Adormecida, a Barra silenciava. Sirlei Dias de Carvalho saía do trabalho no descerrar da madrugada. Teria de encarar uma epopéia até um posto de saúde em Duque de Caxias, onde faria uma consulta. A brisa do mar a impediu de perceber o perigo. Ataque sem perdão. Socos, pontapés e ofensas. Só não apanhou mais porque protegeu o rosto. Bando de pobres delinquentes? Não! Meninos de berço.
Dez anos antes, um ponto de ônibus foi palco de cena ainda mais deprimente. Um índio chamado Galdino. O pataxó ardeu em chamas graças às peripécias de cinco mauricinhos filhos de juízes, que resolveram brincar com fogo. A juíza Sandra de Santis mudou imputou ao crime um delito menor: lesão corporal seguida de morte. Como se os rapazes não soubessem que a travessura poderia se tornar fatal. Um atentado à inteligência alheia. Não deu certo. Homicídio triplamente qualificado e motivo torpe. Condenados a 14 anos de prisão, três deles já deixaram a prisão.
Tais escândalos evidenciam a nossa chaga preconceituosa. Chocamo-nos porque esse tipo de crime é coisa de pobre. O irônico é que tamanha discriminação pode estar embutida nos seus motivos. Os tais "riquinhos" enxergam pobres e não-brancos (Sirlei é negra) como sub-raça. Ou brinquedinhos. Prova disso é que os agressores alegaram ter confundido a doméstica com uma prostituta da região. Como se as prostitutas seguissem um perfil pré-definido. E como se elas sempre merecessem apanhar.
Órgãos da imprensa interpretam que a sociedade brasileira acordou da catarse. Não consideram mais a violência algo corriqueira. É o que espera a minha face otimista.
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