ferrenhos... apenas dentro do campo. A utopia de ver mosqueteiros e palestrinos andando na mesma calçada insiste em pulsar em mim como esperança.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A menina dos olhos

E, em meio a Mozart, desapareceu.

No intervalo, percorri toda a sala em busca de uma pista. Aquela antiga estação ferroviária respirava ares de outrora. Abraçava a Estrada de Ferro Sorocabana, mas nascera tarde: na São Paulo emergente dos anos 30, o transporte ferroviário começava a perder espaço para os carros. Eu me misturava no meio daqueles senhores e senhoras já amareladas pelo tempo. No rufar da trobeta que anunciava o reinício do concerto, eu retornava ao presente. Acho que não a verei mais.

Desembarquei na Luz às oito e quinze, pronto para uma nova transcendência. Como da última vez, peguei as vias de acesso aos trens. Ali, tudo virava um labirinto Francisco Morato, Guaianazes. Desci no local que indicava o Museu da Língua Portuguesa. Saí no encontro da Rua Mauá com a Avenida Cásper Líbero. E o Largo General Osório trazia de volta peças do meu passado. Meu pai trabalhou por muitos anos no posto de saúde da Prates. Na época, era a sede do antigo INAMPS. Quantas vezes, menino, me encontrei com ele para almoçarmos nos restaurantes do Bom Retiro. O bairro tem valor também por outro motivo: em 1910, sob a luz de um lampião, surgiria um certo alvinegro.

Ao descortinar o Julio Prestes, a degradação e a modernidade andavam lado a lado. Homens da rua dormiam sob o luar do edifício revitalizado. A entrada se concentrou em um único lugar: ao lado do estacionamento, que dá de frente para a Duque de Caxias. Foi tão confuso que quase invadi o espaço destinado aos músicos. Quando me encontrei, consegui entrar na sala. Vi um número no ingresso, mas não batia com a identidade das cadeiras. E as trombetas ressoaram.

Os músicos começavam a tomar posição. Ela estava postada ao lado da porta. Fui perguntar se havia lugares. "Não. É livre. Pode sentar em qualquer lugar." O spalla já recebia a sua cota de aplausos. O maestro saudava os músicos e o público.

Eu mal prestava atenção àquele ritual. Cada uma daquelas palavras soavam em mim como melodia. Pulsei. Perdi o chão. Tremi. Tanta doçura concentrada exalava até mesmo daqueles olhos oblíquos. Ah, Capitu. Estavas lá, não é? Pareceu que vieste direto do Engenho Velho, e Bento a dissecava com todo aquele ciúme. Sinto, cigana. Você não chega aos pés dela.

Cada passo da minha respiração ainda tentava dissolver aquela sensação. Era ao mesmo tempo inebriante e perturbadora. Tive medo. Como deveria reagir àquilo tudo? Era um Frazier recém golpeado por Ali. Ainda assim, tomei a coragem de saair das cordas. Tudo o que se seguiu deve ter durado uns trinta segundos, mas pareceu uma eternidade. E então encarei aqueles olhos. Ela teve o disparate de sorrir. Joe foi a nocaute definitivamente. Falei do clima e iria perguntar o seu nome, mas outros convidados requisitavam seus serviços.

A maravilhosa sinfonia osespiana traduziu toda aquela cruzada. Encantei, como sempre, mas não transcendi como da outra vez. Tudo parecia fazer pouco sentido. Eu só pensava naqueles olhos. Ela estava lá, sentada atrás da plateia. E, em meio a Mozart, desapareceu. No intervalo, percorri aquele saguão em busca de uma pista. Ah, aqueles olhos... Andei tanto que cheguei à livraria. Não a encontrei. Terá sido uma abdução? Uma volta no tempo? Aqueles senhores e senhoras amarelados pelo tempo misturavam-se aos seres de agora.

Soou a trombeta, e o presente se impôs. Só me restou torcer para que Tchaikovski a trouxesse de volta, mas nem mesmo ele pôde me ajudar. A deusa retornara ao seu Olimpo. E tudo o que ficou foi essência. Acho que jamais a verei novamente.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vendo e revendo "Tropa de Elite"

Depois de assistir a uma excelente produção nacional no cinema, resolvi encarar todas as reprises do Telecine. Definitivamente, Tropa de Elite entrou para o hall dos meus filmes favoritos.

Prestes a ser pai pela primeira vez, o Capitão Nascimento se vê enfastiado do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Rio de Janeiro. Mas ele não pode simplesmente deixar o posto: precisa colocar alguém em seu lugar. "E ele precisa fazer o trabalho do jeito que eu faço". É numa missão no Morro do Turano que sua vida se cruza com a dos "aspiras" Neto e Mathias.

O interessante aqui é que Nascimento se duplica: narra e vive a história. O narrador não chega a ter poder sobre o desenrolar da trama, mas é espectador privilegiado dos fatos. Ele expõe os podres da PM convencional, irrita-se com os cúmplices do tráfico - a impressão que se tem é que ele os acha piores do que os próprios traficantes - e perde a paciência com o que considera uma displicência de Mathias: conciliar a rotina na PM com a faculdade de Direito. Nada disso está ao acesso do Nascimento que está lá embaixo.

Com a câmera propositalmente trêmula e uma trilha sonora cortante, "Tropa" levanta algumas bandeiras. Desmistifica o bandido, a ala podre da PM e os usuários de drogas. Baiano, o antagonista, tem lá os seus rasgos de humanidade, mas sua natureza é pautada pela crueldade. O sistema policial dito "convencional" deixa poucas brechas para alguma honestidade. Os usuários de drogas não são pobres doentes, mas mercado consumidor do crime. E mesmo o exigente Bope tem lá os seus pecados: não se furta a recorrer à tortura para alcançar os seus objetivos - mesmo fazendo clara distinção moral com os homens de azul.

A urgência em arranjar um substituto faz de Nascimento um homem em conflito. Mesmo "bope" até os ossos, o Capitão se vê confrontado com sentimentos como remorso e admiração - sua preferência por Neto é escancarada. Este tem entusiasmo, mas peca pela excessiva impulsividade. É a personalidade do Mathias que passa pela transformação mais radical. A paixão por Maria, o elemento romântico, mais do que rejeitada, torna-se incompatível com os objetivos da história. É neste ponto que a realidade mostra a sua feição mais crua.

As interpretações são também um ponto forte de "Tropa". Wagner Moura é o "nome do jogo", como tradutor fiel da pulsação de Nascimento. Mas André Ramiro, é uma grata surpresa, ao dar conta do complexo Mathias. Caio Junqueira (Neto), Fábio Lago (Baiano) e Milhem Cortaz, como o corrupto Fábio, também rendem boas atuações. Fernanda Machado poderia ser uma Maria mais sutil, mas não compromete.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um ano de Bárbara

Há pouco mais de um ano, a minha vida apresentou uma reviravolta: nascia a pequena Bárbara.

Vinda de um reino de luz, a princesinha chegou para estabelecer uma nova vida a todos os que a cercam.

Entre choros e gritos, ela vem aprendendo manhas para conseguir o que quer, mas, em troca, encanta pela esperteza. Aprendeu a se despedir, a dar sustos e "enlouquecer" quando dizemos que, no mundo, "só tem tantã".

É... ela já tem um aninho. E no último domingo, celebramos esta vitória. Porque a caminhada dos seus pais não foi nada fácil.

Que esta data se repita por muitos e muitos anos.

quarta-feira, 11 de março de 2009

A Tom foi Maior em 2009

Esquecido, o povo que tanto sofreu foge da dor. Tanto sofrimento físico já não importa mais, de tão anestesiado. A ferida aberta n'alma é que mais mortifica. Mas latente mesmo é o sofrimento da mãe que fica, ao ver a foto do filho que vai. Todo aquele sentimento rasgou o meu espírito como lança. E chorei em soluço como criança. Como não fazia havia 15 anos.

Chega de opressão. O pelúdio de uma história de redenção. O povo que tanto sofreu há de renascer. A Angola devastada pela guerra aos poucos se transforma. Edifícios em trevas anunciam uma história arrebatadora. Heróis de tempos opostos como Nzinga, a rainha guerreira de Ndongo, e Agostinho Neto, o primeiro presidente depois da independência, reconstróem uma nação em epopéia.

Não se esquece de outros tempos bicudos em que, entre correntes e lamentos, Angola varou o Atlântico e, mesmo sob grilhões, os angolas não foram esquecidos pelo deus Zambi. Então, fizeram do Brasil negro o seu gueto. O filho da terra, então, desbrava a terra de seus ancestrais e vira embaixador dos dois lados do mar.

Martinho José é o final apoteótico. Mais do que o filho que leva a sabedoria africana ao lugar que o concebeu, ele é parte da história desta nação em vermelho e amarelo. Pois a sua história em Tom Maior começa nos versos de um poema seu. Que, coincidência ou não, fala do surgimento de uma vida.

Os juízes da festa foram implacáveis: um desonroso décimo primeiro lugar. Tem nada não. O que fica de verdade é o legado esculpido no coração. E isso, Tom Maior, ninguém tira de você. Muito obrigado!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Amor ou amizade: comédia e romantismo na medida certa

Assisti ontem no Telecine a "Amor ou Amizade".

Ryan e Jennifeer eram colegas de colegial que, por um golpe do destino, vão parar na mesma universidade. As carreiras que escolheram diz muito sobre as suas personalidades. Ele, planificado como um engenheiro civil. Ela, estudante de latim, prefere se deixar levar pelo mar da vida. Mas a amizade nascida durante o curso universitário foi uma peça que nenhum dos dois esperava pregada.

A diferença entre os traços do ser faz com que um seja complemento do outro. O metódico Ryan não entende como Jen pode não ter planos depois de uma provbável pós-graduação na Itália. Ela tenta quebrar o modo literal demais que ele tem de encarar a vida.

Só que, aos poucos, a peça do destino começa a ganhar novos contornos. No clímax da trama, os papéis começam a se inverter. Tal transformação tem a sutileza de uma hecatombe totalmente desprovida de meio termo. A partir de então, a relação dos dois fica de frente para uma bifurcação: ou deslancha, ou desmancha.

"Amor ou Amizade" é um filme desapegado de qualquer complexidade psicológica. Peca pelas atuações um tanto exageradas dos coadjuvantes Jason Biggs e Amanda Detmer, como os amalucados Hunter e Amy. Mas tem diálogos inteligentes e consegue ser comédia sem escracho e romântica sem ser pegajosa. Os protagonistas Freddie Prinze Jr. e a gracinha Claire Forlani são mesmo a alma do filme, com boas atuações. Ele se destaca, por extrair mais de sua personagem. Ela faz uma apresentação contida e sem meneios, mas é um pouco mais convencional.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guerra dos sexos?

Na última segunda-feira, li no Folhateen, o encarte da Folha dedicado aos jovens, uma matéria entitulada "Os homens 'são assim'".

Eis aí a matéria:

A COMPLACÊNCIA da humanidade com os homens é uma coisa realmente irritante.

Com a revolução sexual, queima de sutiãs, pílula, luta pelo sufrágio universal etc., a mulher mudou seu lugar no mundo. Trabalhamos, não precisamos depender dos homens para sobreviver, temos filhos se quisermos e usamos calça. Parece espantoso, mas nem sempre foi assim. Claro que essas conquistas femininas também têm seu lado negativo. Trabalhamos demais, entramos no drama de ter ou não filhos, fazemos jornada quíntupla de trabalho e ainda lavamos mais a louça de casa do que os homens.

Contradições da vida. O mundo sempre em mudança. Esse tipo de coisa. Não ficamos nos lamuriando por aí. Lamúria, às vezes, é importante. Mas, como rotina, é bem chata. Sabemos que temos que ir à luta, que nem tudo é perfeito, que não existe mundo ideal e por aí vai. Por isso, todos os dias colocamos os óculos escuros e, com ou sem lágrimas, vamos trabalhar e nos divertir.

Os homens, por sua vez, muitas vezes se sentem mais por fora do que umbigo de mulata. Não conseguem se adaptar aos novos tempos, têm draminhas existenciais que são reflexo do mundo (ainda) machista em que vivemos, trocam os pés pelas mãos. E esse é o ponto: em vez de o comportamento masculino ser criticado, todo mundo entende que o homem se sinta perdido. "Ah, coitados, né, eles não sabem mais o que fazer." E perdoa. E sobra para quem? Para a mulher, que é OBRIGADA a entender e aceitar um comportamento "vintage" do alheio.
Claro que a humanidade não tem a mesma complacência com o lado de cá. Mulheres ganharam, com o tempo, fama de sem noção, histéricas e pegajosas. Se elas agem de um jeito bizarro porque realmente o mundo é muito louco -e, logo, às vezes as moças também surtam-, são tratadas como... doidas e malucas.Enquanto escrevemos esta coluna, muitos homens, coitados, estão perdidos. E muitas mulheres estão sendo chamadas de malucas surtadas. E depois perguntam se a gente ainda tem motivos para ser um pouco feminista...

O texto é de uma estupidez pra lá de arrogante - como costuma ser a maioria das feministas. Esquece estrategicamente de que o homem também sofre pressões e opressões.

A tal humanidade que elas dizem ser tão complacente com o sexo masculino não perdoa quando estes falham na sua missão de prover a família. Deve sempre ser bem-sucedido e másculo. Se chorar, imagina, é um "fraco".
Num mundo em que os divórcios são frequentes, o direito tende a deixar os filhos sempre, ou quase sempre... com a mulher. Além do mais, trair é da natureza... do homem. A mulher, coitada, é sempre a mártir quando o canalha do seu marido pula a cerca. Mas ela também pula. E ninguém sabe. Se ela sofre nas mãos de um cafajeste, todos os demais espécimes do gênero também passam a ser. Do lado de cá, tais generalizações simplesmente não existem.
Além disso, é natural uma posição defensiva acerca das mudanças de rumo da sociedade. Afinal, não se sabe exatamente que tipo de homem ela quer. Num tempo, elas reclamam da brutalidade dos alfa, e o metrossexual ganha força. No outro, que não demora muito a acontecer, este é visto com reserva. Afinal, "eu quero um HOMEM". Aí, o alfa volta a ser o favorito.

Reconheço a importância das lutas femininas, que continuam. Elas continuam ganhando menos e ainda são extremamente maltratadas em várias culturas. Mas a "guerra dos sexos" declarada via de regra por elas não é uma postura saudável.

Diana

Ensolarada, a Fradique luzia movimentada. Chegara cedo para a entrevista. Estava tão surpreso que nem se lembrara de ter mandado o currículo. Uma oportunidade que há muito ansiava. Mas, a cada suspiro, queria expulsar o nervosismo. Em vão. Naquela sala pouco ampla, mas muito clara, contemplava um burburinho de luzes, câmeras e maquiagens. Os flashes salpicavam o ambiente. Ensaio fotográfico.

No intervalo, a modelo sentara a seu lado para descansar. Usava saia rendada e camiseta preta. Sua beleza não se contentava com o que se via de fora. Algo irradiava sabe-se lá de onde. "Veio falar com o homem?" Assentiu. "Boa sorte!"

A bela surpreendera-o. Não era comum alguém com tamanha exuberância irradiar simpatia. Aquela adrenalina do começo sumiu por completo, como que por encanto. A conversa com o homem, dono da empresa, fluiu mais calma. No fim das contas, não era bem aquilo o que planejava, mas topou o negócio. Começaria no dia seguinte.

Assim conheceu Diana, a moça que parecia esculturada em outro mundo. Não pela formosura do corpo, que não chegava a ser gigantesca, mas pelo conjunto que formava com a virtuosidade que transbordava do seu espírito. A princípio, encantou-se de paixão. Quis fazer-lhe gracejos, como dar flores e chocolates. Bobagem! Ela já tinha alguém. Sonho distante, mas naquele coração não entraria pela porta da frente.

De tão infantil, a paixão logo escorreu pelo ralo do inconsciente. Mas o amor ressurgiu de maneira fraternal. A admiração vinha não só daquela combinação de belezas que ela possuía, mas também de talento e impetuosidade de se jogar nas aventuras mais arriscadas. A ele sobrava um, mas faltava boa dose da outra. Tal reverência fazia parte de uma pequena reforma de persona que queria fazer. Também sabia ter dela algum afeto; só não sabia quanto. Não acreditava muito nessa história de incondicionalidade; achava que as pessoas tinham o direito de querer ser amadas.

Certo dia, indicado por ela, ganhou nova função: cobriria as suas folgas. Naquele momento, a amizade tornara-se mais intensa de parte a parte. No serviço, começou claudicante, mas aos poucos foi se habituando. Inversamente proporcional era a dificuldade de lidar com o seu chefe direto. Uma vez, o facínora achou que tinha o direito de vociferar contra ele na frente dos outros. Noutra, criticava-o pelas costas. O sujeito era de lua: até que não era mau, mas alternava bom humor com estrelismo.

Diana já não mais alimentava o tal amor distante. Apesar de tão linda, esse tal cupido tinha com ela uma relação de conflito. "Ninguém quer namorar comigo.", disse certa vez. Ele discordou com uma mistura de ironia e verdade: "Bobagem! A fila de pretendentes vai até a Doutor Arnaldo". É... Alguma coisa os dois tinham em comum.

Mas a relação não se via livre de desapontamentos. Dia desses, ele quis comemorar o aniversário, mas foi deixado na mão pelos convidados. Diana disse que o primo também comemoraria o seu no mesmo dia. Pensou que ela poderia ter dado uma passada no seu. E não era a primeira vez que fizera isso. Via a balança de sentimentos pender contra si, mas perdoou.

No fim do ano, deixou a empresa, mas manteve os contatos com ela e os demais colegas. Aí, soube pelo Cláudio que lhe morrera a irmã. Sentiu-se na obrigação de confortá-la. Não fora aos funerais, mas comprou uma flor e escreveu-lhe uma carta. Nela, dizia que, mesmo sabendo da necessidade que a vida impunha de encarar feridas, lamentava não poder sofrer por ela. Uns cinco dias depois, foi até lá e concentrou num abraço toda a ternura possível. "Hoje estou um pouco mais forte.", disse. A quem ela tentava enganar? Estava bastante fragilizada e carente. Precisava daquele gesto. Dias depois, disse a ele que a flor se abriu como nunca. "Minha mãe me disse que era fruto do carinho com que ela foi dada."

Mas a tal balança de sentimentos mais uma vez entrou em ação contra ele. Recebera um par de convites para um show. Como era um de seus artistas favoritos, não abriria mão de estar presente. Mas saía pouco, vivia por muitas vezes solitário e não era um popular. Carecia, e muito, de boas amizades. Então, resolveu tomar coragem para convidá-la, porque não suportava a idéia de ir sozinho. Não fraquejou, mas gaguejou. E mal pôde formular as palavras. Perspicaz como nunca, Diana concluiu. "Você quer que eu vá com você? Ah, tudo bem."

Suspirou de alívio e felicidade. Não, a paixão de outrora não renascera. Mas o amor, sentimento universal, é muito maior do que imagina a superficial sabedoria humana. Amava-a, sim; mas não queria casar-se com ela. Até porque, imaginava, tinha poucas chances de dar certo, já que as personalidades não se pareciam tanto assim.

Preparou-se para o evento como nunca. Cortou o cabelo, barbeou-se e escolheu a melhor roupa. Mas toda a sensação de júbilo de dois dias antes escorrera para junto da tal paixão um dia sentida por ela. Diana mandou um recado pelo celular dizendo que, por motivos de força maior, não poderia ir. Não acreditou no que acabara de ler, e ligou para ela. Diana pediu mil desculpas, mas confirmou: teria de levar o pai a uma consulta médica, e não voltaria a tempo.

Não tinha certeza de nada, mas sentiu naquilo uma desculpa. Teria aceitado o convite por medo de magoar, e tentou arrumar uma forma de desfazê-lo. Talvez achasse não ter feito tão mal. Ocorre que, quando ela disse o “sim”, fez nascer nele uma poderosa sensação de felicidade e esperança. A vida parecia fazer sentido; e, ao declinar, fez tudo isso desmoronar. Destruiu-o, e a mágoa rasgava-o como alma em frangalhos. Teria sido menos doloroso se ela recusasse logo de cara.

Mais uma vez, teve de se contentar com a solidão. A apresentação fora sublime, mas incompleta. O que já foi desapontamento virou uma grande decepção. A tal balança de sentimentos pesava definitivamente contra ele. Amava-a demais, e era porcamente correspondido. Quase achou que não significava nada para Diana. Resolveu não mais alimentar tal sentimento; continuava gostando dela, mas a admiração gigantesca de outrora jamais seria a mesma dali pra frente.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Céu e Terra

Na penumbra dali
O teu brilho eu vi
De lá, onde o Divino descansou
Pra cá, em que o homem moldou

Centelha da Obra celeste
Cegou o agreste
de sul a leste
Ficou sem norte
Alheio à sorte
E à lucidez

Intenso, perdi o chão
Urgia imenso, desmanchei
Mesclei-me ao ar
Estanquei

Ai de quem fica à mercê de ti

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aniversário

Ontem à noite compareci à comemoração do aniversário de um amigo recém-feito.


Cadu Silva, por força de cruéis circunstâncias agora um ex-colega de serviço, completou 33 anos e celebrou a passagem no bar Nostravamos. Um lugar bastante animado e, na ocasião, com música de boa qualidade, formada por conhecidos do aniversariante. O único inconveniente foi a falta de uma ventilação adequada, que deixou o ambiente bastante abafado.

A madrugada fora atravessada a base de muito rock, acompanhado de gente simpática e mulheres muito bonitas. Ao final, a atitude infeliz de um funcionário ameaçou quebrar a harmonia. Ainda bem que os donos do estabelecimento agiram rápido e apagaram o incêndio.

Ainda bem. Cadu é um cara muito bacana e não merecia que a sua festa fosse manchada por um idiota qualquer.

Parabéns, amigo!