segunda-feira, 23 de julho de 2007

Vale a pena ler de novo

Vamos à reedição de mais um texto do blog antigo

_______

11 anos sem Jairo

Já era noite nos céus de São Sebastião. Longe dos caiçaras de Juquehy, ele me mostrava a sua casa na praia. Uma construção retangular, de madeira gasta e tranqueiras no chão.A desordem pode explicar em parte o que foi a vida de Jairo. Ele tinha ojeriza a regras. Dinheiro era pra ser curtido. A vida, pra ser degustada em altas doses. No filho Pedro Guilherme, um retrato físico fiel. E o grande amor da sua vida.O passado relembrava, mas não lhe dava culto. O futuro, desprezava. Enfim, transpirava o hoje. O agora em pessoa.Arquiteto intuitivo e genial, não chegou a cursar uma faculdade. Mas planejou aquela casa genial de Ibiúna. Cidadão sem raízes, morou em lugares tão diferentes quanto Recife, Belo Horizonte e Paris. Pulsante alma preto-e-branca. Virava e mexia, ia assistir ao seu Corinthians. Sofreu com a perda do tri, em 84, para o Santos. Cinco anos depois, levava o garoto, este que vos fala para assistir a um embate contra o Flamengo, ainda de Zico e Junior, no Pacaembu. Era preciso reverter a derrota por 2 a 0 sofrida no Maracanã. Bom tempo em que não havia ainda arquibancada especial. Era tudo uma coisa só. "Vamos para o lado que o Corinthians ataca", disse.Das amarelas viram os dois o Neto abrir o placar num gol olímpico. Mas o Galinho tinha de complicar as coisas... empatou de cabeça cinco minutos depois.No segundo tempo, os dois foram para a laranja. Bem ao lado da torcida dos caras. E o Curingão resolveu matar o jogo. Dida, Eduardo e Neto de novo. 4 a 1. Bastava para seguir em frente. Junior acabou com a festa. Bateu na saída de Ronaldo e sacramentou a eliminação da Copa do Brasil.Seria uma injustiça que, de tantas aventuras futebolísticas, uma não terminasse em triunfo. Os garotos dos juniores disputavam com a Portuguesa uma vaga na final da Copa São Paulo. A campanha fora brilhante. Por isso, o velho Paulo Machado estava lotado. Mas um jogo decisivo tinha de ter um ingrediente tão caro e ao mesmo tempo ingrato para o corintiano: o sofrimento. Retrancada, a Lusa não deixava o gol sair. O nó da garganta só se liberta às altas horas da prorrogação. Mas, enfim, a vitória chegou.O carnaval também tem lugar cativo nessa história. Ainda que doente, ele estava lá, com aqueles colares característicos dos carnavais. Fomos ao desfile das escolas de samba de 94, com o Anhembi ainda inconcluso. O corintiano e salgueirense confessou com orgulho a paixão por uma verde e branco. "Sou Camisa! É o único verde de que gosto." As egressas do Acesso, Unidos de São Miguel e Primeira da Aclimação desfilaram antes de a noite cair. Mas a Peruche, que cometeu a imprudência de retratar Exu como um demônio, teve de se apresentar sob as águas. A chuva castigou também os folhetos com as letras dos sambas. Para um neófito, era impossível acompanhar o desfile assim.Como se abrisse uma passagem, o aguaceiro deu uma trégua para a Mocidade Alegre. Mas chuviscou para as escolas que vieram depois. Ainda assim, não impediu que a Leandro de Itaquera fizesse o melhor desfile de sua história. Sob as águas, a exaltação ao Rio Tietê. E a Vai-Vai, que falava do fogo, decepcionou. Assim como Rosas de Ouro e Angela Maria. A Sapoti brigou com o presidente da escola e não foi pra avenida. A Roseira, com uma alegoria a menos, não fez uma apresentação a sua própria altura. O Camisa de seu coração e a Nenê de Vila Matilde, foram bem. (Esta, eu tive de ver debaixo do concreto). Mas não memoráveis como outrora.Já sem chuva, a Gaviões da Fiel fez o samba alvorecer. Ousou bater à porta do clube das grandes do carnaval de São Paulo com uma apresentação espetacular. Mas não venceu! Uma absurda nota 6 para a letra do samba deu o título... à Rosas de Ouro.Dois anos depois, a falta de regras cobrou o seu preço. Lá se vão exatos 11 anos que Jairo Benedito da Silva se foi. Levou consigo e ao mesmo tempo deixou toda aquela alegria de viver.

Esse é um momento propício para reviver o texto de um tio.

Já que estou prestes a assumir o posto

Nenhum comentário: